912kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Um teste de anatomia com o coração dos adeptos mas sem a cabeça de Pizzi (a crónica do Benfica-Tondela)

Este artigo tem mais de 4 anos

Lage contava com o coração dos adeptos, que teve. Mas também contava com o talento e influência de Pizzi, que estiveram desaparecidos. No final, o Benfica perdeu a oportunidade de ser líder isolado.

O capitão encarnado esteve muitos níveis abaixo daquilo que costuma mostrar
i

O capitão encarnado esteve muitos níveis abaixo daquilo que costuma mostrar

LUSA

O capitão encarnado esteve muitos níveis abaixo daquilo que costuma mostrar

LUSA

Silêncio. É a primeira palavra que nos vem à cabeça quando se entra num estádio sem adeptos. Mesmo que, nesse mesmo estádio, uma música comercial da qual todos conhecemos pelo menos o refrão esteja a tocar a partir das colunas. A imensidão de um estádio, entre relvado, bancadas, balizas e o céu azul que se vê na abertura, costuma ser colmatada pela presença de adeptos. Um estádio cheio, com a lotação esgotada, torna-se pequeno — chega a asfixiar, se fizermos parte da equipa adversária. Um estádio vazio, sem ninguém para apoiar, é imenso. E silencioso.

Era assim que, esta quinta-feira, estava o Estádio da Luz. Uma música tocava nas colunas, os jornalistas subiam escadas acima para se sentarem nos lugares a eles destinados, Bruno Lage passeou pelo relvado e os primeiros jogadores apareceram para os primeiros exercícios de aquecimento. Ninguém cantou, ninguém gritou, ninguém aplaudiu. Na subida, para uma das zonas mais altas do estádio, era impossível não olhar para trás, por cima do ombro — para ter a certeza de que não estava mesmo lá ninguém. De repente, o tempo parou. Ainda que a sensação de que o tempo estava a correr lá fora mas tinha congelado cá dentro se tenha dissipado progressivamente com o aproximar do apito inicial.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Benfica-Tondela, 0-0

25.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo, Pizzi (Jota, 83′), Weigl (Dyego Sousa, 58′), Gabriel, Rafa, Taarabt, Vinícius (Seferovic, 74′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Cervi, Tomás Tavares, Ferro

Treinador: Bruno Lage

Tondela: Cláudio Ramos, Petkovic, Philipe Sampaio, Yohan Tavares, Filipe Ferreira (Pité, 78′), Richard Rodrigues, Pepelu, João Pedro, Jhon Murillo, Valente (Xavier, 71′), Rúben Fonseca (Jonathan Toro, 57′)

Suplentes não utilizados: Babacar Niasse, Jaquité, Tiago, Ricardo Alves

Treinador: Natxo González

Golos: nada a registar

Ação disciplinar: cartão amarelo a Taarabt (64′)

Afinal, e mesmo com o tempo parado, este era um jogo capital nas ambições do Benfica para o que falta da temporada. O FC Porto perdeu em Famalicão, no primeiro dia da retoma da Primeira Liga, e os encarnados podiam esta quinta-feira, em caso de vitória em casa frente ao Tondela, saltar novamente para a liderança da tabela. E para isso, Bruno Lage contava com o “coração” dos adeptos. “Os adeptos não estão lá, mas estão a ver-nos jogar. Falei com um adepto recentemente, que me reconheceu, e trocámos duas ou três palavras. Foi muito importante. Ele disse-me apenas que não irão lá estar fisicamente, mas irão lá estar de coração. Foi essa mensagem que quis passar aos jogadores”, contou o treinador na antevisão da partida. E a verdade é que, na Luz, esse “coração” estava representado por cachecóis: mas de 21 mil cachecóis espalhados por três das bancadas do estádio, para ocupar o lugar de cada adepto que em vez de estar sentado numa cadeira vermelha estava agora sentado em frente à televisão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No primeiro onze inicial depois da paragem, e em comparação com o último onze inicial antes da paragem, Bruno Lage fazia cinco alterações: André Almeida e Jardel entravam para a defesa, Weigl, Gabriel e Rafa para a zona intermédia. Se André Almeida e Gabriel eram uma espécie de reforços para Lage, depois de terem recuperado de lesão durante a interrupção da competição, Tomás Tavares, Ferro e Cervi começavam no banco, enquanto que Chiquinho nem sequer estava na ficha de jogo.

De forma natural, o Benfica tomou a iniciativa do jogo logo a partir dos instantes iniciais — e podia até ter marcado nos primeiros minutos. Num lance que não nasceu de enorme qualidade ofensiva da equipa mas sim de alguns ressaltos, Carlos Vinícius acabou por soltar Rafa na esquerda da grande área, na cara de Cláudio Ramos. O avançado português rematou mas o guarda-redes do Tondela afastou, evitando desde logo o inaugurar do marcador (2′). Ainda sem estarem fechados os primeiros 10 minutos, Jardel protagonizou a melhor oportunidade de golo da primeira parte: depois de um canto batido na esquerda, o central brasileiro saltou, subiu e cabeceou mas a bola passou ao lado do poste (9′).

