Treze anos depois do desaparecimento de Madeleine McCann no Algarve, as autoridades de três países — Portugal, Reino Unido e Alemanha — fizeram um avanço significativo na investigação e identificaram um homem alemão de 43 anos como suspeito do rapto da criança britânica.

No centro da investigação estão agora duas pistas fundamentais: dois números de telemóvel portugueses, um deles alegadamente pertencente ao suspeito e o outro autor de um telefonema de meia-hora feito para o suspeito poucos minutos antes do desaparecimento de Maddie.

Porém, como escreve esta quinta-feira o diário britânico The Telegraph, uma vez que altura do desaparecimento ainda não havia smartphones, a quantidade de informação que as autoridades podem retirar dos números de telemóvel é relativamente limitada. Atualmente, seria o oposto: a grande maioria dos telemóveis estão ligados à internet, estão associados a redes sociais e registam dados de GPS e de utilização da rede que são uma ajuda preciosa em investigações criminais.

Polícia identifica suspeito do rapto de Maddie e lança apelo para ter mais informações

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Maddie desapareceu em maio de 2007, um mês antes do lançamento do primeiro iPhone, considerado o pioneiro dos smartphones modernos. Nessa altura, a maioria dos telemóveis eram equipamentos simples, sem acesso à internet e sem GPS.

Neste caso concreto, as autoridades estão a pedir — além de informações sobre um carro e uma carrinha associados ao suspeito — dados sobre dois números de telemóvel que associados ao momento do crime.

O primeiro é o 912 730 680, um número de telemóvel que o suspeito alemão estaria a usar na noite do desaparecimento de Maddie, a 3 de maio. O outro é o 916 510 683, um número que telefonou para o número do suspeito durante cerca de meia-hora, entre as 19h32 e as 20h02, daquela noite — precisamente antes do desaparecimento da criança, que ocorreu enquanto os pais jantavam com amigos nas proximidades do apartamento onde estavam.

As autoridades estão a tentar identificar a pessoa por trás deste segundo número de telemóvel, que consideram ser uma “testemunha altamente significativa” para o caso. Além do apelo público já realizado — “Conhece este número?” —, as autoridades devem recorrer às operadoras portuguesas para tentar obter a maior quantidade de informação possível em torno daquele número.

Sem ligação à internet, os telefonemas e mensagens efetuados por aqueles números de telemóvel seguiram necessariamente pelas antenas de telecomunicações da TMN, Optimus e Vodafone, as três operadoras portuguesas à época. Essas operadoras têm os registos de todos os telefonemas e mensagens trocados e incluem informações como o número que fez a chamada e o número que a recebeu e a duração do telefonema.

A polícia poderá aceder facilmente a esses dados, mas será muito mais difícil, ou mesmo impossível, ter acesso ao conteúdo das mensagens e dos telefonemas. Para isso, os telemóveis teriam de estar, na altura, sob escuta. Ainda assim, poderá haver uma possibilidade: como escreve o The Telegraph, é habitual que as operadoras guardem as gravações das mensagens de voz.

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Outra informação que pode ser retirada de um telemóvel sem acesso à internet e sem localizador GPS é uma localização aproximada com base na triangulação das antenas de telecomunicações a que os telemóveis acederam para efetuar os telefonemas. Porém, trata-se de um método relativamente arcaico para obter a localização de um telemóvel que resulta habitualmente numa informação por aproximação e com uma grande margem de erro — motivo pelo qual nem sempre é possível usá-la como prova.

Resta saber de que forma é que os números de telemóvel poderão ajudar a chegar à identidade da tal testemunha que a polícia procura. É que, embora a maioria dos telemóveis tenham um cliente associado — habitualmente pelo tarifário mensal contratualizado com a operadora —, há sempre a possibilidade de comprar um telemóvel pré-pago, que pode ser carregado com dinheiro físico numa loja. Nesses casos, um cartão SIM pode nunca chegar a ser formalmente associado à identidade de uma pessoa.

Na verdade, o primeiro pré-pago do mundo foi lançado em Portugal: tratava-se do Mimo, um serviço lançado pela TMN em 1995, que se tornou num marco de mudança no mundo das telecomunicações.

A possibilidade de adquirir telemóveis sem qualquer rastreio de identidade popularizou os telemóveis pré-pagos no mundo do crime. Além disso, são muito fáceis de comprar, sobretudo em zonas mais turísticas, onde os visitantes estrangeiros procuram muitas vezes um número temporário do país que visitam para evitar encargos com o roaming.

As autoridades estão, por isso, a apelar publicamente à recolha de informações sobre aqueles dois números de telefone, pedindo às pessoas que consultem telemóveis antigos e agendas telefónicas em busca de qualquer registo daqueles números.