Quem venceu o debate da noite passada (madrugada em Portugal) entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos da América, Joe Biden e Donald Trump?
De acordo com as primeiras sondagens da estação norte-americana CNN (conduzida pela SSRS) e da CSB News (conduzida pela empresa YouGov), a vantagem vai para o candidato democrata, que terá conseguido pelo menos conservar a vantagem sobre Donald Trump calculada pelas sondagens eleitorais prévias ao debate.
Sondagem CNN: seis em cada dez dão vantagem a Biden
A sondagem da CNN é a que dá uma vantagem mais contundente a Joe Biden. Segundo esta, seis em cada dez pessoas que viram o debate consideram que o candidato democrata saiu-se melhor do que Donald Trump. O candidato republicano e atual presidente foi visto como vencedor apenas por 28% dos espectadores ouvidos nesta sondagem, feita com o apoio da empresa de software SSRS.
Há outros dados de relevo trazidos pela sondagem da CNN. De acordo com a estação, antes do debate 56% dos futuros espectadores do confronto mediático já afirmavam esperar que Joe Biden tivesse uma melhor prestação, enquanto 43% consideravam que o mais provável era que o vencedor fosse Donald Trump. O democrata pode ter somado alguns pontos, já que só 28% dos espectadores ouvidos após o debate deram vantagem a Trump — bem menos do que os 43% que o esperavam.
Na sondagem da CNN, dois terços das pessoas consideraram as respostas do candidato democrata mais fiáveis e verdadeiras do que as de Donald Trump (65% para Biden, 29% para Trump), sendo que 69% dos espectadores ouvidos acharam que os ataques do antigo vicepresidente de Obama a Trump foram justos. Já os ataques de Trump a Biden foram considerados justos apenas por 32% dos espectadores auscultados na sondagem da CNN.
Os temas em que os espectadores ouvidos na sondagem da CNN consideram que Joe Biden esteve melhor foram as desigualdades raciais (66% ficaram a confiar mais em Biden do que em Trump neste tema, 29% ficaram a confiar mais em Trump), a área da saúde (Biden com vantagem para 66% dos espectadores) e a crise de saúde pública resultante da Covid-19 (64% dos espectadores dão vantagem a Biden neste tópico).
Em geral, 63% dos espectadores ouvidos consideram que o plano de Joe Biden para resolver os problemas dos EUA é melhor do que o de Donald Trump — e apenas 30% consideram que o plano do atual presidente será mais eficiente.
A estação lembra, no entanto, que este estudo de mercado pretende tornar mais clara a posição de “eleitores registados que viram o debate de esta terça-feira”, não tendo a ambição de traduzir “as visões de todos os americanos”. Acresce que o grupo de espectadores ouvido era tendencialmente mais democrata do que o eleitorado norte-americano, dado que 39% dos envolvidos assumiram identificar-se com o partido de Joe Biden, ao passo que apenas 25% (um em cada quatro) assumiu identificar-se com o Partido Republicano.
Entre gritos e insultos, nem Trump nem Biden conseguiram pensar
Sondagem da CBS News: 48% para Biden, 41% para Trump
Quem também levou a cabo uma sondagem depois do confronto mediático entre Trump e Biden de esta terça-feira à noite (madrugada de quarta-feira em Portugal) foi a CBS News, em parceria com a empresa YouGov.
Os resultados desta sondagem foram muito menos favoráveis a Biden do que os resultados da sondagem da CNN. O equilíbrio foi muito maior: dos espectadores auscultados, 48% consideraram que o candidato democrata saiu-se melhor, enquanto 41% consideraram que Trump saiu vencedor.
Ainda assim, a conservação da vantagem de Biden previamente estimada em várias sondagens é corroborada também pelo inquérito da CBS News.
Outros dados que farão o candidato democrata sorrir: 42% dos inquiridos nesta sondagem ficaram com pior imagem de Trump após o debate e só 24% ficaram com melhor imagem, enquanto 38% dos inquiridos ficaram com melhor imagem de Biden depois do conflito mediático e foram menos — 32% — os que ficaram a pensar pior do candidato democrata.
