Os fabricantes de automóveis tradicionalmente vendem acessórios. De volantes especiais a capas de assentos, passando por sapatos, luvas gravatas, botões de punho e roupas, há de tudo com o símbolo da marca, para alimentar a paixão dos fãs. E há artigos caros, sobretudo se entrarmos no capítulo dos relógios e itens similares, mas dificilmente algum terá um preço tão “louco” quanto os calções que a Tesla colocou à venda. São em cetim vermelho e exibem a inscrição “sexy” bordada na parte de trás, custando “apenas 69.420$”. E os algarismos são importantes para Elon Musk, o CEO da Tesla, pois se o 69 tem uma conotação sexual, já o 420 tem a ver não só com um código para marijuana, como remete para o valor das acções quando Musk chegou a divulgar a pretensão de retirar a Tesla da bolsa.

É certo que Elon Musk já comercializou coisas bem estranhas através das suas empresas, como um lança-chamas da The Boring Company, que curiosamente denominou “Not-a-Flamethrower”. Mas estes calções, que estão mesmo à venda na página do fabricante, permitiram ao empresário fazer uma brincadeira em torno do preço – no tweet, o CEO escreve propositadamente 69.420$ quando, na realidade, serão 69,42$, pois à semelhança do Euro, também no dólar a parte mais pequena é o cêntimo.  A provocação dos “short shorts” destina-se a acicatar os short sellers, que durante anos apostaram contra a Tesla (e ganharam muito com isso) realizando short selling, que consiste em pedir grandes quantidades de acções emprestadas para as vender antes de um determinado evento (como um anúncio de resultados ou a apresentação de um novo produto), apostando que o preço vai cair, para depois as comprar, devolver ao dono, pagar o serviço e ainda ter lucro.

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Os short sellers pressionam para baixo o valor das acções, o que sempre irritou Elon Musk. Mas, desde Novembro de 2019, o último a rir tem sido o CEO da Tesla e os seus colegas accionistas, pois as acções não param de subir, cotando-se hoje a 1328,23 dólares, depois de serem transaccionadas a 313,31$ a 1 de Novembro. Com este ritmo de valorização, os short sellers têm perdido milhões nos últimos raids contra a Tesla.

O último “ataque” foi na véspera do anúncio dos resultados do 2º trimestre, que coincidiu com o fecho da primeira metade do ano, com os “short” mais uma vez apostar que o volume de vendas iria ficar abaixo das expectativas de Wall Street, que previu entre 60.000 e 70.000 unidades. Só que a Tesla atingiu 90.650, o que provocou novo rombo na contabilidade dos short sellers.

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Antes do anúncio dos resultados do 2º trimestre, realizados depois do fecho da bolsa, já Musk saboreava a vitória, uma vez que sabia que iria superar as previsões. Isso tê-lo-á levado a tweetar que “a Tesla vai fabricar fabulosos calções para os short num radiante cetim vermelho, com bordados a dourado”. E no tweet seguinte foi directo ao alvo: “Vou enviar alguns para o Shortseller Enrichment Commissions para os confortar nestes tempos difíceis”, prometeu numa alusão à SEC, a Securities and Exchange Commission (a CMVM norte-americana), que em 2018 multou Musk e a Tesla em 20 milhões de dólares cada, por excesso de “criatividade”.