A Bentley decidiu pôr fim ao desenvolvimento e produção de um clássico: o V8 que a marca de luxo inglesa introduziu em 1959, na altura com 6,2 litros e uns impressionantes – à época – 183 cv. Seis décadas e 36 mil unidades depois, todas construídas à mão, este é um capítulo que se fecha na história do fabricante de Crewe.
Estou extremamente orgulhoso das gerações de artesãos qualificados que montaram meticulosamente cada um destes motores à mão ao longo dos anos. O facto de este bloco ter tamanha longevidade evidencia a competência dos nossos engenheiros, que ao longo do tempo o foram tornando mais potente, mais refinado e mais fiável”, afirma o membro do conselho de produção da Bentley, Peter Bosch. “Agora, estamos expectantes quanto ao futuro da Bentley, que passará pelo nosso excepcional W12, pelo V8 4.0 Biturbo [de origem Audi] e, claro, pelo nosso eficiente V6 Hybrid, que assinala o início da nossa electrificação”, acrescenta.
Antes disso, o V8 da Série L terá direito a honras de despedida, numa série limitada a 30 exemplares do Mulsanne, outro exemplo de longevidade que também se prepara para sair de cena, ao fim de 40 anos de mercado, pois o lugar de porta-estandarte passa a ser ocupado pelo Flying Spur, equipado com o mencionado W12 e que, apesar de ser muito mais potente que o Mulsanne (635 cv contra os 537 cv do Mulsanne Speed), emite menos dióxido de carbono (337g/km versus 365 g/km). Uma “postura” mais amiga do ambiente que, até 2023, vai ser reforçada pela introdução de uma motorização híbrida, para fazer face às cada vez mais apertadas médias de emissões de CO2 impostas por Bruxelas.
Assim, a série exclusiva que vai encerrar a carreira do Mulsanne porá também termo ao V8 de produção contínua há mais tempo no mercado. Agora, senhor de 6,75 litros de cilindrada e sobrealimentado com dois turbocompressores, debitando a enormidade de 1020 Nm na versão com 513 cv de potência e alcançando os 1100 Nm na variante mais possante. Será esta, de 537 cv, a que vai equipar as derradeiras unidades do Mulsanne que, como seria de esperar, são entregues à Mulliner para assegurar esta edição é mesmo especial, contando com vários detalhes alusivos ao V8 que se aposenta.
De sublinhar que este V8, apesar de toda as melhorias de que foi alvo nestes 61 anos ao serviço, continua a ser uma espécie de obra de arte da engenharia, cuja construção obriga a 15 horas de atenção por parte dos artesãos. Diz a Bentley que os principais componentes são escolhidos um a um, “para que formar um conjunto equilibrado e harmonioso, sem quaisquer problemas de funcionamento”. É “uma habilidade” que levou anos a ser aperfeiçoada e que tem, inclusivamente, direito a ser assinada por um dos especialistas da marca em motores, fazendo jus a uma tradição com décadas.