Anne Carson venceu o Prémio Princesa das Astúrias das Letras, foi anunciado esta quinta-feira. Poeta, ensaísta, tradutora e classicista, a canadiana foi várias vezes apontada como uma das favoritas ao Prémio Nobel da Literatura. No ano passado, o seu nome aparecia no topo da lista de possíveis vencedores, juntamente com escritores como Maryse Condé, Margaret Atwood e Haruki Murakami.

Nascida em Toronto em 1950, mas a residir em Nova Iorque, Carson é reconhecida como uma das mais importantes poetas de língua inglesa da atualidade, uma opinião partilhada pelo júri do Prémio Princesa das Astúrias, que a descreveu como um dos “mais destacados escritores o presente” devido aos “níveis de intensidade intelectual e solvência” que foi capaz de atingir.

Especialista em grego, a sua obra é diretamente influenciada pela cultura grega antiga, pela qual se começou a interessar quando descobriu numa livraria uma edição bilingue da poesia de Safo, “mudado a sua vida para sempre”. “A visão das duas páginas sobrepostas, uma delas com um texto impenetrável, mas de grande beleza visual, cativou-me e comprei o livro”, afirmou Anne Carson, citada pela Fundação Princesa das Astúrias, que atribui o prémio.

Considerada  “um dos mais requintados e eruditos escritores da literatura contemporânea, bem como autora de uma obra hipnótica, na qual funde estilos, referências e formatos, e aposta pelo híbrido entre o greco-latino, o medieval e o contemporâneo”, dos seus livros, destacam-se Autobiography of Red: A Novel in Verse (1998), Men in the Off Hours (2001), The Beauty of the Husband: A Fictional Essay in 29 Tangos (2001) e, mais recentemente, NOX (2010). O seu último trabalho, publicado em fevereiro deste ano, é Norma Jeane Baker of Troy, uma reflexão sobre o poder destabilizador e destrutivo da beleza partindo das histórias de Helena de Troia e Marilyn Monroe.

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Partindo do estudo do mundo clássico, Carson “construiu uma poética inovadora onde a vitalidade do grande pensamento clássico funciona como se se tratasse de um mapa que convida a esclarecer as complexidades do momento presente”. “O seu trabalho mantém um compromisso com a emoção e o pensamento, com o estudo da tradição e com a renovada presença das Humanidades como forma de alcançar uma melhor consciência do nosso tempo”, consideraram os jurados, que a escolheram de entre 28 candidaturas, de 17 nacionalidades diferentes.

Muito elogiada também pelo seu trabalho de tradutora, foi responsável por traduzir para o inglês autores gregos como a poeta Safo e os dramaturgos Ésquilo e Eurípides. Deste último, publicou em 2017 pela editora norte-americana New Directions uma tradução de As Bacantes.

No ano passado, o Prémio Princesa das Astúrias das Letras foi atribuído à norte-americana Siri Hustvedt.

Compositores Ennio Morricone e John Williams recebem Prémio Princesa das Astúrias das Artes

Este é o sexto de oito Prémios Princesa das Astúrias que vão ser atribuídos este ano. Até agora, foram conhecidos os vencedores do destinado à Concórdia, atribuído aos profissionais espanhóis de saúde, o das Artes aos compositores Ennio Morricone e John Williams, o da Comunicação e Humanidades à Feira Internacional do Livro de Guadalajara e ao Festival Hayaos, o das Ciências Sociais, ao economista turco Dani Rodrik, e o do Desporto ao piloto espanhol Carlos Sainz.

Os Prémios Princesa das Astúrias distinguem, em termos gerais, o “trabalho científico, técnico, cultural, social e humanitário” realizado por pessoas ou instituições a nível internacional e o destinado às Letras “a obra de criação e aperfeiçoamento da produção literária em todos os seus gêneros”. Têm um valor pecuniário de 50 mil euros.

Atualizado às 14h de 18/6/2020 com mais informações