Concertos, exposições, videomapping e a festa de reabertura das casas de fado são algumas das iniciativas previstas para celebrar os 100 anos do nascimento de Amália Rodrigues, foi esta sexta-feira anunciado.
O programa celebrativo, que começa no dia 1 de julho e se estende até ao próximo ano, foi esta sexta-feira apresentado na Câmara Municipal de Lisboa, com a presença da ministra da Cultura.
No dia 1 de julho, vai realizar-se um tributo de 100 guitarristas, de distintas gerações, ao legado da fadista, nos Paços do Concelho de Lisboa. Este concerto é transmitido online a partir das redes sociais da Câmara Municipal de Lisboa, da Empresa municipal de Gestão dos Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) e do Museu do Fado, sendo exibido pela RTP no dia 4 de julho.
No dia do aniversário de Amália, em 23 de julho, Camané e Mário Laginha atuam no Museu do Fado. Os dois artistas vão “revisitar alguns dos temas mais emblemáticos de Amália Rodrigues e Alain Oulman (1928-1990)”, que em vida compôs exclusivamente para a diva.
“Maria Lisboa”, “Madrugada de Alfama”, “As Águias”, “Naufrágio” e “Gaivota” são alguns dos fados de autoria de Oulman.
Este concerto será igualmente transmitido em streaming através das redes sociais da Câmara de Lisboa.
De 3 a 12 de setembro acontece a Festa do Fado, assinalando a reabertura das casas de fado, depois do encerramento devido à Covid-19, “com condições especiais aos seus visitantes”.
Esta iniciativa, da câmara em parceria com a Associação das Casas de Fado (ACF), prevê, segundo a organização, a atuação de “mais de 100 artistas em sessões gravadas e transmitidas em streaming, a partir das redes sociais da Câmara e do Museu do Fado”.
Joel Pina, músico cuja carreira se entrecruza com a de Amália, de quem foi viola-baixo durante mais de 30 anos, fez em fevereiro 100 anos.
A festa prevista para março último, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, foi adiada e vai acontecer no âmbito das celebrações amalianas, no dia 24 de setembro, no Museu do Fado.
Amália afirmou em várias entrevistas que nasceu “no tempo das cerejas”, fazendo uma alusão às suas origens familiares no concelho do Fundão, o que dá o mote para um concerto, com direção artística de Luís Varatojo, “No Tempo das Cerejas”.
Este concerto, no Castelo de S. Jorge, conta com as participações dos fadistas Ricardo Ribeiro, Camané e Ana Moura, acompanhados pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direção do maestro Rui Pinheiro, e a participação dos músicos José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Pedro Soares (viola) e Didi (baixo), Rui Toscano (saxofone) e Gaspar (guitarra portuguesa).
Este concerto, cujos arranjos musicais são de Pedro Moreira, Filipe Raposo e Mário Laginha, é transmitido pela RTP a 30 de julho.
Já musical “100 Amália” pretende responder à questão: “Como sentem e vivem o legado de Amália as gerações mais jovens, que nasceram em pleno século XXI?”
“100 Amália” é um musical com encenação, dramaturgia e acompanhamento musical pelo grupo Músicas e Musicais do Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves, com alunos entre os 9 e os 18 anos, e direção musical de Camané.
As celebrações são a nível internacional também, com os vários festivais de fado realizados além fronteiras, patrocinados pela Câmara de Lisboa, a “prestar homenagem à memória viva de Amália Rodrigues”. Estes festivais, além dos espetáculos dos fadistas incluem conferências, exposições e projeções de filmes.
No dia 6 de outubro, quando passam dez anos sobre a morte da criadora de “Povo que Lavas no Rio”, será transmitido a partir da Casa de Amália Rodrigues na Rua de S. Bento, em Lisboa, um concerto com Sara Correia, Fábia Rebordão e Cuca Roseta. O musicólogo Rui Vieira Nery, um dos membros do grupo de trabalho para a celebração do centenário, fará uma “introdução histórica”.
Outra iniciativa é a realização do documentário televisivo “Fado”, em 12 episódios, de autoria do músico Paulo Valentim, que assina a conceção e desenvolvimento com Hélder Moutinho e Pedro Ramos cabendo a realização e direção de fotografia a Aurélio Vasques. Este documentário, em parceria com a ACF, visa promover “o universo do fado na cidade de Lisboa”.
A programação celebrativa prossegue em 2021 com três exposições comissariadas por José Manuel dos Santos e Frederico Santiago, nos museus do Fado, do Teatro e da Dança e no Panteão Nacional para além de uma outra no Museu do Traje, também em Lisboa.
Em março, no dia 21, é inaugurada no Museu do Fado a exposição “Amália Fado” e, quatro dias depois, a mostra “Amália Palco”, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, que também recebeu uma mostra sobre fadista nos seus 50 anos de carreira, em 1989.
