A parede exterior situada na entrada de visitas do Hospital de S. João já tinha chamado a atenção de muitos, mas só esta manhã foi apresentando ao público o mais recente trabalho do artista Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils. Nele estão retratados 10 profissionais de saúde daquele hospital, entre médicos, enfermeiros, auxiliares, pessoal da manutenção, alimentação, limpeza e equipa da direção.
Manuel Martins, de 62 anos é um deles. Trabalha há mais de uma década na manutenção de equipamentos desta unidade hospitalar, recorda “a luta” que viveu nos últimos tempos e ficou surpreendido pelo convite em fazer parte desta obra. “Ainda estou nervoso com esta homenagem. Sou leigo nestas coisas, não conhecia o trabalho dele, mas isto está impecável”, diz em entrevista ao Observador.
Ao seu lado está Paula Guimarães, administrativa “há quase 30 anos nesta casa”. A profissional teve que fazer uma pesquisa na internet para saber quem era Vhils e não hesitou em aceitar fazer parte deste projeto. “É um orgulho para todos nós, somos 10 aqui representados , mas esta parede simboliza o hospital inteiro”, afirma. Olhando para trás, lembra agora os meses conturbados que viveu. “Os primeiros tempos foram muito complicados, foi uma novidade para toda a gente, mas no fim é tudo uma aprendizagem.”
David Andrade, médico no serviço de urgência, acredita que “o pior já passou”, é também um dos profissionais cujo rosto está esculpido no mural e confessa gostar “do resultado final”. “Encaro isto como uma homenagem aos profissionais e a todo o Serviço Nacional de Saúde.”
Maria João Valle, também é médica no serviço do urgência, faz anos hoje e encara o mural “como o melhor presente que poderia ter”. Com o telefone no bolso da farda sempre a tocar, revela que as filhas fizeram questão que conhecesse as obras de Vhils espalhadas pelo mundo e admite ter sido “uma honra” integrar uma delas.
Sobre a pandemia que invadiu Portugal em março, Maria João não tem dúvidas que o mais complicado foi estar longe de casa. “A parte que mais custou foi estar durante meses longe da família, o resto temos que estar prontos para dar todos os dias. Acredito que o pior já passou, sou muito otimista, mas as pessoas têm de ter muito cuidado porque ele ainda anda por aí.”
Uma semana foi o suficiente para Alexandre Farto e a sua equipa concretizarem uma ideia que já vinha desde o ano passado, que, depois de alguns adiamentos por questões logísticas, em tempo de pandemia o mural “tornou-se ainda mais pertinente”
“A obra é um agradecimento e uma sentida homenagem a todos os que se encontram na linha da frente, quer da presente pandemia, quer dos cuidados de saúde diários, pela importância que têm na vida de cada um de nós. É um enaltecer da coragem, da dedicação e do altruísmo com que colocam as suas vidas em risco pela defesa das nossas”, refere o artista português numa nota enviada à comunicação social.
Depois de uma seleção aleatória de dez profissionais do Hospital de S. João, o artista fotografou-os em vários ângulos e pôs mãos à obra. Alexandre Farto explica que a disposição das pessoas na composição lado a lado, “visa a simbolizar não só o conceito de linha da frente, mas também a cooperação e o trabalho em equipa”, acrescentando que o projeto, uma oferta ao hospital, pretende também a assinalar o 40º aniversário do Serviço Nacional de Saúde.
Fernando Araújo, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João, sublinha que o mural existe “para que nunca ninguém se esqueça” da entrega, do empenho e da dedicação destes profissionais. “O objetivo foi claro, escrever nas paredes do hospital a mensagem de que estes profissionais não mais serão esquecidos.”
No Hospital de S. João cerca 200 profissionais foram infetados pelo novo coronavírus, sendo que a maioria já regressou ao trabalho. “Na ultimas quatro semanas não há registos de novos casos”, adiantou o presidente do S. João.