O silêncio da ignição. O sossego do para-arranca. O recato da hora de ponta. Expressões como estas podem não fazer grande sentido no tempo em que vivemos. Mas se todos os veículos fossem elétricos, outros motores cantariam. Apesar da obrigatoriedade dos chamados avisadores acústicos, está provado que, a baixas velocidades, o ruído emitido pelos motores elétricos é bem menor que o dos seus congéneres de combustão interna. Nas grandes cidades, onde se circula em média abaixo dos 20 km/h, a diferença na poluição sonora seria, por isso, considerável.
E o que dizer da qualidade do ar? Tomemos Lisboa como exemplo: nas primeiras semanas após a instauração do estado de emergência, a emissão de gases poluentes na Avenida da Liberdade teve uma redução de 60%, devido, sobretudo, à diminuição do tráfego rodoviário. Ora, sabendo-se que em Portugal o parque automóvel é o mais envelhecido de sempre (média de 12,7 anos por automóvel) e que um veículo elétrico emite, em todo o seu ciclo de vida, menos dois terços da quantidade de dióxido de carbono que os de motor a gasóleo ou gasolina, o ar tornar-se-ia, automaticamente, muito mais respirável.
Se todos os veículos fossem elétricos, o consumo de eletricidade em Portugal — que se tem mostrado estado estável na última década — subiria, por certo, em flecha. Mais de 14%, segundo estimativas da APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas). Aumentar a produção de eletricidade, descarbonizando-a ao mesmo tempo, seria um desafio. Ultrapassável, porém, tendo em conta que as fontes renováveis já contribuem com mais de metade da produção total de energia em Portugal. Além disso, e ainda segundo a APETRO, o país pouparia 1723 milhões de euros nas importações de combustíveis fósseis.
A Agência Portuguesa do Ambiente estima que em Portugal, a poluição atmosférica provoque seis mil mortes por ano, devido às elevadas concentrações de partículas finas e dióxido de azoto (NO2), gás resultante da queima de combustíveis fósseis. A poluição contribui para a prevalência da rinite alérgica ou da DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) nas grandes cidades. Um parque automóvel 100% elétrico contribuiria, sem dúvida, para mitigar estes problemas.
Perante esse cenário, outros desafios surgiriam: a necessidade de reforçar redes de carregamento, tornar a produção de lítio e cobalto — metais indispensáveis ao fabrico de baterias — mais sustentável, apostar na reciclagem e reutilização de baterias e até a conversão de certos postos de trabalho, ligados às oficinas e estações de serviço convencionais. Mas, no final de contas, o resultado seria um mundo melhor? Muito provavelmente, sim.
Este artigo integra o projecto desenvolvido em parceria com a Renault que visa a promoção da mobilidade sustentável.
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