O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comutou a pena de prisão do seu amigo e antigo conselheiro Roger Stone, que foi condenado em fevereiro a 40 meses de prisão, anunciou sexta-feira a Casa Branca.
Roger Stone tinha sido condenado por mentir ao Congresso, obstruindo e manipulando testemunhas no contexto da investigação da investigação sobre a interferência russa durante a campanha presidencial norte-americana de 2016.
A ida para a prisão do antigo conselheiro estaria agendada para a próxima semana.
Hoje [sexta-feira], o Presidente Donald J. Trump ordenou uma clemência executiva para comutar a injusta sentença de Roger Stone”, disse a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, numa declaração.
Roger Stone, acrescentou, “já sofreu muito. Foi tratado de forma muito injusta, tal como muitos outros neste caso. Ele é agora um homem livre”.
Ao contrário de um indulto presidencial, que livraria Stone dos crimes pelos quais foi condenado, a ação de Trump ao comutar a sua sentença apenas levanta a sua punição de 40 meses de prisão.
Na declaração da Casa Branca lê-se que Stone enfrentou “uma acusação injusta, prisão e julgamento” e que, apesar da condenação, “mantém a sua inocência”, pelo que merece, de acordo com a Casa Branca, a oportunidade de defender novamente o seu caso em tribunal.
Além disso, a Casa Branca citou os riscos para a saúde de Stone que seriam colocados pelo seu encarceramento devido à pandemia da Covid-19.
Stone foi condenado após semanas de lutas internas no Departamento de Justiça, tendo o Procurador-Geral dos EUA, William Barr, emitido uma recomendação instando a que o pedido inicial de punição fosse reduzido.
Esta recomendação de Barr levou vários procuradores que trataram do caso a demitirem-se e a denunciarem a pressão de altos funcionários do Departamento de Justiça para tratar Stone “de forma diferente e mais condescendente” durante o seu julgamento, devido à sua relação com Trump.
Democratas vão investigar decisão de Trump
O Partido Democrata anunciou este sábado que vai investigar os motivos e as circunstâncias da decisão de Donald Trump.
Duas comissões da Câmara dos Representantes, que é controlada pelos Democratas, vão solicitar informações aos serviços jurídicos da Casa Branca sobre as circunstâncias que levaram à comutação da sentença de Stone, além de documentos do Departamento de Justiça relacionados com o caso do antigo consultor político, condenado na sequência da investigação à interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016.
A líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, não deixou de considerar a decisão de sexta-feira de Trump “um ato de corrupção chocante” e assegurou através de um comunicado que o Partido Democrata vai procurar alterar a lei, no sentido de limitar os poderes presidenciais sobre comutação de sentenças em relação a casos ligados ao presidente.
O Congresso vai tomar medidas para prevenir este tipo de irregularidades flagrantes. É necessária legislação para assegurar que nenhum presidente possa perdoar ou comutar a sentença de uma pessoa que se tenha envolvido numa campanha de encobrimento para proteger esse presidente de processos criminais”, referiu Pelosi.
Também o candidato democrata às próximas eleições presidenciais, Joe Biden, demonstrou a sua indignação perante este caso, ao defender que Donald Trump “abusou uma vez mais do seu poder” enquanto presidente dos EUA e apelou aos eleitores para “fazerem ouvir a sua voz” nas urnas.
Já no Partido Republicano, o senador Mitt Romney — ex-candidato presidencial em 2012 e único republicano a votar em fevereiro a favor da destituição de Trump no processo relacionado com as pressões sobre a Ucrânia para investigar Biden — foi o único a criticar abertamente o presidente americano por evitar a entrada de Roger Stone na prisão, que estava prevista para a próxima semana.
Caracterizado pelo seu estilo provocador, Stone é um veterano consultor político republicano cujos clientes incluíam os antigos presidentes Ronald Reagan (1981-1989) e Richard Nixon (1969-1974) e cujo lema favorito é “Nada admitir, negar tudo, e ripostar”.
Stone, que aconselhou Trump durante anos e trabalhou até agosto de 2015 na sua campanha eleitoral, foi detido pelo FBI em janeiro de 2019 em Fort Lauderdale, Florida.
De acordo com a Procuradoria-Geral dos EUA, Stone atuou como ligação entre a campanha de Trump 2016 e a plataforma WikiLeaks, que divulgou e-mails roubados do Comité Nacional Democrático, prejudiciais para a campanha da candidata presidencial de Hillary Clinton.
Stone foi condenado como parte da investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller da conspiração russa, que exonerou Trump de ter conspirado com a Rússia durante o processo eleitoral de 2016, mas lançou dúvidas sobre a capacidade do Presidente para obstruir a investigação.
Ex-consultor de Trump foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão
Artigo atualizado às 22h51 com as reações do Partido Democrata, do candidato democrata às próximas eleições presidenciais, Joe Biden, e do senador Mitt Romney