Maria van Kerkhove, médica epidemiologista que lidera o Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde, esteve no início desta semana em foco depois de uma afirmação que gerou grande debate e que obrigou a própria e o órgão a fazerem tentativas de esclarecimento para atenuar a polémica – afinal, e ao contrário da ideia inicial, os assintomáticos, sejam eles casos assintomáticos ou pré-sintomáticos (o que faz muita diferença), podem na mesma transmitir o novo coronavírus, restando apenas saber se essa probabilidade é igual ou menor do que nos casos sintomáticos. Uma possível resposta acabou por motivar ainda mais dúvidas, à semelhança do que já tinha acontecido com vários outros temas. E um deles cruza-se agora com a Primeira Liga de futebol.
Pode uma pessoa que tenha sido infetada voltar a contrair o vírus? Alguns países asiáticos dizem ter casos assim, outros defendem que essa possibilidade não existe (podendo haver, isso sim, algumas células mortas que estejam ainda presentes nos pulmões e que não tenham sido ainda expelidas). E é neste contexto que aparece o caso de Rodrigo Defendi, guarda-redes brasileiro e capitão do Famalicão que foi o primeiro jogador do Campeonato a ser impedido – mesmo no limite, acrescente-se – de entrar em campo devido a um teste positivo.
No regresso aos trabalhos, e quando foi feita a primeira testagem em massa a todos os plantéis, o conjunto de Vila Nova de Famalicão teve um total de sete casos positivos, entre os quais quatro jogadores. Em comunicado, o clube esclareceu que seis desses mesmos sete casos apresentavam uma carga viral muito baixa, com apenas um dos três genes habitualmente pesquisados para a identificação do vírus presentes nas amostras. Antes do início da prova, e com os outros testes que foram realizados, todos apresentaram resultados negativos e foram a jogo.
O Famalicão, sem baixas desta ordem, recebeu e venceu o FC Porto na quarta-feira, dia 3. Três dias antes, Defendi, tal como os restantes companheiros, voltou a fazer um teste e deu negativo. Agora, antes do encontro com o Gil Vicente, o processo repetiu-se (até por ser uma das obrigatoriedades do Código de Conduta da DGS para a Retoma da Competição) e o guarda-redes apresentou um resultado inconclusivo. Repetiu o exame e, desta vez, testou positivo. Ainda esteve para entrar em campo mas, pouco antes do jogo, foi impedido de jogar.
“Tem antecedentes de infecção para a Covid-19 em março. Cumpriu sempre com os critérios das autoridades de saúde, teve critérios de cura com dois testes negativos em abril e teve alta, tudo isto ainda durante o período de suspensão da Liga. Posteriormente, também ao abrigo do plano da Retoma da Liga, num dos testes de rastreio voltou a ter um resultado positivo, desta vez assintomático. Mais uma vez, voltou a cumprir aquele período de isolamento, cumpriu as normas da DGS, apresentou critérios de cura e voltou a ter alta, estando disponível para o jogo [do FC Porto]”, começou por explicar o médico do Famalicão, Diogo Gomes.
Testes feitos aos jogadores da I Liga terão dado “falsos positivos”
“Teve depois vários testes negativos até ao dia de ontem [segunda-feira], onde teve um teste inconclusivo. Mais uma vez, ao abrigo do plano de Retoma, fez mais um teste durante o dia de hoje [terça-feira] que veio mais uma vez positivo. Durante a tarde fomos informados pelas autoridades de saúde que ele não precisava de cumprir o isolamento e poderia jogar, tendo em conta os antecedentes dele, mas momentos antes da partida fomos informados de que ele não poderia estar presente. Cumprimos sempre com aquilo que nos foi dito e o atleta não esteve presente no jogo”, acrescentou o mesmo responsável falando sobre a situação do guarda-redes de 33 anos.