Chegou dez minutos depois da hora marcada ao auditório do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, onde esta terça-feira foi inaugurada uma nova unidade de cuidados intensivos. Sentada entre a autarca de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e o presidente do conselho de administração, António Taveira Gomes, Marta Temido pode falar para uma sala com 160 lugares, onde mais de 70 estavam ocupados.

Apesar de todos os presentes usarem uma máscara cirúrgica, o distanciamento social nem sempre foi respeitado, seja na curta visita à nova ala, seja no exterior, onde Marta Temido, acompanhada por vereadores, médicos, arquitetos e engenheiros, justificou uma das notícias do dia: os contratos negociados pelo ministério da saúde com empresas no valor de 80 milhões de euros por ajuste direto, entre meados de março e o dia 23 de abril.

“Não tenho aqui comigo a informação exata sobre os valores dos contratos, mas o que posso dizer é que durante este período de luta contra a pandemia houve a definição de um regime excecional e transitório para a realização de aquisições, na medida do estreitamento necessário, para garantir equipamentos de proteção individual e alguns outros equipamentos para a satisfação de necessidades essenciais dos portugueses”, começou por justificar a ministra.

Marta Temido assegura que “foi no respeito de todos os princípios gerais do direito de concorrência e de realização de despesas públicas” que foram adquiridos estes equipamentos “para satisfazer necessidades essenciais dos serviços de saúde”.

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Ministério da Saúde compra milhões em proteção individual por ajuste direto

Confrontada sobre o facto de estes mesmos contratos beneficiarem o Secretário de Estado João Paulo Rebelo, a ministra diz não conhecer “exatamente todos os detalhes”, mas admite a possibilidade de uma auditoria. “Naturalmente se houver neste procedimento algo que seja auditável mais tarde, as instâncias próprias fá-lo-ão”, concluindo que neste momento não tem informação suficiente para “responder com rigor”.

A ministra garantiu ainda que os contratos vão figurar no Portal Base “até ao final desta semana”, explicando que “ainda não foi possível colocá-los a todos”. “Não há aqui nenhum motivo para não sermos totalmente transparentes naquilo que compramos, a quem compramos e como compramos.”

Outra das notícias que marcam a atualidade são os 13 hospitais privados que suspenderam os acordos de convenção com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A responsável pela tutela da saúde diz que “se tiverem disponibilidade de para regressar à atividade” poderá “ser útil para respostas mais rápidas, mais de proximidade”, salientando que, mesmo com a suspensão, o SNS “continuou a tratar doentes”.

“Não podemos pensar que vamos deixar uma placa na porta a dizer que voltamos mais tarde, isso não é possível nos nossos serviços de saúde”

Durante o seu discurso no interior do auditório, Marta Temido deixou um alerta relativamente ao futuro da pandemia, dizendo que “os tempos que aí vêm não vão ser mais fáceis, vão ser mais complicados”. “Precisamos que nos reinventar enquanto Serviço Nacional de Saúde e de não perder o orgulho que conseguimos voltar a fazer acordar ao longo destes últimos 60 dias e também a confiança que ganhámos e recuperámos da parte de toda a sociedade.”

Para a ministra da Saúde, é necessário “garantir que não perdemos aquilo que de positivo aprendemos nestes dias mais difíceis” e dá mesmo alguns exemplos, como a manutenção do recurso à prestação de cuidados de saúde por meios não presenciais, o desfasamento de horários de atendimento, incluindo ao fim de semana, ou o agendamento por hora marcada, garantindo que os utentes permanecem nos serviços de saúde apenas e durante o tempo necessário.

“Provavelmente vamos todos perceber que podemos transformar as salas de espera em espaços para outros fins”, adiantou, concluindo que profissionais e hospitais não podem dizer um “até já” nesta fase. “Não podemos pensar que vamos deixar uma placa na porta a dizer que voltamos mais tarde, isso não é possível nos nossos serviços de saúde.”

Uma unidade de cuidados intensivos que é “mais um passo” para a média europeia

A nova unidade do serviço de medicina intensiva do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, tem 11 quartos individuais com pressão negativa e permite, assim, duplicar o número de camas disponíveis para cuidados intensivos, totalizando 21.

Construído num mês, o projeto assinado pelo gabinete de arquitetura Ventures & Partners representa um investimento de 700 mil euros, “verba que foi possível reunir com o apoio de vários mecenas, entre os quais grandes empresas locais, além da Câmara Municipal de Matosinhos”.

Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, cria nova ala para cuidados intensivos com 11 camas. Estará pronta em 20 dias

Depois de a conhecer por dentro, a ministra da Saúde não tem dúvidas que esta é uma “unidade essencial para o SNS”, simbolizando “mais um passo” na capacidade de resposta em medicina intensiva que “esteja em linha com aquilo que é a média da União Europeia”, mais de 11 camas de cuidados intensivos por cada 100 mil habitantes. “Nós ainda não temos [essa média] e estamos investir em melhorar.”

Marta Temido sublinhou o exemplo da região Norte em “responder apropriadamente às necessidades e de transmitir confiança ao resto do país”. “Há que reconhecer a inexcedível energia que reside nestas terras, nestas gentes, naquilo que se canta como a pronuncia do Norte. Há uma capacidade de trabalho a qual é preciso render a justa homenagem.

A ministra garantiu que Portugal tem cerca de 620 camas para cuidados intensivos de adultos gerais, acrescentando que têm chegado ventiladores, mas que ainda “não estão totalmente instalados”.