A Covid-19 foi péssima para a economia dos países, bem como para a situação financeira de muitas empresas, especialmente aquelas de capital intensivo. Os construtores de automóveis são um bom exemplo como vítimas da pandemia, uma vez que, depois de meses com fábricas e stands de vendas fechados, retomaram a produção, mas os clientes continuam a não demonstrar grande vontade em abrir a carteira. Daí que não espante que as empresas dedicadas à fabricação de veículos figurem entre as mais endividadas do mercado.
A situação é ainda mais grave considerando que, em 2019, muito antes da pandemia, os construtores de veículos já figuravam entre as companhias mais endividadas, como prova um estudo realizado pela Janus Henderson. Sucede que a Reuters estima que os fabricantes se preparam para incrementar substancialmente a dívida este ano, assumindo novos compromissos para 2020 num total de 1 bilião de dólares (1 bilião em português, ou seja, um milhão de milhões, por se tratar de “one trillion” em inglês).
No estudo da Janus Henderson, relativo a 2019, que visou determinar o nível de endividamento das 900 maiores empresas, há surpresas para todos os gostos, mesmo aquelas que apontam para volumes de dívida superiores a muitos países de algumas das companhias analisadas. E, entre os diversos sectores visados no estudo, salta à vista que a indústria automóvel está na pole position pois, no top 10 das mais endividadas, há cinco fabricantes de automóveis.
No ranking, é o Grupo Volkswagen que lidera entre as empresas com maior volume de dívida, com 192 mil milhões de dólares, com a Daimler na 3ª posição, com 151 mil milhões dólares, a Toyota no 4º lugar (138 mil milhões), a Ford em 7º (122 mil milhões) e BMW em 8º (114 mil milhões). O top 10 é completado por três empresas na área das comunicações (AT&T, Verizon e Comcast), um investidor (SoftBank) e um produtor de cervejas (Anheuser-Busch).
Para se ter uma ideia real da dimensão dos estragos nas finanças destas empresas, estes volumes de dívida são superiores ao endividamento de muitos países, com a Reuters a dar como exemplo da África do Sul (180,1 mil milhões de dólares) e a Hungria (101,9 mil milhões de dólares). Se os analistas pretendessem “suavizar” o problema das empresas endividadas, bastava-lhes recordar a situação portuguesa que, no início de Julho de 2020, atingiu 264,4 mil milhões de euros, o que em dólares americanos equivale a 302,2 mil milhões.