A administração da mutualista Montepio, que na terça-feira conseguiu a aprovação das contas, contestou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, a valorização do Banco Montepio pela auditora PwC. Virgílio Lima, que herdou de Tomás Correia a presidência da mutualista, sublinha que o banco tem um “valor de uso” para a mutualista que é maior do que o “valor de mercado” que é salientado pela auditora. Ainda assim, a mutualista aceitou formalmente a imparidade que a PwC exigiu (caso contrário a auditora colocaria “reservas” às contas) mas acredita que “há um potencial de realização de valor e de reversão das imparidades“. Daí que “na nossa leitura, não faz sentido falar em apoio público ao Montepio – não compreendemos” esse debate, diz Virgílio Lima.
Essa imparidade registada no valor do banco contribui decisivamente para os prejuízos totais de 408 milhões de euros – a imparidade no valor do banco prejudicou o exercício em 377,5 milhões. “Nós podíamos ter mantido o valor que consideraríamos mais justo, mas isso levaria à colocação de uma reserva”, pelo que “decidimos no interesse dos associados que era melhor assumir o valor que os auditores consideravam”, diz o responsável.
Mesmo assim, sublinhou, “o valor do banco que está nas contas foi assumido pela administração”, diz Virgílio Lima, embora mostrando a discordância de base. “Mas, na verdade, entendemos que este valor deverá ser ponderado pelo seguinte: o valor da avaliação de qualquer ativo financeiro desta natureza é feito pela escolha do maior entre o valor de mercado e o valor de uso“, isto é, “a utilidade que está para além desse valor imediato e que o acionista valoriza”.
O valor de uso é muito grande. Desde logo, nós vivemos geminados durante 175 anos, a rede de distribuição da mutualista são os balcões do banco. Quanto custa criar uma rede de distribuição autónoma? Quanto vale isso?”, questionou Virgílio Lima.
Este “valor de uso” é um aspeto que, a julgar pela análise do presidente do conselho de administração, está a ser desprezado pela auditora PwC, que apenas se focou na comparação do valor de mercado do Banco Montepio com outros bancos minimamente comparáveis.
Houve, na opinião de Virgílio Lima, uma “abordagem conservadora” da PwC que quis “comparar [o Banco Montepio] com valores de mercado de outras entidades e nos viam como não tendo esse valor de uso”. Sendo certo que esse valor “não é facilmente mensurável, não o valorizaram suficientemente”, defende Virgílio Lima.
O valor de um banco tem por base o seu plano de negócios futuro. A PwC começou por contestar esse plano de negócios – olhou para os últimos anos e considerou que seria dificilmente exequível. Mas a comissão executiva considerou exequível o plano de negócios”.
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Esse “valor de uso”, que é relevante para o valor da mutualista, não garante, porém, que o Banco Montepio se consiga financiar nos mercados de dívida a valores mais baixos – pelo contrário, após o corte do rating anunciado na terça-feira pela agência Fitch, a administração reconhece que as taxas de juro em eventuais emissões futuras podem sair a custos mais proibitivos.
Ainda assim, Virgílio Lima diz não “compreender” quando se fala em apoio público à instituição. “A associação não é uma sociedade de capital. A situação é de cobertura de responsabilidades, há potencial de realização de valor, o banco está capitalizado – não compreendemos”. Ou seja, Virgílio Lima diz que não é uma questão de “descartar, é de não compreender” porque é que o debate surge amiúde.
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Virgilio Lima sublinha que gostaria que o banco “acelerasse” o trabalho de redução dos ativos não-rentáveis, algo que, garante, irá libertar a instituição de ativos muito consumidores de capital, ao mesmo tempo que resultaria em algum encaixe. Há planos nesse sentido, sublinha, sem quantificar ou calendarizar a redução de um conjunto de ativos problemáticos que ascende, neste momento, a dois mil milhões de euros (crédito cerca de 1.500 milhões e 500 milhões em imóveis).
O presidente do conselho de administração adiantou, também que está para ser aprovado “a breve trecho” a nova proposta de estatutos que está no Ministério do Trabalho, Solidariade e Segurança Social. Será uma aprovação “provisória”, explicou, mas que passará a definitiva de algumas “questões de forma”.
O que não está no horizonte, diz Virgílio Lima, é falar em novas eleições para a administração existente – apenas para a nova assembleia de representantes que será criada. Questionado pelo Observador, o presidente do conselho de administração sublinhou, também, que a idoneidade de todos os membros atuais do conselho de administração foi registada pelo regulador, a ASF, no final do ano. E garante que não tem conhecimento de quaisquer processos de averiguação ou factos que pudessem colocar em causa a idoneidade de nenhum dos membros atuais do conselho de administração.
(em atualização)