Um estudo publicado pela revista Nature mostra que há quem não tenha tido Covid-19 mas que, ainda assim, tenha um tipo de células que são capazes de identificar e atuar contra o novo coronavírus: os linfócitos T. Os investigadores perceberam que em 85% dos casos analisados entre os infetados tinham estas células, mas também em 35% dos participantes analisados que não tinham sido infetados havia também presença destas células.

Ao tentarem perceber estes resultados, os investigadores concluíram que como este novo coronavírus tem algumas semelhanças com o “os coronavírus que provocam os resfriados comuns”, as “células T de indivíduos saudáveis reagem ao SARS-CoV-2 porque estiveram já expostas previamente aos coronavírus endémicos do resfriado comum”, explica uma das autoras do estudo, Claudia Giesecke-Thiel, citada pelo El Mundo.

“Uma das características das células T é que não são apenas ativadas por um patógeno com um ajuste exato, mas também patógenos semelhantes”, um fenómeno conhecido por reação cruzada, disse.

De acordo com o artigo da Nature, é possível que esta reação cruzada acabe por ter um efeito protetor, ajudando o sistema imunitário a produzir mais anticorpos contra este novo coronavírus. “Neste caso, um recente resfriado comum poderia resultar em  sintomas menos severos de Covid-19”.

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Apenas 2,9% da população em Portugal tem anticorpos contra o novo coronavírus. Não basta para imunidade de grupo

Neste momento não é possível assegurar, porém, que todas as pessoas que tenham sido infetadas estejam completamente imunes. Um trabalho do Instituto de Investigação da Sida de Barcelona mostra que 44% das pessoas a quem foi diagnosticada a Covid-19, e que tiveram sintomas leves ou ficaram mesmo assintomáticas, têm um nível de anticorpos neutralizantes muito baixo. Metade delas não tem sequer atividade neutralizante — o que significa que pode contrair novamente a doença.

E estas conclusões tornam também tudo mais incerto. Pode só afirmar-se, para já, que até agora não há nenhum caso de reinfeção registado no mundo inteiro, o que pode, pelo menos, significar que quem já foi infetado tem imunidade de, pelo menos, sete meses, o tempo que leva o vírus desde que foi identificado.

A ideia de fazer testes serológicos e perceber quantas pessoas já estiveram expostas ao vírus pode, à partida, servir para deixar quem já esteja imune seguir uma vida normal, mas nem isso é possível afirmar agora. Até porque surge também outra questão: mesmo protegidos contra o novo coronavírus, podem estas pessoas transportá-lo e contaminar alguém? Para o espanhol Benito Almirante, porta-voz da Sociedade Espanhola de Doenças Infecionas e Microbiologia Clínica, isto é possível.