O surto de Covid-19 na Casa Branca, que já infetou o Presidente norte-americano, Donald Trump, a primeira-dama, Melania, e várias figuras de topo do círculo restrito presidencial, poderá ter tido origem num evento organizado no último sábado nos jardins da Casa Branca para anunciar a nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal de Justiça.
Nesse evento, que contou com a presença de cerca de 200 convidados, estiveram presentes vários dos elementos da equipa de Trump que testaram positivo para o coronavírus nos últimos dias, além do próprio Presidente. De acordo com os relatos da imprensa e as imagens disponíveis, a grande maioria dos convidados não usou máscara e o distanciamento social não foi cumprido.
Pelo menos sete pessoas que estiveram presentes naquele evento testaram positivo para o coronavírus. Além de Donald Trump e Melania, também a antiga diretora de campanha de Trump, Kellyanne Conway e o ex-governador da Nova Jérsia, Chris Christie, dois conselheiros próximos do Presidente, estiveram presentes e testaram positivo uma semana depois. Ambos foram vistos sem máscara e a cumprimentar vários dos presentes.
Chris Christie tinha passado vários dias a trabalhar diretamente com Trump, já que foi um dos principais conselheiros do Presidente na preparação do debate da última terça-feira com Joe Biden.
Além destes, também testaram positivo para o coronavírus outras três figuras presentes no evento: o senador republicano Mike Lee, do Utah; o senador republicano Thom Tillis, da Carolina do Norte, e o padre John Jenkins, presidente da Universidade de Notre Dame.
A maioria dos testes positivos à Covid-19 surgiram entre quinta-feira e sábado, cinco a sete dias depois do evento, o que bate certo com o tempo de incubação do vírus. Aquele evento está a ser apontado como a possível origem do foco de infeção, contrariando a tese inicial de que teria sido a conselheira Hope Hicks — por ter sido a primeira a registar sintomas — a infetar o Presidente.
A partir daquele evento, o vírus poderá ter começado a disseminar-se pela Casa Branca e pela campanha presidencial de Trump. Na terça-feira, o Presidente dos EUA voou para Cleveland, no Ohio, para debater com Joe Biden no primeiro debate da campanha. No avião estiveram presentes a conselheira Hope Hicks e o diretor de campanha Bill Stepien, outros dois elementos do círculo de Trump que acabariam também por testar positivo.
No dia seguinte, Trump voou para a cidade de Duluth, no Minnesota, onde participou num comício eleitoral. É nessa viagem que a conselheira Hope Hicks regista os primeiros sintomas e dá o alerta para um possível foco de infeção na equipa de Trump. Hicks é isolada e no regresso a Washingon desembarca inclusivamente pela parte de trás do avião presidencial. Na mesma viagem esteve presente o assistente pessoal Nicholas Luna, o mais recente elemento da equipa de Trump a testar positivo.
Apesar do alarme, a agenda de quinta-feira ainda prosseguiu com relativa normalidade. Donald Trump seguiu até Nova Jérsia para participar numa angariação de fundos, num dos seus clubes de golfe. Nicholas Luna foi afastado da viagem, por ter contactado com Hope Hicks — então a ser apontada como fonte da infeção —, mas a restante comitiva foi na mesma. Só na tarde de quinta-feira é que Trump repetiria o teste. Na noite do mesmo dia, veio a confirmação de que o Presidente dos EUA estava infetado.
Em paralelo, a estação televisiva norte-americana ABC News viu-se obrigada a colocar em quarentena uma parte dos seus trabalhadores depois de o conselheiro presidencial Chris Christie ter estado nos estúdios para fazer comentário político na terça-feira — e o facto de Christie ter sido convidado não foi bem recebido na redação.
“A decisão da ABC News de colocar no ar, como analista pago, um conselheiro de Trump que ajudou a preparar o debate foi questionável. Agora, o comportamento irresponsável desse mesmo conselheiro está a pôr em risco as vidas de funcionários da ABC News. O que é que a administração estava a pensar?”, disse um dos apresentadores da cadeia à imprensa americana.