Encostado a uma das entradas do estádio na Vila das Aves, Jacinto Magalhães, sócio do Desportivo das Aves há mais de 50 anos e presença em vários momentos do clube, não esconde a tristeza com o que se está a passar. “É uma pena um clube destes, ao fim de tantos anos, estar assim”, desabafa ao Observador, enquanto olha com atenção para os jogadores que vão saindo do treino desta segunda-feira. O primeiro impasse ficou tratado esta manhã: depois de a SAD do Desportivo das Aves ter ameaçado não jogar contra o Benfica esta terça-feira devido à falta de pagamento do seguro de saúde dos jogadores, a situação ficou resolvida numa reunião entre a Liga de Clubes, a administração da sociedade e o presidente dos avenses.

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“A situação dos seguros está resolvida e o clube assumiu-a. Há mais duas ou três situações, de montantes mais pequenos, que também estão ultrapassados. Com dizem os treinadores, é jogo a jogo. Com o Benfica quase a 100% que vamos jogar e não falta mais nada. Frente ao Portimonense será outra luta”, referiu esta manhã aos jornalistas António Freitas, presidente do Desportivo das Aves. Com o primeiro obstáculo resolvido, os jogadores apresentaram-se às 17h junto ao estádio para treinar, algo que desta vez aconteceu mesmo. Antes das 17h30, o treinador Nuno Manta Santos também chegou e a Direção do clube esteve em peso no treino.

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Os adeptos, no entanto, estão descontentes com o cenário e atiram críticas à SAD do clube. Para muitos, o cerne do problema está no facto de a SAD controlar 90% do futebol profissional do Aves. “Há muita coisa aqui que ninguém sabe. O clube quer compor as coisas mas eles não deixam”, atira Gabriel Sousa, outro dos sócios do Desportivo das Aves que marca presença em frente ao estádio para acompanhar o clube e que esta segunda-feira não quis deixar de ver se o treino ia mesmo acontecer. Margarida Machado, também sócia avense, é da opinião de que “o clube deveria, no mínimo, ter 50% da SAD” para conseguir ter algum poder de decisão. “A SAD deveria ser controlada pelo clube e não terem uma participação mínima como têm”, explica, acrescentando também que acredita que a direção “fará tudo para o Aves não ir parar às distritais”.

Além do treino desta segunda-feira ter sido cumprido, a direção do clube cedeu também o pavilhão ao lado do estádio para que os jogadores, treinadores e outros funcionários realizassem também os testes à Covid-19, com autorização do departamento clínico. No total, 23 jogadores foram testados.

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António Faria, sócio há mais de 30 anos, vai conversando no passeio sobre tudo o que se passa no Aves. E não tem dúvidas: “Ninguém vê isto com bons olhos, de maneira nenhuma”. Os adeptos, conta, “sentem-se tristes, porque isto é um clube das Aves, da Vila das Aves e toda a gente tem amor ao clube”. “Agora entrou o novo presidente para ver se dá a volta a isto. O Aves não tem Câmaras por detrás deles, é o esforço dos adeptos, dos sócios e isto é deles. Foi o Aves que fez isto. Somos do clube e estamos com o clube, mas não temos ninguém, de todas as administrações, que dê um bocadinho de alento à Vila das Aves. Não há. Andamos aqui esquecidos”, refere ao Observador.

Gabriel Sousa admite que “a luz ao fundo do túnel pode aparecer”, mas acredita que “só quando sair a auditoria do clube é que se vai saber a verdade toda”. Antes de tudo isso acontecer, “isto ainda vai piorar”. “Venho ver os treinos e acompanharei o Aves na primeira, na segunda, na terceira divisão ou na distrital. Enquanto um avense respirar, o clube viverá”, garante. A mesma segurança tem Jacinto Magalhães, que acompanha todas as modalidades do Aves e garante que se ganhasse o Euromilhões seria para apostar no clube e ajudar a voltar a conquistas como a de há dois anos no Jamor. “Nem que vá para as regionais, vou continuar a apoiar”.

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A prioridade, referem os adeptos, está agora em assegurar que o clube vai conseguir inscrever-se na Segunda Liga e manter a possibilidade de jogar com equipas profissionais. Ainda falta saber como será o jogo com o Portimonense e como é que tudo se vai desenrolar depois. Mas, até lá, António Faria tem uma certeza: “O Aves já teve algumas descidas, entre a segunda e a primeira, e espero que não desça da segunda para a regional. Vamos conseguir lutar. Os avenses vão puxar pelo clube, não se deixam abater”.

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