O comissário europeu para o Comércio, o irlandês Phil Hogan, não vai apresentar a demissão do executivo comunitário depois de o primeiro-ministro irlandês ter sugerido isso mesmo na sequência de um jantar promovido por uma sociedade de golf, que juntou a elite política e que violou as regras sanitárias da Covid-19 impostas para a generalidade da população.

Segundo o Politico, Hogan divulgou um comunicado a desculpar-se “totalmente e sem reservas” por ter comparecido ao jantar da sociedade de golf Oireachtas na quarta-feira à noite, mas com a certeza de que não se demite do cargo na Comissão Europeia. O pedido de desculpa foi dirigido em particular “aos maravilhosos profissionais de saúde que continuam a pôr as suas vidas em risco para combater a Covid-19” e mostra compreensão por ter “tocado num nervo sensível do povo irlandês”.

“Compreendo que as minhas ações tocaram num nervo sensível do povo irlandês, algo pelo qual lamento profundamente”, lê-se. “Reconheço o risco, stress e ofensa desnecessária que causei aos irlandeses pelo facto de ter ido àquele evento, numa altura tão difícil para todos, e lamento profundamente por isso”, acrescenta ainda.

O caso rebentou no fim de semana, quando o primeiro-ministro anunciou que iria convocar o Parlamento para discutir a alegada violação das regras sanitárias num jantar que reuniu muitas personalidades da política nacional. A primeira baixa, logo na sexta-feira, já tinha sido do ministro da Agricultura, também presente nesse jantar com mais de 80 pessoas.

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A decisão de convocar o Parlamento foi anunciada no domingo pelo primeiro-ministro, Michael Martin, em conjunto com os parceiros de coligação, o vice-primeiro-ministro Leo Varadkar e o ministro Eamon Ryan. Em causa está um escândalo político que já levou à demissão do ministro da Agricultura irlandês, Dara Calleary, no cargo há apenas um mês, que esteve na festa realizada num hotel com muitas outras figuras políticas, como foi o caso do comissário europeu para o Comércio, Phil Hogan.

Eleito para o Parlamento irlandês de 1987 a 2014 e ministro do Ambiente entre 2011 e 2014, Hogan admitiu logo ter participado no evento, começando por garantir no entanto que acreditava “que os organizadores e o hotel em questão […] cumpririam as recomendações governamentais” para prevenir a propagação da Covid-19.

As restrições aos ajuntamentos foram alargadas na Irlanda na passada terça-feira devido a um aumento do número de infetados com o novo coronavírus. De acordo com as novas regras, os ajuntamentos em espaços fechados só podem juntar um máximo de seis pessoas (até terça-feira eram 50) e em espaços abertos um máximo de 15 (antes eram 200), com exceção de serviços religiosos, como missas ou casamentos. O jantar em causa, realizado na quarta-feira juntou 10 pessoas em cada mesa, tendo os convidados ficado divididos por salas de 50 pessoas.

Segundo o Politico, Hogan afirmou ter “ouvido com atenção” as considerações do primeiro-ministro irlandês e do vice-primeiro-ministro, tendo “respeitado” os seus pontos de vista. Sendo Hogan um comissário europeu, o governo irlandês não tem o poder de o demitir de forma unilateral do executivo comunitário. Ainda assim, escreve o Politico, o comissário pode ainda ter de enfrentar mais questões na segunda-feira, depois de também ter sido noticiado que passou pela cidade de Kildare no caminho para o jantar, cidade essa que está em confinamento total, e de ter sido parado pela polícia por estar a usar o telemóvel enquanto conduzia.