O primeiro-ministro escolheu o até aqui secretário de Estado do Orçamento, João Leão, para substituir Mário Centeno que sai da pasta das Finanças. A substituição aconteceu mal o Conselho de Ministros aprovou o Orçamento Suplementar e o novo ministro toma posse dia 15, próxima segunda-feira, de manhã. A Presidência da República já deu nota do pedido de substituição e o anúncio será feito pelo primeiro-ministro tendo Centeno e o seu sucessor ao seu lado. A equipa de secretários de Estado será conhecida este fim de semana.

Fonte do Governo explica ao Observador que o critério para a escolha deste nome foi o da “continuidade política” nas Finanças. João Leão fez parte da equipa de Mário Centeno desde o início, sempre como secretário de Estado do Orçamento, e foi um dos peritos que integrou o grupo de 12 que António Costa foi chamar em 2015 para preparar o quadro macroeconómico do seu primeiro Programa Eleitoral. Além de ministro das Finanças, acumula ainda o estatuto de ministro de Estado, tal como tinha Centeno.

[Costa sublinha “continuidade” de Centeno para Leão:]

João Leão “tem sido o responsável pela política orçamental do Governo nestes cinco anos”, argumenta a mesma fonte e “conhece profundamente a economia portuguesa quer pelo seu trabalho académico, quer por ter sido diretor do gabinete de estudos do Ministério da Economia”, o que aconteceu entre 2010 e 2014. Tem um perfil mais discreto e de segunda linha, mas o entendimento do primeiro-ministro é que cumpre a lógica que quer manter de um pendor político naquele Ministério.

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A ideia de António Costa foi avançar com o anúncio da substituição logo no dia em que é aprovado o Orçamento Suplementar e ainda antes de terminar o prazo, dia 11 de junho, para serem apresentadas as candidatura à presidência do Eurogrupo. Recorde-se que este cargo depende do exercício das funções como ministro das Finanças no respetivo país, pelo que a saída de Centeno das Finanças implica uma mudança também a esse nível já que o ainda ministro é o presidente do grupo informal dos ministros das Finanças da zona euro. Mário Centeno vai, assim, presidir à próxima reunião do Eurogrupo ainda no cargo, já que a posse de João Leão como ministro só acontece na segunda-feira, dia 15.

Quanto ao Orçamento Suplementar, será entregue esta semana na Assembleia da República, ainda por Mário Centeno, mas será defendido no plenário, no debate da generalidade marcado para o dia 17 de junho, já por João Leão. Será também o novo ministro que vai negociar com os partidos eventuais alterações à proposta do Governo, com o Governo a fazer pressão para que o Orçamento seja aprovado o mais depressa possível no Parlamento, na sua versão final.

Esta remodelação cirúrgica era prevista há vários meses, tendo o Observador anunciado esta intenção do primeiro-ministro ainda no início de março. Ela acontece a dias de começar o verão, ainda em junho. O Observador tinha escrito nessa altura que tudo deveria avançar, caso não existisse nenhum sobressalto, mas o plano manteve-se mesmo com um sobressalto não previsto nessa altura: a pandemia da Covid-19 e a consequente crise económica.

Costa prepara remodelação no início do Verão para substituir Centeno

Há menos de um mês, houve mesmo um sobressalto entre os dois, a propósito de uma transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco, autorizada pelo ministro das Finanças sem o conhecimento prévio do primeiro-ministro. Essa mini-crise aconteceu com esta saída já alinhavada, mas fez tremer este plano e chegou até a motivar uma reunião de emergência entre Mário Centeno e António Costa, em São Bento, que terminou já tarde e com os dois a saírem juntos para dar um sinal de união. Mas a saída de Centeno ficou mesmo alinhada para acontecer mal estivesse aprovado o Orçamento Suplementar.

Segue-se João Leão com uma equipa nova

João Leão tem 46 anos e, antes de sair para o Governo, era professor de Economia no ISCTE desde 2008. É próximo de Fernando Medina (que chegou a correr como um dos nomes para substituir Centeno), que assessorou quando este foi secretário de Estado da Indústria e Desenvolvimento, tendo sido, assim, o atual presidente da Câmara de Lisboa a fazê-lo entrar pela primeira vez num Governo. Em 2010, o ministro José António Vieira da Silva nomeou-o para dirigir o Gabinete de Estudos do Ministério da Economia, onde ficou até 2014.

A partir daí, a história é a que se conhece. João Leão integrou o grupo de peritos, coordenado por Mário Centeno, para preparar o cenário macroeconómico do programa eleitoral do PS liderado por Costa. E quando Centeno foi escolhido para as Finanças, Leão foi a opção para a Secretaria de Estado do Orçamento onde permaneceu até agora.

A sua formação académica é em Economia, sendo doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology. Na sua vida profissional, quando entrou num dos gabinetes do segundo Governo de José Sócrates, que iniciou funções em 2009, João Leão fazia também parte do Conselho Económico e Social e do Conselho Superior de Estatística, de onde saiu em 2014.

Com Centeno saem das Finanças também dois dos seus secretários de Estado: Álvaro Novo, que tinha a pasta do Tesouro, deve regressar ao Banco de Portugal; e Mourinho Félix, até aqui o seu Adjunto, pode estar a caminho do BEI, segundo avançam alguns órgãos de comunicação social.