A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) acusou esta quinta-feira as Forças Armadas Angolanas (FAA) de terem matado três civis, incluindo um adolescente, neste enclave angolano.

“Três civis inocentes, incluindo um adolescente, não armados, foram mortos na quarta-feira, 24 de junho, pelos militares angolanos das FAA na vila de Macama-Nzila, próximo da fronteira com a República Democrática do Congo”, referiu o secretário-geral da FLEC-FAC, Jacinto António Télica.

Segundo o comunicado, os três civis foram “acusados, falsamente”, de pertencerem às Forças Armadas de Cabinda (FAC). “Denunciamos perante a comunidade internacional este ataque mortífero das forças armadas angolanas contra civis inocentes e indefesos”, lê-se no comunicado.

A organização independentista disse ainda ter informações de que as FAA estão a realizar atualmente “uma operação de grande envergadura contra a população civil cabindesa nas localidades fronteiriças”, acusando-a de pertencer às FAC.

A FLEC disse também que a população destas localidades “vive aterrorizada e os seus direitos humanos são constantemente violados”.

A organização apelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, em particular ao secretário-geral da ONU, o português António Guterres, para que “tome medidas para uma ação concertada para evitar o massacre de inocentes no território de Cabinda”.

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O secretário-geral da FLEC-FAC pediu a Guterres para que exorte as autoridades angolanas a abandonarem a “política de terra-queimada e de intimidação” em Cabinda.

Jacinto António Télica disse que a luta do povo cabindês “continuará até que a comunidade internacional reconheça o direto inalienável à liberdade e à autodeterminação, reconhecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948”.

A organização independentista tem anunciado nas últimas semanas vários mortos em resultado do conflito.

Em declarações recentes à Lusa, o deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) Raul Danda, eleito pelo círculo de Cabinda, considerou “uma verdadeira insanidade” que o governo angolano negue a existência de um conflito armado no enclave e criticou o papel de Portugal.

Acho que é uma verdadeira insanidade negar a existência do conflito em Cabinda, é uma insanidade chamar àquilo de incidentes, não é incidentes, há um conflito militar que ocorre em Cabinda”, referiu Raul Danda.

O deputado salientou que tem dito reiteradas vezes que quanto mais o governo angolano adia o debate sobre a situação, “mais radicaliza os espíritos”.

Quanto ao papel de Portugal neste processo, Raul Danda declarou que é “com bastante mágoa e tristeza” que olha para as autoridades portuguesas, considerando que grande parte dos políticos portugueses “são aqueles que na altura em que estão na oposição dizem muitas verdades, mas basta chegar ao poder ficam todos alinhados com o governo da Cidade Alta [em Luanda, onde se encontra o Palácio Presidencial] por causa do dinheiro”.

De acordo com Raul Danda, o governo angolano tem de tentar encontrar uma solução para aquele caso, “sob pena de estar a fazer um papel pior do que o que os portugueses fizeram”.

A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência no território alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.

Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que alega manter uma “resistência armada” contra a administração de Luanda. Mais de metade do petróleo angolano provém desta província angolana.