O João Veloso, o Martim Vieira, a Filipa Gouveia e a Rita Rebelo são amigos e estudantes na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT). Como a maioria dos portugueses, tiveram de ficar fechados em casa em março, abril e maio, “cada um em seu distrito”. O que é que fizeram? Criaram a Save Cook, uma app de partilha de receitas, que permite saber que produtos estão em promoção e em que supermercado. Ao todo, investiram “cerca de 200 euros” — 72 horas depois do lançamento, a app já tinha sido instalada mais de mil vezes.

A SaveCook foi lançada a meio de junho para o sistema iOS, da Apple, e Android, da Google, após “dois meses de trabalho”, conta João ao Observador. Dos quatro, só a Rita é que é “mais nova”, de resto têm todos 23 anos. Além de serem estudantes de Engenharia Eletrotécnica (a Filipa e o Martim) e de Engenharia Informática (a Rita e o João), são também “fãs de gastronomia”.

“Com a quarentena pensámos que devíamos estar todos em casa e nos primeiros dias tínhamos comida em excesso”, conta João. Estavam a falar numa conversa no Discord, uma plataforma para conversas de grupo, e pensaram: “Seria engraçado fazer uma aplicaçãozinha para partilhar com os amigos as receitas”.

O trabalho não foi fácil. O João “andava com a tese”, que é necessária para a conclusão do curso. Mesmo assim, decidiram avançar com o projeto. “Com a transformação [dos comportamentos da sociedade] vimos que os supermercados, menos o Lidl, estavam a apostar no digital e estão a apostar ainda mais”, explica. Graças a isto, podiam usar os sites dos supermercados e recolher a comparação para fazer comparação de preços. A partir daí, o projeto começou a funcionar: “Começámos a ver que em termos técnicos seria possível fazer isso”, explica o João.

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[Os quatro estudantes criaram a app durante a quarentena e utilizaram o Facebook para conseguir os primeiros utilizadores]

https://www.facebook.com/104362951281105/videos/318968855796474

Com a app feita, a 10 de junho decidiram partilhá-la num “grupo fechado da Bimby Portugal”, no Facebook, com mais de 26 mil membros. A jogada foi certa. “Em 72 horas”, tiveram mais de mil instalações e chegaram às tabelas nas duas lojas de aplicações. “Mandaram-nos imensas mensagens, foi aí que percebemos que era uma aplicação com sucesso”, conta João. Depois, aproveitaram a deixa para falar com Fátima Rodrigues professora subdiretora adjunta na FCT. “Deu-nos os parabéns e algum e ajuda na divulgação”.

Esta não foi a primeira app dos estudantes. No passado, já tinham feito aplicações para a faculdade devido a pertencerem ao Núcleo de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (NEEC), do qual João é presidente. “Comecei a fazer apps para eventos internos e fomos convidados depois pela faculdade para fazer a app da Expo FCT”, diz. Para já, ainda nem criaram oficialmente uma empresa, mas João diz que querem aproveitar este primeiro arranque para “parcerias com supermercados” e pensar noutros voos.

“Cerca de 200 euros” para criar uma app de receitas

“Entrámos com o nosso próprio dinheiro, dividimos por nós os custos. Estamos a falar de 100 euros de iOS, 25 para o Android, 40 do servidor. Cerca de 200 euros. Não há-de chegar”, revela João. Ao todo não puseram mais dinheiro do que isso, afirma. Mesmo o design do site que criaram, “foi a Filipa que fez”. Inicialmente o objetivo era criar a app e pô-la a funcionar, mas o que vem a seguir?

De acordo com o João, “de momento nem estamos propriamente a recolher dados”, revela. “Nem é possível saber qual é o artigo mais comparado” e, “por causa do RGPD (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados) levaram todas as regras ao “máximo da letra”. Agora, com o sucesso, estão a pensar no próximo nível, mas tudo vai depender desta fase, diz o estudante. “Vai depender da adesão. Estamos mais focados em criar uma aplicação que faça sentido e ter realmente receitas”, refere.

O feito foi, inclusivamente, partilhado pela própria faculdade, que refere que a app tem “funcionalidades inovadoras”. “A plataforma, além de  partilhar receitas, permite fazer o planeamento semanal, cria a lista de compras automaticamente e ainda indica onde cada artigo é mais barato”. No final, a app é um “dois em um”. Resta saber o que os estudantes vão conseguir no futuro.