A manifestação convocada pelo SOS Alcanena para esta sexta-feira à noite foi cancelada por incumprimento dos prazos legais, mas o movimento estará na reunião da Assembleia Municipal para manifestar a insatisfação da população com mais um episódio de poluição atmosférica.

Ricardo Rodrigues, do Movimento SOS Alcanena, admitiu à Lusa a falha no aviso atempado das autoridades, mas salientou que os pressupostos do protesto se mantêm, estando os cidadãos no seu direito de comparecer na Assembleia Municipal agendada para as 20h30 desta sexta-feira no cineteatro S. Pedro, em Alcanena (Santarém), para mostrarem a sua indignação pela persistência de episódios de poluição atmosférica no concelho.

Sublinhando que os elementos do SOS Alcanena estarão presentes enquanto cidadãos, o movimento lembra que “se alguém quiser aparecer está no seu direito, mas responde por si”, lembrando as restrições impostas devido à pandemia da Covid-19.

Na convocatória da manifestação, o movimento refere os cheiros “nauseabundos”, que se intensificam no verão, tornando “insuportável” a vida da população do concelho.

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Segundo o movimento, os maus cheiros resultam da libertação de H2S (Sulfeto de Hidrogénio) no ar de Alcanena, “um gás particularmente prejudicial para a saúde” que leva “a população a uma morte lenta”.

A presidente da Câmara de Alcanena, Fernanda Asseiceira (PS), confirmou à Lusa a ocorrência de “outra crise”, entretanto resolvida durante o fim de semana, lamentando que continuem a existir industriais que não cumprem com as regras, pondo em causa todo o sistema.

Segundo a autarca, foi possível detetar que as descargas de hidrocarbonetos na rede, ocorridas no início do mês, tiveram origem no emissário da Gouxaria (um dos três que conduz águas residuais até à Estação de Tratamento de Águas Residuais), tendo sido realizadas análises que confirmaram a presença daquele químico, sem, contudo, ser possível identificar a ou as indústrias em concreto.

O movimento SOS Alcanena lamenta a “falta de consideração da indústria poluente e a incompetência do poder autárquico”, salientando o “desânimo e saturação” da população, “que não parece disposta a tolerar mais um verão de maus-odores intensos e ar poluído” que provocam “vómitos, dores de cabeça ou garganta irritada”.

Lamentando viver “num concelho com um dos IMI mais altos da região”, os subscritores descrevem como, “com um calor insuportável”, têm de “circular de carro com os vidros fechados” e “fechar todas as janelas em casa e, mesmo assim, acordar com a casa empestada a ‘ovos podres’, ou ficar privado do que é um direito básico: respirar ar puro!”.

Fernanda Asseiceira afirmou ser “a primeira a reconhecer que a população só pode estar muito desagradada, inquieta e preocupada”.

O movimento SOS Alcanena tem em curso a recolha de assinaturas para uma petição a enviar ao Comissário Europeu para o Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, exigindo a intervenção da Comissão Europeia para “resolver com efeitos imediatos o problema de saúde pública que se vive em Alcanena” e promover “a monitorização dos maus-cheiros e emissões de gases prejudiciais à saúde, nomeadamente sulfeto de hidrogénio, por um período de, no mínimo, cinco anos”.