Cerca de dezasseis mil especialistas do novo coronavírus juntaram-se a um movimento anti-confinamento. Médicos e cientistas defendem que o isolamento está a ter um impacto devastador na saúde física e mental, bem como na comunidade.
A Declaração Great Barrington começou nos Estados Unidos da América e conta com mais de 150 mil assinaturas, entre médicos, cientistas e membros da sociedade, desde que foi autorizada no passado dia 4 de outubro.
Viemos tanto da esquerda como da direita, e de todo o mundo, e temos dedicado as nossas carreiras à proteção das pessoas. As atuais políticas de confinamento estão a produzir efeitos devastadores na saúde pública a curto e longo prazo”, lê-se na declaração.
De acordo com os especialistas, manter o confinamento “em vigor até que uma vacina esteja disponível causará danos irreparáveis, com os mais desfavorecidos a serem desproporcionadamente prejudicados.”
Entre os “efeitos devastadores na saúde”, os especialistas apontam a diminuição da taxa de vacinação infantil e o pior atendimento a pessoas com doenças cardíacas e cancro. Além disso, destacam que o risco de contrair o novo coronavírus é mil vezes pior para idosos e doentes e que, para as crianças, “a Covid-19 é menos perigosa do que muitos outras doenças, incluindo a gripe”.
Na declaração, que também está disponível em português, é defendida a ideia de que “à medida que a imunidade se desenvolve na população, o risco de infecção para todos – incluindo os vulneráveis – diminui”.
Sabemos que todas as populações acabarão por atingir a imunidade de grupo – ou seja, o ponto em que a taxa de novas infeções é estável – e que isto pode ser assistido por (mas não depende de) uma vacina. O nosso objetivo deve ser, portanto, minimizar a mortalidade e os danos sociais até atingirmos a imunidade de grupo”, explicam os especialistas.
A declaração recomenda uma série de “medidas para proteger os vulneráveis”. Os lares, por exemplo, “devem utilizar pessoal com imunidade adquirida” e realizar testes regulares a outros funcionários e a todos os visitantes. Os idosos devem pedir a entrega de alimentos e bens essenciais no seu domicílio e devem encontrar-se com membros familiares no exterior.
Os que não são vulneráveis “devem ser imediatamente autorizados a retomar a vida normal” e é recomendado o cumprimento de “medidas simples de higiene”, como lavar as mãos, e que permaneçam em casa quando estão doentes.
Vários membros da comunidade científica já criticaram a declaração. Outros especialistas, citados pela BBC, apontam que a abordagem pode dificultar a proteção total de pessoas vulneráveis e que o risco de complicações a longo prazo do novo coronavírus significa que muitas outras pessoas estão em risco. Stephen Griffin, professor na Universidade de Leeds, no Reino Unido, diz que apesar de “bem intencionada”, a declaração tem falhas éticas, científicas e logísticas.
Notícia atualizada às 6h58 do dia 9/10/2020 com a informação de que o número de médicos e cientistas é 16 mil e as assinaturas são mais de 150 mil.