Com o passar dos minutos, tornou-se possível perceber qual era a ideia — e o problema — do Benfica. De forma paciente, com um compreensível ritmo baixo e lento, a equipa de Bruno Lage tinha o Tondela controlado no meio-campo adversário e os dois centrais bem longe da grande área, a servir enquanto primeira fase de construção. O caminho normalmente tomado era o do corredor direito, onde estavam André Almeida e Pizzi, que depois tentavam de imediato procurar a profundidade na ala contrária. Aí, ou Rafa ou Grimaldo apareciam a criar o desequilíbrio na faixa para depois explorar a bola aérea na grande área — mas era aqui que surgia o principal problema. Taarabt estava normalmente no apoio a uma das alas, frequentemente a da direita, e não apoiava Carlos Vinícius no ataque; Rafa ou estava a cruzar ou aparecia atrasado na área; Gabriel e Weigl, devido as características de cada um, não apareciam em zonas de finalização; e Pizzi ficava sempre demasiado longe, demasiado encostado ao corredor e demasiado afastado da bola.

Assim, e até ao intervalo, as oportunidades do Benfica escassearam — os cruzamentos repetiam-se e sucediam-se mas não obtinham resposta na área. Gabriel, que recuperou durante a paragem da competição e estava esta quinta-feira de regresso à Liga (não jogava desde o final de janeiro), não conseguia ser a habitual ligação entre o setor mais defensivo e o mais adiantado e era, de forma clara, o jogador com maiores dificuldades físicas no relvado. Quando faltavam 10 minutos para o intervalo, e também porque o Benfica permitiu, o Tondela começou a empurrar os encarnados e a aliviar a pressão que vinha a sofrer desde o início do jogo. Principalmente através de João Pedro, que era o pêndulo do meio-campo e o jogador ‘mais’ da equipa de Natxo González, o conjunto de Viseu soube galgar metros e disputar os últimos instantes do primeiro tempo mais avançado no terreno, a obrigar o Benfica a recuar e encurtar distâncias entre os setores.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Tondela:]

Ao intervalo, o Benfica tinha mais bola, estava a aplicar quase na perfeição uma pressão alta que impedia ao Tondela sair com perigo e em transição — a equipa de Viseu não fez qualquer remate nos primeiros 45 minutos — mas não conseguia criar oportunidades de golo. No início da segunda parte, o Benfica deu impressões de ter entrado com maior intensidade e capacidade para entrar no último terço do Tondela e Bruno Lage correspondeu a partir do banco, com a entrada de Dyego Sousa para a saída de Weigl. O médio alemão estava claramente a ser uma peça a mais na estratégia encarnada, por não ser extraordinariamente necessário à frente dos centrais e não apoiar no ataque, e Taarabt passou a atuar na zona mais recuada no meio-campo, enquanto que Dyego Sousa foi diretamente para o lado de Carlos Vinícius.

Pizzi teve uma grande oportunidade, na primeira vez em que teve realmente algum impacto na partida, mas permitiu a defesa de Cláudio Ramos (61′), e Carlos Vinícius também esteve perto de marcar depois de rodar na grande área mas viu Philipe Sampaio evitar o golo com o corpo (61′). Mas a verdade é que, a partir daí, o Benfica voltou a entrar no vórtice que o tinha condenado na primeira parte e teve muitas dificuldades para criar novas oportunidades de golo. Dyego Sousa ainda atirou uma bola à trave (85′), Seferovic entrou para o lugar de Vinícius para refrescar o setor mais adiantado mas nenhum dos dois avançados foi devidamente alimentado a partir das alas ou das linhas mais recuadas.

Assim como aconteceu no primeiro tempo, o Tondela aproveitou a fase menos concentrada do Benfica para se alongar no relvado e espaçar as linhas — e Richard ficou muito perto de provocar a surpresa da partida, com um remate em jeito que passou a rasar o poste da baliza de Vlachodimos (75′). Com o aproximar do apito final, surgiram também os problemas físicos no conjunto de Natxo González (Ricardo Valente e Filipe Ferreira saíram ambos com lesões musculares) e o all in do Benfica, que passou a apostar quase nonstop em lances mais diretos, com pouca clarividência, à procura de um desvio de Seferovic ou Dyego Sousa. Jota ainda entrou, para o lugar de Pizzi e para ser mais uma solução contra uma defesa em claro défice físico, mas não conseguiu ter oportunidades para desbloquear o marcador.

Até ao fim, coração do Benfica e sacrifício do Tondela. Quando Manuel Mota apitou para o final da partida, diversos jogadores de Natxo González caíram no chão, exaustos, a acusar claramente mais de dois meses de paragem competitiva. O Benfica jogou mais, jogou melhor, rematou muito mais mas nem sempre rematou bem e não conseguiu ir além de um empate com o Tondela — o terceiro consecutivo, fazendo as contas com as partidas pré-pandemia. Bruno Lage estava a contar com o coração dos adeptos, que esteve presente na rotunda Cosme Damião ainda fora do Estádio da Luz, mas também estava a contar com as pernas de Gabriel, que por vezes falharam, com a eficácia de Vinícius, que esteve desafinada, e principalmente com a cabeça de Pizzi. O capitão do Benfica, que é a figura desta equipa encarnada, esteve desaparecido durante a primeira parte, beneficiou de uma grande oportunidade na segunda mas pouco mais do que isso fez: não desequilibrou nas alas, não soube partir do corredor para a faixa central, não alimentou os avançados. E como resultado, na ausência presente do jogador que normalmente está em evidência, o Benfica só conquistou um ponto, igualou o FC Porto no primeiro lugar da classificação mas perdeu uma enorme oportunidade para ser líder isolado da Primeira Liga.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.