Perto de 300 pessoas, de vários quadrantes, assinaram um manifesto que pretende alertar os poderes públicos e políticos para reforçar “em todos os campos” as artes, a propósito do levantamento das restrições às salas de espetáculos impostas pela Covid-19.
Em comunicado, os promotores da iniciativa revelam ter decidido a 5 de maio “alertar os poderes políticos e os poderes públicos em geral para a necessidade de, saídos das restrições inevitáveis determinadas pelas medidas sanitárias contra a Covid-19, reforçar em todos os campos as Artes ao vivo“.
Entre os primeiros signatários encontram-se o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o encenador Castro Guedes, o escritor Fernando Dacosta, o artista plástico João Baeta, o cenógrafo José Carlos Barros, a psicanalista Luísa Branco Vicente, o musicólogo Mário Vieira de Carvalho, o economista Ricardo Paes Mamede, o programador cultural Nuno Higino e Luís Humberto Marcos, jornalista.
A recolha de assinaturas irá prolongar-se online em artesalerta.com até domingo, pelas 20h, para ser entregue “emblematicamente” a 1 de junho, dia de reabertura, ainda que previsivelmente com muitas restrições, das salas de espetáculo, durante a terceira fase de desconfinamento.
“As razões sanitárias de distanciamento físico vão continuar a ser um instrumento incontornável, em tempos próximos, tão ou mais ou menos longos consoante o aparecimento de uma vacina. Estamos conscientes disso”, pode ler-se na missiva.
Os autores, referem também estar conscientes que “as transferências das expressões artísticas para o mundo digital é uma forma de manter minimamente presente a ‘chama’ da própria arte e da sua ligação e difusão comunitárias“.
“Mas estamos igualmente conscientes de que uma peça de teatro ou de dança, ou mesmo perante um filme ou perante um quadro, a experiência diverge. Não estamos, de facto, a ver teatro, nem dança, nem sequer cinema ou um concerto pela remediação de uma câmara ou de meios de comunicação digital. Ao que assistimos, neste domínio, corresponde um ‘smile’ no ‘WhatsApp’ na vez de um abraço”, dizem.
Sem querer questionar a importância do digital “como meio de criação de objetos de arte específica”, os signatários alertam os poderes políticos e todos os poderes públicos em geral “para o erro que representaria a ele ‘confinar’ ou subalternizar as artes em presença física”.
“A magnitude de beleza e qualidade de um Rembrandt ou da emoção de um concerto dos Xutos e Pontapés não a dispensam para uma plena fruição do que são”, referem, acrescentando na missiva “ainda, que quando e só quando for realmente possível, as artes, ao vivo, deverão adquirir um ainda mais importante papel em relação ao que ocupavam antes do surto da Covid-19”.
Na missiva é ainda referido o papel da arte como “meio de combate à síndrome pós-traumática” da situação e “essencial às retomas económicas e sociais; e à preservação da condição humana: como dar uma flor a uma criança ou ser capaz de ir à Lua”.
“Será uma excelente oportunidade para fazer as artes e a cultura, em presença, saírem de um Estado de Calamidade, anterior à pandemia”, referem.
O documento será entregue aos presidentes da República e da Assembleia da República e ao Primeiro-Ministro, bem como à ministra da Cultura, grupos parlamentares de representação democrática, comissão parlamentar da área da Cultura e à Associação Nacional de Municípios para distribuição por todas as presidências e vereadores da Cultura das Câmaras Municipais portuguesas.
O documento apela à adesão de todos os cidadãos — artistas ou público — sem olhar a profissões ou áreas de atividade, dado que os seus subscritores consideram que “todos vão precisar de todos para os reencontros e as artes são uma das expressões mais elevadas para esse abraço coletivo”.
Entre os apoios de emergência ao setor anunciados pelo ministério da Cultura está a Linha de Apoio de Emergência às Artes, que recebeu 1.025 candidaturas, das quais 636 foram consideradas elegíveis e, destas, apenas 311 receberam apoio.
Anunciada inicialmente com um orçamento de um milhão de euros, a linha foi depois reforçada com 700 mil euros.
Os resultados foram criticados pelas estruturas representativas dos trabalhadores do setor, nomeadamente por se ter tratado de um concurso e por não terem sido anunciados os resultados na íntegra, ou seja, que estruturas e profissionais receberam apoio e qual o valor desse apoio.