É o carro vermelho, o fato vermelho, as bandeiras vermelhas. A Mercedes até pode ter conquistado o estatuto de melhor equipa da Fórmula 1 nos últimos anos, a Red Bull até pode ser presença habitual nos pódios e nas batalhas pelas vitórias, mas a Ferrari não deixa de ser a Ferrari. E um piloto de F1 não deixa de querer, um dia, entrar no carro vermelho, vestir o fato vermelho e festejar ao ritmo do ondular das bandeiras vermelhas. E Carlos Sainz pode muito bem ser o próximo piloto a alcançar esse sonho.
Esta terça-feira, a Fórmula 1 acordou com uma notícia em formato bomba que não deixou de ser expectável: Sebastian Vettel, piloto alemão que conquistou quatro Mundiais consecutivos na Red Bull mas que na Ferrari nunca foi além do segundo lugar na classificação geral, vai deixar a scuderia italiana no final de 2020, ou seja, no final da temporada que ainda não começou devido à pandemia. Foi um fim anunciado, entre a ausência de conquistas, a perda de protagonismo para o colega Charles Leclerc e o corte salarial proposto pela Ferrari, mas só agora confirmado. E com a saída de Vettel, abre-se uma porta — ou, neste caso, um volante.
Vettel vai deixar a Ferrari e daí abrem-se duas hipóteses: ou faz uma espécie de ano sabático, sem competir e a explorar opções para o futuro (deixando a F1 sem alemães pela primeira vez desde 1981), ou aceita a provável eventualidade de correr por uma equipa menos competitiva, talvez em troca por troca com o piloto que o vai substituir. E aqui, finalmente, entra Carlos Sainz. O piloto da McLaren é o grande favorito para tomar o lugar de Vettel na Ferrari e a imprensa espanhola diz mesmo que o acordo entre as duas partes está praticamente acertado. Sainz, de 25 anos, seria então o terceiro espanhol da Ferrari, depois de Alfonso de Portago e Fernando Alonso, e vestiria de vermelho já a partir da próxima temporada.
Existem vários motivos para o facto de o jovem espanhol ser o favorito da Ferrari. Para já, Carlos Sainz tem sido o líder de uma nova era da Mclaren: na época passada, no Grande Prémio do Brasil, o terceiro lugar do espanhol foi o primeiro pódio da equipa desde 2014 e o quarto lugar geral em que a franquia ficou no final do ano foi também a melhor classificação dos últimos cinco anos. Com Lando Norris como segundo piloto, Sainz assumiu a experiência de cinco anos na Fórmula 1, tornou a McLaren a equipa mais entusiasmante de seguir logo após as três gigantes e alcançou um sexto lugar na geral que foi o melhor resultado da carreira.
Mais do que isso, Carlos Sainz parece ter pouco do traço de personalidade que muitas vezes arruína relações na Fórmula 1: um ego exacerbado. Um problema que esteve claramente presente na temporada passada na Ferrari, com Vettel a perceber que estava a perder o estatuto de piloto principal para a jovialidade, o carisma e o talento de Leclerc. E um problema que Mattia Binotto, diretor da equipa italiana pouco dado a truques de bastidores, quer evitar a todo o custo. Sainz foi eclipsado por Max Verstappen na Toro Rosso, nunca esteve em pé de igualdade com Daniil Kvyat, era constantemente ignorado ao lado de Hulkenberg na Renault e só no ano passado, emparelhado com o estreante Lando Norris, assumiu um papel de maior protagonismo numa equipa. Ou seja, o espanhol seria a solução perfeita para Charles Leclerc continuar a ser a estrela mas não ter nenhum problema interno a originar dessa inevitabilidade.
Tudo somado e Carlos Sainz parece ser mesmo a escolha preferencial da Ferrari — que além dos bons resultados e da personalidade mais pacata, olha com agrado para a eventualidade de um salário bem mais baixo do que o de Vettel ou mesmo o de Daniel Ricciardo, outra das possibilidades em estudo. A confirmação do piloto espanhol na Ferrari não seria, porém, a primeira alegria do ano para a família Sainz, que no meio de um ano para lá de atípico parece estar a viver uma das melhores fases no que toca à carreira profissional.
Carlos Sainz vence o seu terceiro Dakar, aos 57 anos de idade
Isto porque Carlos Sainz, mas o pai do piloto de Fórmula 1, venceu em janeiro o Dakar pela terceira vez, depois de já ter vencido a prova na categoria de carros em 2010 e em 2018. O piloto de 58 anos, que ao contrário do filho sempre se dedicou aos ralis e não às provas de pista, foi duas vezes campeão do mundo de ralis nos anos 90, é considerado um dos maiores nomes do automobilismo espanhol e encontrou no Dakar, nos últimos 15 anos, a grande fonte de inspiração. Na semana passada, Carlos Sainz Sr. foi mesmo considerado por adeptos e jornalistas o melhor piloto do World Rally Championship de sempre, derrotando o francês Sébastian Loeb, campeão em nove ocasiões.
“Não poderia estar mais feliz e mais orgulhoso por este reconhecimento. Muito obrigada a todos, antes de mais, por me terem colocado em primeiro, e claro, por permitirem que tivesse vencido contra o Sébastien Loeb. Não preciso de vos dizer o quanto admiro o Sébastien e o quanto ele merece ser o melhor de sempre. Dei tudo aos ralis. Foram a minha vida, foram o meu sonho. E hoje, os ralis e toda a família da modalidade estão a dar-me um grande sorriso e um grande reconhecimento”, disse o piloto espanhol, em resposta à vitória na competição lançada pelo WRC.
2020 está a ser um ano estranho, difícil e desafiante para o desporto. O desporto no geral, seja ele num relvado, num court, num pavilhão ou numa pista. Mas também não deixa de ser verdade que para Carlos Sainz, sénior e júnior, 2020 está a ser um ano fora de série. Entre a subida à Ferrari e a terceira vitória no Dakar, a família Sainz vai recordar 2020 por muito mais do que a pandemia.