A tragédia lenta da Covid-19 e a tragédia imediata que foi a explosão no porto de Beirute que fez pelo menos 181 mortos e mais de 6.500 feridos assoberbou os hospitais do Líbano de tal maneira que o Governo decretou esta sexta-feira o regresso ao confinamento a nível nacional que ficará em vigor nos próximos 17 dias.
A medida foi anunciada na quarta-feira e posta em prática esta sexta-feira. De acordo com o que foi anunciado pelas autoridades, estará em vigor um regime de recolher obrigatório entre as 18h00 e as 6h00 de cada um dos 17 dias a contar desta sexta-feira, inclusive, em todo o país — com exceção para as zonas afetadas pela explosão de 4 de agosto.
De acordo com o jornal francófono libanês L’Orient-Le Jour, serão fechadas as lojas, os centros comerciais, mercados, cafés e bares, além de parques públicos e piscinas. Os restaurantes continuarão a funcionar exclusivamente em regime de take-away e entregas ao domicílio.
Ao todo, o Líbano já registou 11.580 casos de contágio de Covid-19, dos quis 116 resultaram em morte dos infetados. Esta sexta-feira, as autoridades anunciaram três novas mortes e 62 novos casos em todo o país nas últimas 24 horas. Ao todo, há 269 pacientes hospitalizados, dos quais 73 estão em cuidados intensivos.
Primeiro dia de confinamento pouco respeitado, ministro ameaça publicar nomes dos infratores
Ainda assim, e novamente segundo aquele jornal, que cita a ANI (Agência Nacional de Informação, do Governo libanês) o primeiro dia de confinamento não foi totalmente respeitado — com vários restaurantes e lojas em Beirute a abrirem apesar da indicação em contrário. Em várias zonas do país, houve pessoas e comerciantes a serem multados por desrespeito da ordem de confinamento.
“Vamos publicar os nomes dos infratores”, avisou o ministro da Saúde, Hamad Hassan, que à semelhança do restante Governo está demissionário. “Os médicos de cada região vão fazer relatórios diários sobre o respeito das medidas previstas em cada região e nós vamos agir em consequência”, avisou aquele ministro.
O diretor do hospital público Rafic Hariri de Beirute, Firas Abiad, fez um apelo no Twitter para que os libaneses sejam “responsáveis”.
“Será que o público vai cumprir as medidas de segurança? No passado, houve quem encontrasse maneiras para contornar as regras. Houve relatos de festas, casamentos e funerais. Isto porque anular qualquer medida pública”, escreveu Firas Abiad. “As autoridades não podem estar em todo o lado. O público tem de ser responsável.”
E embora reconheça que há custos psicológicos e financeiros associados a mais duas semanas de confinamento, o diretor daquele que é um dos maiores hospitais da capital libanesa sublinha: “O derradeiro objetivo é o de evitar o número crescente de pacientes que precisam de uma cama hospitalar mas que não conseguem tê-la. Já perdemos vidas que cheguem recentemente, não devemos agora perder mais”.
5/5 There is a financial, not to mention a psychological, cost for two weeks of partial lockdown. The ultimate aim is to avoid a mounting number of patients requiring, but not finding, hospital beds. We have lost enough lives recently, we should not lose more.
— Firass Abiad (@firassabiad) August 19, 2020