Entrou nas Bermudas como furacão de categoria 1, saiu de lá na categoria 2 e depois de deixar centenas de milhares de pessoas sem energia, Paulette parecia dissipar-se nas águas frias do Oceano Atlântico. Chegou a ser considerada uma tempestade pós-tropical, mas acordou novamente na madrugada de segunda para terça-feira com ventos máximos de 95 quilómetros por hora.

Ao Observador, a página Anticiclone dos Açores — que acompanha a previsão meteorológica nas nove ilhas açorianas — explicou que “em termos de intensidade, [Paulette] está entre uma depressão tropical e um furacão de categoria 1”. Depois de ter provocado trovoadas na ilha de Santa Maria, Paulette dirige-se agora para a Madeira.

As previsões são de que enfraqueça e perca as características tropicais ainda antes de lá chegar mas, “uma vez que se trata de um sistema tropical de pequena dimensão, é sempre difícil definir uma rota exata” para a tempestade. “Tudo indica que será tranquilo, mas há que manter a vigilância para realmente confirmar se assim será”, avança a página.

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A mais recente atualização do Centro Nacional de Furacões norte-americana, emitida às 10h de Portugal Continental (menos uma hora nos Açores), dizia que a tempestade tropical Paulette estava nas coordenadas 34.7 N 23.7 W, entre as ilhas de Ponta Delgada e Funchal; e 480 quilómetros a sudeste do arquipélago açoriano. Move-se devagar, a 27,4 quilómetros por hora, mas arrasta com ela mais chuva, trovoada e agitação marítima.

Paulette ruma agora para este, em direção ao sul de Portugal Continental, mas vai guinar para a Madeira e depois para oeste muito antes de atingir território continental. Se tudo correr como indicam as previsões meteorológicas, a tempestade tropical deve dissipar-se de vez até ao final desta semana ainda antes de atingir as ilhas madeirenses.

Mas já vai longo (e cheio de imprevistos) o percurso de Paulette pelas águas do Atlântico Norte. Nasceu a 7 de setembro como a 17ª depressão da época de furacões de 2020 e tem tido uma vida atribulada: ganhou força, voltou a perdê-la, recuperou-a contra todas as possibilidades (havia variações muito bruscas na variação e velocidade do vento, algo que normalmente dissipa as tempestades), perdeu-a novamente e regressou à vida como um furacão — o sexto da época e o primeira a varrer as Bermudas desde 2014.

O pico da intensidade da tempestade Paulette aconteceu a 14 de setembro, mas estava longe de terminar. Enfraqueceu significativamente nos dois dias seguintes enquanto atravessava o Atlântico em direção aos Açores, mas teimou em ressurgir. Chegou ao arquipélago açoriano como tempestade pós-tropical, mas evoluiu para tempestade tropical nas últimas horas, provocando trovoadas em Santa Maria.

Ao Observador, a página Anticiclone dos Açores — que acompanha a previsão meteorológica nas nove ilhas açorianas — explicou o fenómeno na origem destas reviravoltas: as convecções. “Em meteorologia, é o processo de transferência de energia calorífica na atmosfera, em que o corpo portador de calor se desloca de um lado para o outro. Neste caso, [o corpo portador de calor] é o ar quente, aquecido pela superfície do mar, que sobre em altitude por ser menos denso”.

Paulette atingiu o arquipélago dos Açores  numa “fase pós-tropical” em que “o núcleo já não era quente, ou seja, já não suportava convecção organizada à volta dele, ao contrário do que acontece nas tempestades tropicais”.

Mas quando se deslocou para latitudes mais baixas, ao encontrar temperaturas mais elevadas da superfície do mar, a convecção voltou a ser possível, dando origem a aguaceiros e trovoadas. Neste momento, “como os ventos são suficientemente intensos em volta deste núcleo, a tempestade adquiriu a categoria de tempestade tropical”.