Por muito que a “gratidão e o amor” pudessem fazer parte do cenário, a doação de 64,9 milhões de euros que o agora rei emérito espanhol Juan Carlos fez a Corinna Larsen, então sua amante, em 2012, foi um negócio, selado com um contrato assinado por ambos.

O documento foi esta quinta-feira revelado pelo jornal El Español, dois dias depois de o El País publicar as respostas de Larsen ao procurador suíço que, em conjunto com os homólogos espanhóis, está a tentar dar como provada a tese de que a doação terá sido a forma que o então rei encontrou para mascarar e proteger parte de uma transferência de 89 milhões de euros que terá recebido em 2008 por parte do governo da Arábia Saudita.

Em causa estarão crimes de corrupção que alegadamente envolvem a construção do comboio de alta velocidade entre Medina e Meca, na Arábia Saudita, por um consórcio de empresas espanholas.

Corinna diz que recebeu 65 milhões de euros de Juan Carlos como “sinal de gratidão e amor”

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Celebrado em junho de 2012 — por “S.M. Juan Carlos I, rei de Espanha (Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón)” como doador e “Corinna zu Sayn-Wittgenstein”, que para o efeito preferiu usar os sobrenomes do segundo ex-marido, como donatária —, o documento tem apenas duas páginas e quatro cláusulas, que asseguram que o dinheiro, uma vez na posse de Corinna, nunca poderá ser reclamado pelos herdeiros legais do doador — leia-se as infantas Cristina e Elena e o atual rei, Filipe VI, que recentemente renunciou a qualquer herança que pudesse vir a receber em caso de morte do pai.

“O doador é o primeiro beneficiário de uma fundação que tem ativos bancários atualmente estimados em mais de 65 milhões de euros”, pode ler-se no contrato. “O doador deseja fazer uma doação irrevogável destes bens ao doador, que aceitou.”

Para além de prova da transação, blindada de forma a que, mesmo “em caso de morte do doador”, o dinheiro permanecesse nas mãos de Corinna, o contrato também atesta que Juan Carlos é efetivamente o beneficiário da Lucum, a fundação com sede no Panamá alegadamente criada unicamente para receber a transferência do rei saudita Abdullah bin Abdulaziz al-Saud, em 2008, e que o rei emérito nunca reconheceu deter.