A advertência vem de Andrea Ammon, diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, ECDC na sigla original, órgão que tem sido responsável por orientar vários governos europeus, incluindo o do Reino Unido.

Para a especialista alemã, não há dúvidas de que o velho continente, outrora epicentro mundial da pandemia de Covid-19, irá enfrentar uma nova vaga do surto. E a resposta deve, segundo Ammon, ser acautelada. “A questão é apenas quando virá e quão grande será”, afirmou a diretora da EDDC ao The Guadian.

Olhando para as caraterísticas do vírus, ele anda à nossa volta e circula muito mais do que em janeiro ou fevereiro… Não quero traçar um cenário apocalítico, mas acho que temos de ser realistas. Não é hora para relaxarmos completamente”, referiu ainda.

Sobre eventuais progressos no controlo do surto, Ammon afirmou que entre 85% e 90% da população mundial continua suscetível ao novo coronavírus, o que faz com que os números relativos à imunidade não sejam “assim tão animadores”.

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No início do mês, a responsável por esta agência europeia indicou que toda a Europa havia ultrapassado o pico da pandemia, à exceção da Polónia, onde esse momento ainda era esperado. O anúncio surgiu depois de alguns países começarem a reabrir alguns setores de atividades, caso da Dinamarca e da Áustria, embora a maioria tenha optado por iniciar o desconfinamento já no decorrer do mês de maio.

O distanciamento social é, segundo a especialista, essencial para evitar um novo desastre. Sobre as vítimas mortais que a Covid-19 já provou na União Europeia, mas também no Reino Unido, Noruega, Lichtenstein e Islândia — um total de 158.134 até esta quarta-feira — Andrea Ammon diz que as contagens estão abaixo dos números reais.

Quanto ao próprio centro, a médica garante que apenas um pequeno grupo — menos de dez pessoas — continua a trabalhar na sede, em Estocolmo, com distanciamento e porque é estritamente necessário que alguns dos elementos mantenham esse contacto. “Temos de praticar o que pregamos”, comentou.

Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças aconselhou os governos a reforçar os seus serviços de saúde a 26 de janeiro, altura em que o ritmo da progressão do vírus na China acelerava. A diretora diz agora que os executivos europeus subestimaram o alerta e a rapidez do próprio vírus, o que desembocou em cenários trágicos como o testemunhado na Lombardia, no norte de Itália.

Sublinhámos o facto de os planos de resposta terem de ser atualizados, sobretudo a preparação hospitalar, com o aumento do número de camas e de camas em cuidados intensivos. Todos sabemos que é muito diferente gerir isso em duas semanas ou em dois dias”, concluiu.

O confinamento foi inevitável, mas Ammon acredita que os países deviam ter adotado estas medidas mais cedo. O norte de Itália trouxe o sentimento de urgência aos restantes governos. Quanto ao futuro, a especialista não crê que este seja um vírus passageiro.

Não sei se é para sempre, mas acho que não vai desaparecer rapidamente. Parece estar muito bem adaptado aos humanos”.

Para Ammon, é preciso resguardar todos os grupos etários, mesmo que os grupos de risco exijam cuidados e vigilância redobrados. A especialista não é adepta das teorias de que defendem uma imunidade coletiva. “Pessoas perfeitamente saudáveis também estão a ter complicações graves e a morrer. Na Europa, vimos cerca de 10% da população ser infetada, acho que ninguém quer ir além disso. Imagine se o vírus tivesse chegado aos outros 90%”, comentou.