Até pode não ser o seu caso, mas certamente conhece alguém que todos os anos se constipa, às vezes, várias vezes no mesmo ano. A resposta é simples: há muitos vírus que podem causar constipações e infeções respiratórias nas pessoas, incluindo quatro coronavírus. Mas há uma segunda parte para esta resposta: a imunidade contra estes coronavírus dura pouco tempo — cerca de um ano — como demonstrou uma equipa que juntou cientistas na Holanda, Espanha e Bélgica.

Monitorizámos indivíduos saudáveis [10 homens] por mais de 35 anos e verificámos que a reinfeção com o mesmo coronavírus sazonal acontecia frequentemente 12 meses depois da infeção [inicial]”, escreveram os autores do artigo publicado esta segunda-feira na Nature Medicine.

A equipa de Lia van der Hoek, virologista na Universidade de Amesterdão, estudou os quatro coronavírus que causam infeções respiratórias (HCoV-NL63, HCoV-229E, HCoV-OC43 e HCoV-HKU1), normalmente no inverno, assumindo que, dada a enorme variabilidade entre estes vírus, são representativos da generalidade dos coronavírus, incluindo o SARS-CoV-2. A característica analisada foi a duração da imunidade que protege contra novas infeções com o mesmo vírus.

As amostras de sangue foram recolhidas de três em três meses na década de 1980 e de seis em seis meses depois disso (com uma falha na amostragem entre 1997 e 2003). De cada vez que era detetado um aumento do número de anticorpos contra cada um dos coronavírus referidos, era assumido que a pessoa tinha sido infetada (ou reinfetada) — à semelhança do SARS-CoV-2, muitas pessoas infetadas mantém-se assintomáticas.

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Alguns casos de reinfeção aconteceram logo ao fim de seis meses, outro só ao fim de quase nove anos, mas o mais frequente foi detetar reinfeções ao fim de 12 meses, ou seja, no inverno seguinte, que é a altura mais propícia para a transmissão destes vírus respiratórios nos países de climas temperados (como na Europa). Os meses de junho a setembro inserem-se no período com a menor prevalência de infeções para qualquer um dos coronavírus estudados. “O SARS-CoV-2 pode vir a partilhar esta característica numa era pós-pandemia”, escrevem os autores.

Covid-19. Estudo feito em Portugal confirma que anticorpos duram até cinco meses

Dois trabalhos recentes, um na Islândia e outro em Portugal, mostraram que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 podem durar, pelo menos, quatro e cinco meses, respetivamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, disse que os casos de reinfeção com o novo coronavírus são raros, tendo em conta a informação disponível neste momento. A reação da OMS chegou depois da confirmação do primeiro caso de reinfeção em Hong Kong no final de agosto.