A contrastar com o luxo das férias que passou nas Caraíbas no começo do ano, o primeiro-ministro britânico optou por um discreto refúgio na costa da Escócia, com a promessa de tranquilidade — pelo menos até esta quinta-feira, quando o jornal Daily Mail, depois de aparecer nas imediações da discreta propriedade em Applecross, captou a rotina dentro de portas do primeiro-ministro durante esta pausa estival, em plena crise dos resultados dos exames. Mas o isolado cenário com vista para o mar está longe de ser a atração principal para as objetivas, já que dificilmente passaria despercebido um peculiar detalhe: uns metros mais adiante da casa onde Boris tem estado instalado com a noiva, Carrie, o filho bebé, Wilfred, e o cão Dilyn, surge uma tenda branca.

Não demorou até que os compatriotas do primeiro-ministro se interrogassem sobre o respetivo propósito. Boris Johnson rumou à Escócia no fim de semana passado e estará de volta ao trabalho na próxima segunda-feira, mantendo-se, segundo o seu gabinete, a par e passo dos assuntos correntes. Ao contrário de alguns dos seus antecessores, preferiu que as suas férias fossem mantidas à distância da imprensa. Com Downing Street a manter o jogo fechado sobre os planos de férias do primeiro-ministro, restou então especular. Seria este um local ainda mais repousado para Johnson poder ler os documentos necessários longe do choro do filho? Estaria a modalidade de campismo desde o começo na lista de preferências? Apresentar-se-ia como um espaço reservado para acolher visitas sem os olhares invasivos dos repórteres? Provavelmente, tornou-se apenas um retiro ainda mais romântico e recatado do que a própria morada.

Certo apenas é que as polémicas estão longe de começar e acabar na pasta da Educação. Como é que o primeiro-ministro fintou a pressão? Armando uma tenda, ironiza o The Guardian. Bom, aqui entramos numa segunda polémica. É que depois da notícia que revelava o paradeiro de Boris, houve desenvolvimentos ao nível local: um agricultor enfurecido acusou Johnson de ter ultrapassado a vedação e montado indevidamente aquela tenda com quase dois metros e meio na sua propriedade. A acreditar em Kenny Cameron, o queixoso em questão e proprietário daquela zona do terreno, o primeiro-ministro foi ainda mais longe: chegou mesmo a acender uma fogueira, cujos vestígios foram ainda fotografados pelo Mail.

Ao mesmo Daily Mail, Cameron disse que encontrou cadeiras junto à vedação que o casal terá utilizado para saltar para o outro lado, em vez de recorrer ao portão. “É educado pedir permissão”, desabafou o homem, que se precipitou para a zona quando um amigo o informou da notícia no jornal. “O senhor Johnson devia liderar o país e não está a dar um grande exemplo”, acrescentou ao tabloide, que conseguiu fotografar ainda o processo de desmontagem da tenda a cargo da entourage de Boris, que entretanto se despedira já deste destino, com um preço semanal de 1500 libras (pouco mais de 1664 euros), dando o descanso por concluído depois de ser localizado pela imprensa.

Na remota comunidade, com pouco mais de 400 habitantes, as autoridades policiais pediram desculpas ao agricultor, alegando que o primeiro-ministro e os seus assistentes não saberiam que aquela área não pertencia à da casa arrendada.

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