Amália Rodrigues estreou-se em 1941 no teatro de revista em “Ora Vai tu” e nesse mesmo ano, dado o sucesso de bilheteira, em “Espera de Toiros”, seguindo-se “Essa é que é Essa” (1942) e “Boa Nova” (1942).
“Espanta o público ao cantar, além de fados, canções em inglês impecável, e castiços flamencos”, na revista “Alerta Está!”, como escreveu o Diário de Notícias de 25 de abril de 1945.
A crítica do matutino garantia que Amália apresentava “condições invulgares para o teatro ligeiro e a revista” e demonstrou em “Alerta Está!” que “não é só uma fadista de raça”, referindo que foi três vezes a palco interpretar canções do repertório da espanhola Imperio Argentina (1910-2003) que, segundo o jornal, considerou que “não as cantava melhor que Amália”.
Participou ainda em “Viva da Costa” e “Estás na Lua”, que foi o seu maior sucesso. Entretanto, em 1945, partiu para o Brasil com uma revista concebida para si, deixando os palcos da revista em 1947, em “Se Aquilo que a Gente Sente”.
O investigador e historiador de teatro Luiz Francisco Rebello escreveu que “a qualidade que ela trouxera ao fado era extensiva à revista”.
Amália Rodrigues participou ainda em operetas, como “Mouraria” e em 1955 protagonizou a peça “A Severa”, de Júlio Dantas, ao lado de Paulo Renato, Mário Pereira, Madalena Sotto, Santos Carvalho e Ruy de Carvalho. Na televisão, em 1968, foi “A Sapateira Prodigiosa”, de Lorca, ao lado de Varela Silva e Fernanda Borsatti, numa realização de Fernando Frazão.
Aos palcos, escreveu Rebello, Amália trouxe “o seu espantoso poder de sugestão e esse ar tragédia viva e vivida que se advinha no seu olhar magoado e nostálgico”.
Também no dia 25 de março, nas no Museu do Traje, inaugura a exposição “Vestir, Desenhar e Pintar o Fado Amália”, de Paulo Azenha
Completando a tríade que inclui “Amália Fado” e “Amália Palco”, é inaugurada a exposição “Amália Negro”, no dia 31 de março, no Panteão Nacional, onde a fadista e poetisa se encontra sepultada desde 2001.
Amália escreveu vários poemas e foi ela própria o poeta que mais gravou, apesar da sua preferência por David Mourão-Ferreira, como afirmou em várias entrevistas. O álbum “Gostava de Ser Quem Era” (1980) é inteiramente preenchido por poemas seus.
“Estranha Forma de Vida”, “Lava no Rio Lavava”, “Ai, Maria”, “Amor de Mel , Amor de Fel” foram alguns dos seus poemas que gravou.
“Promovendo a investigação científica pluridisciplinar em torno da obra de Amália Rodrigues, com o enfoque na reflexão crítica sobre as múltiplas dimensões da sua biografia artística”, em abril do próximo ano realiza-se o colóquio “Pensar Amália”, numa parceria entre a Universidade Nova de Lisboa e o Museu do Fado.
A 10 de junho de 2021, Dia de Portugal, realiza-se “100 Músicos para Amália” com direção artística do guitarrista Pedro de Castro.
A organização refere que Amália foi uma “artista plural” que “interpretou repertórios musicais de geografias distintas”, e este concerto irá incluir 100 músicos de “diferentes áreas musicais – da música erudita ao jazz, do fado ao flamenco, da canção francesa e italiana à bossa nova e ao folclore”, que vão interpretar “o legado de Amália Rodrigues”.
Na noite de Santo António, em 12 de junho do próximo ano, Amália Rodrigues será o tema da Grande Marcha de Lisboa e do desfile das marchas na Avenida da Liberdade. Ainda na sua cidade, nos meses de junho e julho, é apresentado na Praça do Comércio, um espetáculo de “‘videomapping’ imersivo a 270 graus”.
Toda a programação está disponível em http://centenarioamaliarodrigues.pt.
Amália Rodrigues(1920-2020) protagonizou a mais fulgurante carreira musical do século XX em Portugal.
O escritor Miguel Esteves Cardoso e o editor discográfico David Ferreira, justificaram à Lusa este êxito, dentro e além fronteiras, como revelador da sua voz e da “inteligência com que Amália cantava”.
A fadista nasceu, oficialmente, a 23 de julho de 1920, em Lisboa, no seio de uma família originária da Beira Baixa.
Em julho de 1939 um dos títulos da imprensa fadista noticiou que Amália da Piedade Rodrigues acabara de obter a carteira profissional, tornando-se oficialmente fadista.
A menina que aos 15 anos brilhara na marcha de Alcântara, e desde logo chamara a atenção, passava a fazer parte do elenco de uma das mais prestigiadas casas de fado: o Retiro da Severa, rampa de lançamento do mais internacional nome do fado. Amália Rodrigues morreu em 6 de outubro de 1999.