Os professores só serão vacinados prioritariamente contra a gripe sazonal se fizerem parte dos grupos de risco, ou seja, se tiveram mais de 65 anos ou se tiverem alguma doença crónica. “A vacinação contra a gripe sazonal é feita de acordo em todo o mundo, não só em Portugal, segundo critérios de risco para proteção daqueles que mais beneficiam com ela. Também este ano será assim”, afirmou Graça Freitas durante a habitual conferência de imprensa de sexta-feira sobre a situação epidemiológica em Portugal.
A diretora-Geral da Saúde salientou que a prioridade do Ministério da Saúde serão os utentes dos lares de terceira idade. “A nossa primeira prioridade são os lares, as pessoas que estão nos lares. Faz parte da estratégia de proteção. Estas pessoas estão em sítios circunscritos, estão juntas, tem uma idade que é habitualmente avançada e geralmente tem doença associada, portanto estes serão os primeiros de grande grupos a vacinar”, afirmou, lembrando que, este ano, o Governo adquiriu o maior número de vacinas contra a gripe alguma vez adquirido — 2 milhões de doses.
Já o número de consultas não realizadas em Portugal comparativamente ao ano anterior será menor do que o adiantado pela Ordem dos Médicos. Na conferência de imprensa desta sexta-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, defendeu os números da tutela: uma quebra de 1 milhão de consultas num universo de 31 milhões (dados de 2019) e não de 3 milhões, valor que se refere apenas às consultas presenciais. Segundo Temido, houve “cerca de 2.8 milhões de consultas médicas não presenciais”.
“É importante que se tenha bem presente que os profissionais de saúde fizeram muitos atos de saúde, e ainda bem que o fizeram, através de outros meios de prestação de cuidados de saúde, que representam para nós cerca de 2,8 milhões de consultas médicas não presenciais em cuidados médicos primários”, disse a ministra. “É por isso que uns falam em 3 milhões e outros falam de 1 milhão.”
Temido admite que contacto com centros de saúde tem de ser melhorado. Ministério tem em curso projeto de “tele-saúde”
Confrontada com a notícia publicada esta sexta-feira no Público que dá conta de falhas de comunicação com os centros de saúde, que não atendem as chamadas dos utentes, a ministra admitiu que existem pontos que podem e devem ser melhorados e revelou que está em curso um projeto para melhorar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “em termos de tele-saúde”.
“É um facto que quando incentivamos os contactos não presenciais temos de melhorar as formas pelas quais os utentes têm de aceder a esses atos. Por isso, temos em curso um projeto de reforço do SNS em termos de tele-saúde”, revelou Marta Temido.
Já é uma linha que temos vindo a desenvolver. O atendimento do SNS 24 mostra aquilo que foi a possibilidade que tivemos de responder com novos meios de proximidade e de comodidade às necessidades dos nosso utentes. E vamos continuar a reforçar essa linha, ainda que saibamos, inclusivamente pelas nossas próprias experiências de utentes, que isso nem sempre e fácil. São aspetos que importa melhorar”, concluiu a governante.
Valores do estudo serológico “indicam que houve uma baixa circulação do novo coronavírus na população portuguesa”
A coordenadora do Inquérito Serológico Nacional Covid-19, realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), esteve também na conferência de imprensa a explicar alguns dos dados relativamente ao estudo, divulgado esta sexta-feira.
De acordo com Ana Paula Rodrigues, os valores do estudo “indicam que houve uma baixa circulação do novo coronavírus na população portuguesa, muito provavelmente relacionado com as medidas de saúde públicas instituídas logo no início da pandemia” e que era esperado Portugal ter uma seroprevalência (proporção de pessoas com anticorpos contra o novo coronavírus) baixa, uma vez que “não tivemos uma epidemia intensa” no país.
