A diretora-geral da Saúde garantiu esta quinta-feira que o desconfinamento ainda não teve nenhuma influência negativa na curva epidemiológica. Pelo contrário, esta encontra-se dentro do “expectável”, não sendo “diferente da curva dos outros países”. O aumento do número de casos na região de Lisboa, onde o R é agora mais elevado que em outros pontos do país, não se deve igualmente, segundo a responsável, ao levantamento das medidas restritivas.
“Ainda não se refletiu nenhuma influência nessa curva. Tudo indica que os portugueses mantêm as medidas de segurança”, afirmou Graça Freitas ao final da manhã desta quinta-feira, durante a habitual conferência de imprensa na sede da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A diretora-geral da Saúde alertou, no entanto, que é de esperar que “todos os dias surjam” entre 200 a 300 casos, “porque em algumas regiões do nosso pais o vírus ainda circula bastante e porque podem surgir surtos” locais. Mas frisou que “estamos dentro do e normal e do expectável para a evolução da epidemia do nosso pais”. Graça Freitas chamou ainda a atenção para o bom funcionamento do dispositivo assistencial do Serviço Nacional de Saúde, que tem permitido que a curva se mantenha controlada.
“Mas não acabou, vamos continuar a ter casos e vamos ter de continuar a fazer força sobre a mola”, disse ainda.
Relativamente à região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o R é neste momento mais elevado do que a média nacional, a diretora-geral da Saúde também afastou a hipótese de isso se ser o resultado dos primeiros dias de desconfinamento, atribuindo os mais recentes números a alguns surtos que tem sido registados nos arredores da capital, nomeadamente na Azambuja e no Montijo.
“Lisboa e Vale do Tejo tem registado mais casos nos últimos dias, não é muito elevado e teve pequenos surtos que têm alimentado os novos casos. Não parece que reflita uma movimentação especial do desconfinamento. Temos de aguardar, mas parece controlado”, afirmou Graça Freitas, frisando uma vez mais que o R não é o único fator de análise da situação da pandemia no país.
Número de mortos em lares aumenta para 477. Percentagem é inferior à última atualização de 40%
A última atualização feita pelas autoridades de saúde apontava que o número de mortes em lares representava 40% do total de vítimas por Covid-19 em Portugal. Essa percentagem encontra-se esta quinta-feira nos 37%. No que diz respeito às mortes nas várias região, a grande maioria aconteceu em lares no Norte do país (259 mortos), seguindo-se a região Centro (138), Lisboa e Vale do Tejo (75) e Algarve (4). O único morto registado no Alentejo pertence a um lar de idosos.
Visitas a lares só serão retomadas na segunda-feira se tiverem reunidas todas as condições
Com a retoma das visitas na próxima segunda-feira, Graça Freitas recordou que esta é uma “nova normalidade” e que, nesse sentido, as idas aos lares passaram a estar condicionadas às normas das autoridades de saúde. “Estão ser tomadas muitas medidas. Vamos retomar as visitas, mas em segurança, com muitos cuidados, com muitas preocupações”, afirmou, salientando que estas só poderão acontecer se estiverem reunidas todas as condições. Isto dependerá em grande medida da “capacidade de organização dos próprios lares”.
Segundo a diretora-geral da Saúde, há ainda uma outra situação que pode levar ao adiamento das visitas nalguns estabelecimentos e que tem a ver com a questão epidemiológica. “Em lares que ainda estejam com surtos ou com doentes internados com Covid-19 pode a autoridade de saúde não considerar que sejam feitas as visitas.” Tudo dependerá dos “circuitos” e se o lar tem capacidade para separar os utentes doentes dos saudáveis.
Linha SNS 24 está a receber cerca de sete mil chamadas por dia
Existem atualmente 74 mil profissionais de saúde a fazer vigilância clínica através da plataforma Trace Covid, revelou o secretário de Estado da Saúde, António Sales, durante a conferência de imprensa desta quinta-feira. Relativamente à Linha SNS 24, a “porta de entrada do SNS”, esta está a receber em média sete mil chamadas por dia, mantendo-se a tendência para a estabilização das últimas semanas, adiantou também o secretário de Estado.
A linha de aconselhamento psicológico já permitiu o atendimento de 9.500 chamadas desde 1 de abril, adiantou também António Sales. Nesta linha trabalham 64 psicólogos, de acordo com escalas que funcionam 24 horas por dia e sete dias por semana. Estes profissionais receberam formação específica para situações de crise.
O secretário de Estado frisou que o serviço está ao serviço de todos os cidadãos, “que não devem evitar usá-lo” em caso de sentirem ansiedade ou outros sintomas na sequência do confinamento e da pandemia da Covid-19.
Realização de endoscopias e colonoscopias reduziu mais 20%
O secretário de Estado da Saúde revelou ainda que, até dia 8 de maio, o número de endoscopias altas realizadas diminuiu 22% e das colonoscopias 25%, o que é especialmente relevante, uma vez que é “uma área que cruza muito com a área da oncologia”. “Obviamente que vamos fazer um esforço para recuperar todas no mínimo espaço de tempo. Estamos a chamar as pessoas, faço apelo para que as pessoas não tenham medo, há equipamento de segurança e fluxos determinados. É importante que se façam deteções precoces”, apelou o responsável.
Relativamente ao plano para a retoma da atividade regular nas unidades de saúde, Sales disse que está tudo definido no despacho da ministra da Saíde, Marta Temido, publicado no início de maio.
Questionado pela Agência Lusa sobre os dados de um inquérito realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública nos últimos dias, em que 20% dos inquiridos admitiu ter dificuldade no acesso às máscaras por serem demasiado caras, o secretário de Estado da Saúde começou por frisar que “este Governo pondera sempre tudo aquilo que diz respeito as faixas mais vulneráveis da população”, acrescentando de seguida que a informação que tem chegado ao Executivo é a de que tem havido uma mobilização da sociedade civil” e “que estas máscaras têm chegado a toda a população”.
“Aquilo que apelamos é que se mantenha esta mobilização da sociedade civil para que não falte a nenhum português uma máscara”, afirmou António Sales.
Na terça-feira, chegaram a Portugal 4,8 milhões de máscaras e 220 mil zaragatoas. “Este material já está no laboratório militar e será distribuído consoante as necessidades”, afirmou o secretário de Estado da Saúde.