Começou com uma retificação e com um esclarecimento — em nome da verdade e da “transparência”, frisou a ministra Marta Temido — a habitual conferência de imprensa deste sábado na Direção Geral de Saúde.

Do boletim com os dados sobre a evolução da Covid-19 em Portugal constavam dois asteriscos, junto aos números relativos aos totais de casos suspeitos e confirmados de infeção pelo novo coronavírus no País. Um “problema de integração de dados” fez com que, ao longo da semana que passou, tivessem sido duplicados 422 casos de infeção, na região Norte, explicou a ministra da Saúde, adiantando ainda que os boletins publicados ao longo dos últimos dias serão também retificados, a posteriori.

Contas feitas, os 25.351 casos de infeção reportados esta sexta-feira baixaram este sábado para 25.190 — tendo ainda assim sido registados 203 novos casos nas últimas 24 horas, durante as quais morreram 16 pessoas, 14 delas com idade superior a 80 anos. Confuso? A “culpa” é do sistema de extração de dados do SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica), que não integra de forma automática as submissões feitas por laboratórios e médicos e, por isso mesmo, é sujeito semanalmente a controlos de rotina por parte de técnicos da DGS.

“Ontem [sexta-feira], verificou-se que, num conjunto de casos da região Norte, desde 25 de abril, os testes informáticos de verificação encontraram 422 casos duplicados que não eram verdadeiros casos novos e sim problemas de integração. Isto sucedeu porque, quando um caso confirmado laboratorialmente não tem número de utente associado, não porque não o tenha mas porque não é registado, o sistema está parametrizado para verificar se o nome e a data de nascimento correspondem a um caso que já estivesse confirmado. O sistema considerou, por defeito, que eram novos casos e, realizada, esta noite, a verificação, constatou-se que assim não era”, explicou Marta Temido. “Esta correção mostra-nos mais uma vez a necessidade do robustecimento da nossa base tecnológica de suporte ao SINAVE, que tem um conjunto de operações que não são automáticas e, neste caso, levaram a que esta correção fosse necessária. Transmitimos esta correção com o habitual cuidado e transparência, apesar de esta circunstância nos penalizar a todos”, acrescentou ainda a ministra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Máscaras obrigatórias nos jardins de infância a partir dos 6 anos e o reforço do Trace Covid

Depois de confirmar que “vai haver um plano de testagem dos educadores”, a Diretora-Geral de Saúde explicou ainda que todas as crianças acima dos 6 anos vão ser obrigadas, tal como os adultos, à utilização de máscaras, quando nas instalações de creches e jardins de infância. “Obviamente, serão utilizados meios de proteção individual nas crianças acima dos seis anos de idade e de todos os adultos que vão cuidar delas”, resumiu Graça Freitas, referindo ainda que, não obstante a preparação de “um plano específico para cada idade”, é essencial e transversal “o reforço da limpeza de equipamentos e superfícies”.

Graça Freitas anunciou ainda que neste momento, em que o País se prepara para entrar numa nova fase de desconfinamento parcial, haverá “um reforço da monitorização” de infetados e cadeias de infeção que será feito “com recurso não só aos métodos tradicionais (procurar à volta de um caso os seus contactos e isolá-los) mas também com recurso a novas tecnologias”, nomeadamente através da plataforma “Trace Covid”, que “permite seguir os doentes inscritos — os que ligam ao SNS 24 –” e com isso “ajudar as autoridades de saúde e suas equipas a encontrar contactos de doentes”, explicou.

“Vamos continuar a apelar às pessoas que tiveram contacto com um doente que também procurem a linha SNS 24. Ou seja, pedir que se identifiquem voluntariamente dizendo ‘eu estive em contacto com uma pessoa Covid positiva’.”, ressalvou a diretora-geral da Saúde. “Esta será a primeira linha de contacto, a partir daqui, as equipas de saúde pública confirmarão a história epidemiológica e verão se se constitui como verdadeiro contacto e se ele foi de alto, médio ou baixo risco”, a partir daí a pessoa pode ser colocada em confinamento e ser seguida ou de forma ativa (“todos os dias são contactados pelas equipas de saúde pública”) ou passiva “são as pessoas a reportar os casos.”

Perfil dos novos casos: há mais mulheres infetadas

À semelhança do que tinha feito na semana anterior, a ministra da Saúde voltou este sábado a partilhar os resultados de um estudo, feito a partir de uma amostra de 2.369 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, entre 25 e 30 de abril, através do SINAVE. Eis a caracterização dos doentes:

  • A maior parte dos infetados — 1.454 — eram do sexo feminino;
  • 438 tinham mais de 80 anos;
  • Mais de um terço dos novos casos foi registado no distrito Porto (Lisboa e Braga foram os que mais infeções contabilizaram a seguir);
  • 73% dos novos casos eram assintomáticos, sendo que 22% das infeções detetadas eram também assintomáticas;
  • Metade dos novos casos com comorbilidades associadas tinham hipertensão e diabetes;
  • Ainda dentro deste universo de pacientes, um quarto dos doentes tinha doença cardio-cerebro-vascular e outro tanto neoplasias; 34% tinham doença neurológica; 27% deficiência neurológica; e 22% tinham doença pulmonar crónica;
    44% dos casos com pelo menos uma comorbilidade necessitaram de internamento;
  • Foram infetadas 20 grávidas;
  • Um décimo dos doentes internados necessitou de suporte ventilatório;
  • 37% dos infetados foram infetados em lares; 33% nas próprias casas; 15% no trabalho; 7% em contexto social e 6% em instituições ligadas à prestação de cuidados de saúde.