Considerou ser “um dado esperado” o facto de a proporção de pessoas com anticorpos (cerca de 290 mil) ser superior aos casos reportados pelo sistema nacional de vigilância. “Estranharíamos que este número fosse inferior ao número de casos reportados. É um resultado que é também encontrado noutros estudos e que se justifica pelo facto de algumas pessoas terem sintomas mais ligeiros e fazerem o seu isolamento profilático em casa, sem procura de cuidados”, afirmou.
“Se tivermos em conta que, por cada caso que é notificado, há muitas pessoas que são testadas que ficam em isolamento e que fazem a suas medidas de proteção, não estaremos certamente longe do valor que estimamos.”
Quanto aos valores semelhantes encontrados entre os grupos etários, Ana Paula Rodrigues explica que essa situação tem a ver com a prevalência da infeção em Portugal. “Não quer dizer que não existam efetivamente diferenças se tivéssemos um nível de prevalência mais elevado, mas são valores muito pequenos para ser possível determinar que eles sejam diferentes”.
A proporção de pessoas com anticorpos contra o novo coronavírus (seroprevalência) é superior na região de Lisboa e Vale do Tejo — “à data do estudo tinha um maior número de casos” — e o Alentejo registou o nível mais baixo. No entanto, segundo a coordenadora do estudo, não é possível considerar que “haja diferenças importantes entre as regiões de saúde”.
Quanto ao facto de se terem encontrado uma valor de anticorpos mais elevado nas pessoas com ensino secundário face àquelas com ensino superior, Ana Paula Rodrigues diz que se pode interpretar esta situação com o facto de “poderem ter sido” as pessoas com ensino secundário “a trabalhar mais durante este período”.
Apesar de os anticorpos conferirem “algum nível de proteção”, Ana Paula Rodrigues refere que, “pelo princípio da precaução em saúde pública” e uma vez que se trata de uma infeção pouco conhecida, devem manter-se as medidas de proteção, seja a nível individual, seja a nível coletivo, e sublinhou a importância de se repetirem estes estudos “periodicamente” para monitorizar a evolução e perceber “se há diferenças que entretanto sejam notadas”.
O período da recolha de amostras coincidiu com um “decréscimo da atividade epidémica, mas “na fase mais final do período de trabalho de campo”, coincidiu “com o aumento da atividade epidémica na Área Metropolitana de Lisboa”.
INSA pretende realizar outros estudos, mas em data ainda por precisar
A coordenadora do Inquérito Serológico Nacional Covid-19 explicou que este primeiro estudo serológico “teve um objetivo e uma necessidade de ter informação rápida” e útil. “Foi isso que norteou a metodologia de escolha da amostra e do número de participantes”, afirmou Ana Paula Rodrigues, acrescentando que foi usada uma metodologia igual à “usada noutros serológicos do género”. “Tem limitações esta opção, tal como outras opções tem outras limitações de representatividade.”
Quanto à determinação aleatória dos concelhos, Ana Paula Rodrigues adiantou que foram selecionados de forma a ter “uma distribuição geográfica e por grupos etários que fosse representativa da população portuguesa”. Sobre a realização de novos estudos, a coordenadora adiantou que ainda não há datas específicas, mas considerou que a prioridade é “manter esta vigilância do nível de anticorpos na população portuguesa”, ou seja,”repetir estudos deste género com amostras também de dimensão bem diferente, porque haverá questões e objetivos diferentes”.
40% a 70% da população tem de ficar imune ao novo coronavírus para que haja imunidade de grupo
Questionada sobre as percentagem de população que tem de ficar imune ao vírus para que haja imunidade de grupo, Ana Paula Rodrigues explicou que “há vários modelos matemáticos que apontam que é preciso que 40 a 67-70% da população fique imune. A especialista salientou, no entanto, que estes são apenas valores “possíveis”, pois não é possível saber a resistência dos anticorpos criados e se é possível alcançar esses valores.
Sobre quanto tempo levará até que a população portuguesa fique imune, Ana Paula Rodrigues indicou que, “nesta altura”, é algo que não se sabe. “O objetivo das medidas de saúde pública é limitar a circulação do vírus. Neste momento desconhecemos o comportamento do vírus.”