Já se sabia que a Covid-19 tende a afetar de forma mais grave os mais velhos em comparação com os mais novos e os homens face às mulheres. Mas um estudo publicado na revista científica Nature vem dar novas pistas sobre a origem dessas diferenças. E a resposta passa pelo sistema imunitário. É que, concluem os investigadores, os homens, particularmente os que têm mais de 60 anos, produzem uma resposta imunitária ao vírus mais fraca dos que as mulheres.

Segundo o estudo, os homens mais velhos têm até duas vezes mais probabilidades de adoecerem mais gravemente e morrerem de Covid-19 do que as mulheres da mesma idade, o que os torna mais dependentes de uma vacina. Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade da Yale e uma das autoras do estudo, diz ao The New York Times que a “infeção natural está claramente a falhar” em desencadear uma resposta imune adequada nos homens.

A equipa de investigação analisou a resposta imune de 17 homens e 22 mulheres que foram hospitalizados por infeção com SARS-CoV-2, excluindo pacientes ligados a um ventilador ou os que tomam fármacos que afetam o sistema imunitário. Também foi analisada a resposta imune de outras 59 pessoas que não cumpriam estes critérios.

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Os investigadores concluíram que as mulheres produzem mais células T (que são responsáveis pela produção de  anticorpos) perante o vírus do que os homens. Quanto mais velhos os homens, mais fraca a resposta das células T e pior será a doença. “As mulheres mais velhas, mesmo as que têm cerca de 90 anos, estão a desencadear uma resposta imunitária decente”, exemplificou Iwasaki.

Segundo o jornal, as conclusões do estudo não são completamente surpreendentes dado que, por norma, as mulheres desenvolvem respostas imunes mais rápidas e fortes. Uma das hipóteses que podem explicar esta tendência é o facto de o corpo da mulher estar preparado para combater os agentes patogénicos que ameaçam os bebés em gestação ou mesmo os recém-nascidos.

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Com estes resultados, Marcus Altfel, imunologista no Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, considera que as farmacêuticas responsáveis pelas vacinas devem analisar os dados que obtenham nas fases de testes por sexo. As conclusões porque podem influenciar as decisões sobre a dosagem, explica.

Podemos imaginar cenários em que uma única dose pode ser suficiente para indivíduos jovens ou talvez mulheres mais jovens, enquanto que os homens mais velhos podem precisar de três doses de vacina”, defende o especialista.

O estudo tem, no entanto, limitações: a amostra é pequena e a média de idades era superior a 60 anos, o que dificulta a avaliação sobre como é que a resposta imunitária muda com a idade. “Sabemos que a idade é um fator muito importante nos resultados e a intersecção entre idade e sexo deve ser explorada, disse Sabra Klein, especialista em vacinas da Escola de Saúde Pública da Johns Hopkins Bloomberg.

Em Portugal, já morreram 911 homens e 896 mulheres com Covid-19, mas o número de mulheres infetadas desde o início da pandemia (30.998) é maior do que o dos homens (25.276).

Um estudo publicado em maio já tinha procurado dar pistas que explicassem por que razão há mais homens a morrerem de Covid-19 quando há mais mulheres infetadas. Os investigadores tinham concluído que os homens então estudados (todos com insuficiência cardíaca) tinham uma maior concentração das chamadas enzimas conversoras de angiotensina 2 (ACE2), os recetores que são usados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas.