Em setembro de 1968, os Estados Unidos da América começaram a reportar diversos casos de uma gripe agressiva e duradoura. Meses depois, situações semelhantes foram registadas na Europa. Na Alemanha, a situação foi tão grave (60.000 pessoas morreram) que algumas estações de metro funcionaram como morgue. Em França, em menos de dois anos, morreram 30.000 pessoas — o mesmo número de óbitos no Reino Unido, onde 20% dos profissionais de saúde ficaram infetados. E nos Estados Unidos, as mortes ultrapassaram as 100.000.

Entre 1968 e 1969, morreram um milhão de pessoas em todo o mundo com a quase desconhecida Gripe de Hong Kong, que vai buscar o nome à região onde foi descoberto o paciente zero.

A Gripe de Hong Kong é apelidada por alguns como a “pandemia esquecida”, embora tenha sido uma das três pandemias do século XX — depois da Gripe Espanhola (1918) e da Gripe Asiática (1957). Ficou atrás destas também no número de mortes: a primeira causou entre 40 a 50 milhões de óbitos, enquanto que a segunda, cerca de 2 milhões de pessoas. Mas por que razão não é tão falada?

“Tanto a Gripe Asiática, como a Gripe de Hong Kong foram rapidamente esquecidas”, conclui à BBC Anton Erkoreka, diretor do Museu Basco de História da Medicina e especialista em história de doenças. As medidas preventivas que foram tomadas “não foram excecionais, uma vez que foi considerada mais uma gripe”, acrescenta.

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Gripe espanhola foi mais letal na segunda vaga. 102 anos depois, pode repetir-se?

À época, os governos não optaram pelo confinamento obrigatório, como aconteceu agora com a Covid-19. Foram, porém, implementadas regras como o distanciamento social, o apelo à lavagem recorrente das mãos e a que se evitasse o uso de transportes públicos até que a pandemia estivesse sob controlo. Só que o problema não ficou resolvido, e tal como aconteceu com a Gripe Espanhola de 1918, a segunda vaga foi ainda mais agressiva —atingindo, sobretudo, quem tinha mais de 65 anos ou outras patologias.

Além disso, a gripe chegou ao Ocidente numa altura em que outras notícias marcavam as páginas dos jornais e os noticiários televisivos: o Homem estava prestes a chegar à lua, a Guerra do Vietname vitimava milhares, e muitos outros mobilizavam-se em movimentos pelos direitos civis.

A história de Phillip D. Snashall, professor emérito na Universidade de Newcastle, e da filha, que contraiu doença, mostra como, ao início, não foi dada especial atenção à doença. “O mercado de ações não entrou em colapso, a imprensa não nos perseguiu e ninguém interrompeu com um kit respiratório os jogos da minha filha”, disse. Porém, por alturas do Natal, já era visível nos hospitais norte-americanos uma onda de doentes internados.

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Por que razão foi a gripe tão agressiva?

O número de mortes oficiais com a Covid-19 (atualmente, cerca de 332 mil) está ainda longe das provocadas pela Gripe de Hong Kong. Mas as pandemias têm semelhanças: por exemplo, a maior parte das mortes acontecem nas faixas etárias acima dos 65 anos, com especial incidência para quem tem comorbilidades.

Mas, segundo o El Confindencial, a doença foi particularmente letal porque o vírus que lhe deu origem, o H3N2 (que continua a circular pelo mundo), é considerado uma das estirpes da gripe mais problemáticas, por ser, como a Covid-19, altamente contagiosa.

E qual a origem? Se a da Covid-19 não é ainda absolutamente certa, os estudos feitos sobre o H3N2 revelaram que o vírus teve origem em porcos infetados com o vírus da gripe aviária.