Marcelo Rebelo de Sousa foi interpelado por uma cidadã na Feira do Livro do Porto, que se identificou como pequena empresária e, exaltada e aparentemente a filmar a conversa, perguntou ao Presidente da República sobre a falta de apoio estatal às empresas daquele tipo.
“Porque é que não põe a andar esta gente que nos está a fazer morrer?”, perguntou, de telemóvel em punho, presumivelmente a gravar aquela troca de palavras. “Nós temos de pagar tudo e ninguém nos ajuda. Porque é que ajudam a TAP e os hotéis e a nós, que somos micro-empresários, não nos ajudam?”, perguntou a cidadã, já no final da sua interpelação ao Presidente da República, onde disse inclusive que um “colega” seu se tinha suicidado.
Entre várias interrupções da mesma popular, Marcelo Rebelo de Sousa acabou por responder-lhe: “Porque os portugueses votaram neste Governo. Diga aos portugueses para votarem noutro Governo”.
A esta resposta, a cidadã em causa respondeu ao Presidente da República que não votou no Governo do Partido Socialista e de António Costa. “Então, mas votou a maioria. Votou a maioria, o que é que eu hei de fazer?”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa. “Sabe que quem vota é o povo.”
Esta altercação, registada pelas câmaras de vários media no local e transmitida pela SIC Notícias, começou com aquela cidadã a fazer várias perguntas sobre a natureza do sistema político português, assente no semipresidencialismo e não no presidencialismo.
“Porque é que o Governo tem mais poder do que o Presidente, porquê?”, lançou a cidadã. “Porque a Constituição foi votada assim”, respondeu o Presidente. “Não, há que mudar as coisas”, continuou a cidadã. “Porque é que o povo não muda as coisas? Porque é que o senhor não muda as coisas?” A isto, Marcelo Rebelo de Sousa atalhou: “Porque a Constituição foi votada assim”. E após nova insistência respondeu que “quem faz as leis é o parlamento”.
Marcelo sublinha que críticas eram ao Governo e não a Belém
Momentos depois daquela interpelação, em declarações à SIC Notícias, Marcelo Rebelo de Sousa disse que ouvir os cidadãos em situações deste tipo também faz parte do seu trabalho: “O Presidente da República também serve para ouvir os desabafos das pessoas”. Referindo que aquela cidadã foi “muito simpática (…) pessoalmente” para o Presidente da República, sublinhou que ela era “crítica em relação à política e à gestão, do país, executiva” — isto é, do Governo de António Costa.
“Mantivemos ali um debate, que não deve ser muito habitual um Presidente da República interromper o protocolo e estar ali a debater de forma viva com uma pessoa. Mas isso é a liberdade. Ela pôde dizer tudo o que queria, às vezes até não me deixando dizer nada, mas eu ouvi”, explicou. “Porque quando a pessoa é eleita Presidente, não é só para as coisas agradáveis.”
[Pode ouvir aqui neste noticiário da Rádio Observador, a partir dos 6m40s, o diálogo exaltado entre o Presidente e a empresária e a reação posterior de Marcelo Rebelo de Sousa]