Razão para Biden cantar vitória? Nem por isso
Apesar das primeiras sondagens darem vantagem a Joe Biden, avaliado pelos espectadores do debate da noite passada como tendo tido uma melhor prestação do que o presidente Donald Trump, não é caso ainda para cantar vitória. Até porque paralelamente às sondagens mais tradicionais, Trump parece ter-se saído (surpreendentemente?) muito melhor junto da comunidade latina nos EUA: de acordo com a revista norte-americana Newsweek, uma sondagem posterior ao debate aferiu que 66% dos espectadores do canal norte-americano falado em espanhol Telemundo (que pertence à cadeia NBC) consideram que Trump venceu o debate, ao passado que apenas 34% veem o desempenho de Biden como tendo sido melhor do que o do atual presidente.
A comunidade latina é um eleitorado tradicionalmente democrata, pelo que uma vantagem de Donald Trump junto de este eleitorado poderia complicar as contas ao antigo vicepresidente de Barack Obama, Joe Biden. Quer o candidato democrata quer o candidato republicano apostaram em ações de campanha junta da comunidade latina e de líderes desta comunidade nos EUA, lembra a Newsweek.
Há ainda outro detalhe nos resultados das primeiras sondagens que pode servir como alerta à campanha democrata: o resultado da sondagem da CNN, segundo a qual seis em cada dez espectadores do debate consideram que Biden esteve melhor do que Trump, não é muito diferente do resultado da sondagem da mesma estação há quatro anos. Na altura, a candidata democrata Hillary Clinton foi considerada vencedora do debate por 62% dos espectadores ouvidos na sondagem da CNN, mas acabou por perder as eleições para Donald Trump.
Acresce que há um tema que pode dar vantagem a Trump. Mesmo na sondagem da CNN relativa ao debate, que deu vantagem significativa a Joe Biden, as opiniões dos espectadores auscultados sobre as perspetivas dos dois candidatos em temas económicas dividiram-se: metade (50%) considerou que Biden esteve melhor quando o assunto foi a economia mas 48% consideraram que foi Trump quem se saiu melhor neste tópico.
A capacidade com que Trump e Biden são vistos na resolução de problemas económicos é especialmente preocupante para o candidato democrata dado que a amostra de participantes era-lhe significativamente mais favorável, visto que 39% dos envolvidos na sondagem afirmaram identificar-se com o Partido Democrata ao passo que apenas 25% assumiu identificar-se com o Partido Republicano. E o tema pode tornar-se mais preponderante na hora de votar, face à crise económica nos EUA resultante da crise do novo coronavírus.
Além disto, quando a pergunta da sondagem da CNN foi sobre quem é o líder mais forte para presidir o país, a vantagem de Biden — 55% consideram-no um líder mais forte — não foi suficientemente consolidada dado o maior peso de eleitores democratas envolvidos na sondagem, relativamente a eleitores republicanos.
Influência no sentido de voto? Pouca
O debate não parece ter sido suficiente para cavar um fosso maior entre Biden e Trump do que aquele (curto) que tem sido calculado em diferentes sondagens eleitorais, mas as sondagens sugerem que a noite pode ter permitido a Biden pelo menos conservar a vantagem que levava antes do confronto mediático.
Na sondagem da CNN, uma maioria de espectadores auscultados (57%) disse que o debate não influenciou o seu voto — mas da minoria que se assumiu suscetível a mudança, 32% afirmaram ter ficado mais inclinados a votar em Biden depois do debate de esta terça-feira e só 11% afirmaram ter ficado mais inclinados a votar em Trump.
A forma como os dois candidatos são vistos não se alterou muito segundo a sondagem da CNN: antes do debate, 60% das pessoas do grupo de espectadores escolhidos afirmava ter uma perspetiva postiiva de Biden e 37% afirmava ter uma perspetiva positiva de Trump; depois do debate, as variações foram pequenas (62% para Biden, 37% para Trump).
Também os resultados da sondagem da CBS News parecem indicar que a influência no sentido de voto será pouca: os resultados — 48% consideraram Biden vencedor, 41% consideraram Trump vencedor — traduzem de forma razoavelmente fiel as diferenças de apoio estimadas entre os dois candidatos, no cômputo de sondagens pré-eleitorais.