O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse esta quinta-feira no podcast do PS, Política com Palavra, que o primeiro-ministro e o Presidente da República “combinam harmoniosamente” e admitiu que Marcelo Rebelo de Sousa encaixa em alguns dos requisitos (pode ainda encaixar em todos) que considera que um candidato apoiado pelo PS deve ter. Santos Silva defendeu a intervenção de António Costa na Autoeuropa sobre o desejo de reeleição de Marcelo e visou críticos e apoiantes de Ana Gomes: “Têm tanto direito a falar aqueles que apoiam uma eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa como aqueles que a contestam e apoiam outras”.

Augusto Santos Silva não considera que António Costa tenha feito um “pré-apoio”, mas apenas “uma constatação muito simples e óbvia”. Numa farpa a Ana Gomes — que tinha considerado o ato de Costa sinal de falta de democracia interna — o governante diz que o que não pode acontecer é que “quando uns falam contra um eventual apoio à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa estão a ser democratas e a defender o PS e quando falam os outros que dizem que o PS deve apoiar o professor Marcelo ou não apoiar ninguém alternativo já estão a impedir o PS de debater”.

Santos Silva espera “um debate muito vivo” e lembra que o “o PS, a seu tempo, apoiará ou decidirá não apoiar um candidato, porque já fez as duas coisas”, mas “fiel à tradição” só o fará “depois de saber quais são as candidaturas”. O ministro diz que existem “três critérios” para um candidato ser apoiado pelo PS. O primeiro é “fazer uma avaliação” e aí Marcelo passa com distinção: “A coordenação e o respeito institucional entre o PR e o governo correu otimamente bem“.

O segundo critério é saber o que os candidatos esperam do mandato, seja o primeiro ou o segundo. Neste caso, é preciso que Marcelo garanta que está disposto a continuar “essa articulação harmoniosa no segundo mandato”. O que não é impossível, para Santos Silva. No terceiro critério, Marcelo também encaixa. Santos Silva quer uma “candidatura suficientemente forte” para “travar as dinâmicas populistas que também vão ocorrer nas próximas eleições”.  Para o chefe da diplomacia portuguesa “o populismo é um vírus que corrói a democracia, o Presidente da República tem sido um antídoto contra esse vírus”.

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“Caminhamos para [a bazuca] se proposta franco-alemã for para a frente”

Sobre a resposta europeia à crise, Augusto Santos Silva diz que Bruxelas “tem estado à altura, depois de hesitações iniciais”. Lembrou, por exemplo, as operações de repatriamento em que, garante, terem regressado 5400 portugueses a Portugal.

Sobre o fundo de recuperação da Europa, o ministro dos Negócios Estrangeiros diz que “se a proposta franco-alemã” vencer já “caminhamos” para a ‘bazuca’. Lembra que Mário Centeno tinha pedido um “algarismo e doze zeros”, algo que já se atingiria 500 mil milhões de subsídios propostos pelo fundo, mais 540 mil milhões em instrumentos financeiros já aprovados.

A Alemanha promover esta proposta é, para Santos Silva, uma diferença “do dia para a noite”. “O facto de a Alemanha ter endossado esta proposta é muito importante  não para Portugal, Itália, Espanha ou França, é muito importante para o conjunto da União Europeia”, disse o ministro.

Augusto Santos Silva disse ainda que “a pancada na economia” provocada pela crise “é brutal”, mas as “previsões dizem que a recuperação é imediata: se não fizermos asneiras podemos recuperar os níveis de 2019 em dois anos.” E regista que os países do norte não vão ser menos afetados que os do sul: “Se reparar, [as previsões] são mais ou menos equivalentes para todos os Estados-membros. A Suécia, a Holanda, a Alemanha, têm previsões de queda do produto iguais ou superiores às de Portugal e, portanto, esta é uma crise que nos toca a todos”.

Augusto Santos Silva revela ainda que “Portugal é muito chamado a jogo quando se trata de chegar a compromissos”. E lembrou que, na última semana, António Costa já falou ao telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e com o presidente francês Emmanuel Macron. Isto acontece, segundo Santos Silva, porque “Portugal entra nesta questão sem linhas vermelhas”. O próprio ministro Santos Silva ligou ao homólogo holandês a dizer: “Stef [Blok], tu tens de compreender que nós estamos a favorecer a Holanda, que é dos países que mais favorece com o mercado interno”.

Augusto Santos Silva criticou ainda o facto de Madrid não ter avisado Portugal que ia haver quarentena obrigatória a quem entrasse no país: “Não gostámos que a decisão de impor quarentena não tenha sido comunicada a Portugal”. Na mesma medida, o ministro revelou que a França manifestou o mesmo descontentamento.

O ministro dos Negócios Estrangeiros também quer um mercado europeu menos dependente da China para produtos essenciais. “A grande lição desta crise é não podemos estar dependentes de uma coisa que está situada a 10 mil quilómetros de distância e cuja cadeia, até institucional, nós não controlamos como máscaras para as pessoas se protegerem ou reagentes”, defendeu.

O indesejado “plano C” para a presidência portuguesa da UE

Augusto Santos Silva foi ainda questionado sobre o impacto que a pandemia teria na forma como irá decorrer a presidência portuguesa da União Europeia, que decorre no primeiro semestre de 2021. O ministro dos Negócios Estrangeiros diz que Portugal está “neste momento a trabalhar com um plano A, um plano B um plano C”. O plano A, que está dependente de uma segunda vaga e da capacidade de mobilidade entre os Estados-membros, passa por reuniões informais “distribuídas pelo território português, uma cimeira informal dos líderes no Porto e a sede da presidência aqui no Centro Cultural de Belém”.

Há também um plano B, em que de as deslocações estarem mais limitadas em que as reuniões presenciais são, desde logo, reduzidas. Por fim, há um plano C em que tudo assentará num plano mais digital. Para Santos Silva a diferença será assim logística: “Qualquer que seja o plano que do ponto de vista logístico venha a efetivar-se, do ponto de vista político a presidência portuguesa vai ser, como as anteriores, abrangente, bem sucedida e um contributo positivo para a integração europeia”.