O diretor-geral da Cisco Portugal, Miguel Almeida, afirmou, em entrevista à Lusa, que a pandemia de covid-19 foi “o rastilho da transição digital” e que há mudanças que vieram para ficar, como por exemplo o teletrabalho.
“Diria que a pandemia foi o rastilho da transição digital”, afirmou Miguel Almeida, há quase um ano na liderança da tecnológica Cisco Portugal, quando questionado sobre se a pandemia acelerou o processo de digitalização do país. Aliás, “o próprio Governo, com a nomeação da secretaria para a digitalização”, já tinha dado um passo nesse sentido, disse.
“Foi aqui criado o momento ideal” — o estado de emergência levou ao confinamento domiciliário e à adoção do teletrabalho por parte das empresas — “e realmente havia pessoas que estavam preparadas para poder acelerar esta transformação”, salientou o diretor-geral da Cisco Portugal. No fundo, “houve uma conjugação de fatores” que permitiram acelerar a transição digital, apontou.
Depois desta pandemia, “acho que já nada vai ser igual, seja a Administração Pública, seja no ambiente escolar, seja nas empresas, seja onde for”, prosseguiu Miguel Almeida.
“Acho que vai haver aqui uma liberalização, entre aspas, daquilo que é o local de trabalho”, ou seja, “a pessoa já não terá de ir para um local específico onde tem a sua secretária” e isso “também vai levar a uma reformulação do que é um escritório hoje em dia”, considerou o responsável, que assumiu a liderança da Cisco Portugal em julho do ano passado. “Além do impacto do digital que estamos todos a ver, que tem sido uma coisa incrível, tudo o que é soluções de ‘cloud’, a verdade é que os próprios escritórios vão ter de se alterados”, disse.
“Primeiro, por causa do distanciamento, essa é a primeira razão. A segunda é que de certeza as pessoas não irão todas para o escritório ao mesmo tempo”, explicou. “Sinceramente acredito — para uma empresa grande como a Cisco — que, se calhar, daqui a dois ou três meses ou mais, já 20% ou 30% ou 40% das pessoas vão trabalhar de casa, já não vão para o escritório, já não vai haver aquela obrigatoriedade de sair para ir para o escritório”, defendeu.
Perante esta mudança de paradigma, “este é o momento de fazermos aqui investimento em três áreas muito específicas”, as quais estão no programa do Portugal Digital, “a capacitação, as empresas” e a “transformação digital do próprio Estado”, considerou Miguel Almeida.
A primeira área é a “capacitação das próprias pessoas, de terem capacidade de usar a tecnologia, este ponto é importantíssimo”, depois, “olhando para o tecido empresarial, como é que vamos ajudar as empresas a dar este salto”, prosseguiu. “Temos que ajudar as pessoas, temos que ajudar as empresas. Isto é importantíssimo” para o processo da transição digital, disse.
“E há um terceiro pilar, que está numa aceleração grande que é a transformação digital do próprio Estado”, apontou. “Portanto, acho que já não há um ‘turn back’ [voltar atrás] aqui. Vai ter que se feito [a transição digital]”, sublinhou Miguel Almeida.
“Acho que neste momento não têm hipótese [de parar o processo]. Portanto, a capacitação das pessoas, a capacitação do tecido empresarial e tudo o que tem a ver com a transformação digital do próprio Estado, acho que não há um ‘turn back’ e vamos avançar”, reiterou.
Sobre o impacto da pandemia na Cisco Portugal, o diretor-geral adiantou que foi “tudo muito rápido”, numa segunda-feira estavam a discutir o plano e na sexta-feira estavam todos em casa. “Seiscentas pessoas foram colocadas numa semana em casa. Foi feito de uma forma incrível e com um orgulho muito grande na nossa capacidade de resposta” à pandemia, partilhou Miguel Almeida.
Depois, desde o “dia um”, a Cisco Portugal teve como preocupação “ajudar a sociedade” e, como tal, criou “uma série de ofertas às empresas, sejam pequenas, médias ou Administração Pública, até aos particulares”, à volta do serviço Webex [que permite videoconferências], por exemplo, adiantou.
Outra das preocupações foi a segurança dos dados das pessoas e das empresas, numa altura em que a maior parte estava em teletrabalho. “Apostámos também na área da segurança. Inicialmente, achámos que iria ser uma área importante e realmente foi”, apontou. “O número de ataques que tem havido durante a pandemia tem crescido de uma forma incrível”, salientou o diretor-geral.
“Realmente, estes dois pontos: darmos às pessoas ferramentas para poderem trabalhar a partir de casa e a isto adicionarmos às organizações a questão de possibilitarem que as pessoas trabalhem com a segurança devida acho que foi muito importante”, sublinhou.
Este processo “correu otimamente e ainda hoje continuamos a emprestar, a trabalhar com empresas e organizações que precisem, de forma que a economia continue a funcionar”, asseverou. Miguel Almeida salientou que durante a pandemia “não foi só a Cisco” a ajudar as pessoas em casa a trabalhar, foi “toda a comunidade tecnológica se envolveu numa ‘task-force’ juntamente com o Governo de forma a poder assegurar estas premissas às pessoas e às organizações”.
Durante a pandemia, a título de exemplo, a Cisco montou com a Câmara de Oeiras, “em uma semana, um processo de aulas à distância para 20.000 alunos com 2.000 professores”, disse.
Questionado sobre se durante a pandemia tiveram problemas nas comunicações, Miguel Almeida disse que não. “Tudo o que são as nossas plataformas de Webex cresceram 200% e 300%” no período, “tivemos de montar até algumas infraestruturas adicionais para dar suporte, o que é perfeitamente normal, mas a verdade é que não houve cortes de serviço”, salientou. Em termos de segurança, registaram-se ataques de vários níveis, “desde ‘phishing’ a ‘malware’, seja o que for, mas na Cisco ficámos bem”, adiantou.
Sobre o negócio, Miguel Almeida disse que em Portugal “está a correr acima das expectativas iniciais”. No entanto, “ainda não acabámos o balanço do que foi a covid em termos de impacto de negócio”, concluiu.