O Presidente da República defendeu este domingo a necessidade e “ajustar” festas familiares como o Natal e afastou o encerramento de fronteiras, mas avisou que tudo “depende” da maneira como as pessoas “vão civicamente” enfrentar a pandemia.

No Gerês, no Vidoeiro, para assinalar os 50 anos da criação do Parque Nacional Peneda-Gerês, Marcelo Rebelo de Sousa afastou a necessidade de fechar fronteiras quando confrontado com surtos de covid-19 em estudantes de Erasmos.

“Depende muito da maneira como as pessoas vão civicamente viver o que estamos a viver. As pessoas estão a trabalhar, estão a estudar, a desenvolver a sua atividade económica e social num contexto de pandemia. De uma forma cívica o que têm de saber é adotar as precauções compatíveis com a atividade que desenvolvem em situações em que o risco é maior”, disse.

Segundo o chefe de Estado, “o risco é maior quando há aglomerações, mesmo que festivas (…), as pessoas podem conceber e concretizar [esses encontros] de uma forma sensata tendo em atenção a situação vivida”, dando como exemplo a forma como pensou passar o seu Natal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O que eu disse do Natal é muito simples, eu explico o que pensei para o meu Natal. Em vez de ter uma festa na noite de Natal com dezenas de elementos de família num espaço muito limitado, que é o espaço que estava disponível, é possível dividir uma parte que se encontra ao almoço, no dia 24, outra ao jantar no dia 24, outra ao almoço no dia 25 ou ao jantar no dia 25, ainda por cima, num fim de semana dá para prolongar”, referiu.

“É possível encontrar formulas, não é deixar de ter as suas cerimónias de culto, as famílias deixarem de se encontrar, é encontrarem-se e celebrarem este ano de uma forma que é uma forma adequada”, explanou.

Sobre a possibilidade de fechar fronteiras depois de um surto de covid-19 entre estudantes de Erasmus, Marcelo Rebelo de Sousa afastou esse cenário.

“O problema é o seguinte, está-me a falar em 20 estudantes de Erasmus. Ora, há estruturas universitárias e politécnicos com mais de uma centena de casos e que são essencialmente nacionais. Não podemos dizer que a culpa é, porque há alguns estudantes que vêm em Erasmus, da abertura de fronteiras (…). Temos que ser muito frios, muito racionais na análise da situação”, afirmou.

Marcelo diz confiar no Sistema Nacional de Saúde para enfrentar segunda vaga

O presidente da República afirmou também confiar no Sistema Nacional de Saúde para enfrentar uma segunda vaga da pandemia de Covid 19, considerando que “temos hoje” uma “capacidade de estrutura, organização e experiência que não havia” há sete meses.

Marcelo Rebelo de Sousa afastou o cenário de um novo confinamento por causa dos números de infetados pelo novo coronavírus, defendendo que não se pode fazer o “exercício fácil” de confinar com os mesmos números de março, porque as condições são diferentes.

O chefe de Estado admitiu “atrasos” no tratamento de casos “não covid-19” mas pôs de parte a hipótese de uma rutura. “Sim. Claro que confio”, disse quando questionado sobre se confiava no Sistema Nacional de Saúde (SNS).

“Eu confio desde logo no Sistema Nacional de Saúde porque tem uma peça chave, que é uma coluna vertebral, que se chama Serviço Nacional de Saúde, que é publico. E esse SNS pode ter pressões. São maiores em certos momentos, em certas unidades e em certas áreas porque os ‘doentes covid’ não estão a surgir da mesma maneira em todo o território”, explicou.

“Há condições para responder a isso, e o que está previsto, no caso de ser necessário, [é] uma mobilização de unidades do Sistema Nacional de Saúde, que não são apenas o SNS clássico, quer para ‘doentes não Covid’, quer para ‘doentes Covid’. Dou-lhe um exemplo: o Hospital de Forças Armadas”, continuou.

Confrontado com os números de infetados com o novo coronavírus, que se aproximam aos de março, altura em que foi declarado o estado de emergência e o confinamento obrigatório, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que não são situações idênticas.

“Hoje a situação pode ser parecida e até em números pode ser superior àquela que existia, mas simplesmente temos hoje instrumentos de análise muito mais finos, sabemos as idades em que tem incidência (…), temos uma capacidade de estrutura e organização e experiência que não havia e, portanto, as decisões são tomadas à medida do que se sabe hoje, que não se sabia há sete meses”, referiu.

Para o chefe de Estado, “não se pode fazer aquele exercício fácil que é aquilo que foi necessário decretar como estado de emergência ou confinamento, num determinado momento, [que se] aplica automaticamente e mecanicamente sete meses depois; não é assim que se raciocina”.

Quanto a atrasos e situações de quase rutura relatados em alguns centros de saúde, o Presidente da República admitiu que existem “atrasos”, mas isso não “corresponde a uma visão” de conjunto.

“Não significa que haja em termos globais uma situação de rutura ou pré rutura. Há atrasos relativamente aos ‘não covid’, em consultas e tratamentos. Há. Nós sabemos todos que há, não vale apena escamotear. (…) Há uma capacidade de resposta do SNS ao desafio colocado pela covid e outros doentes ‘não covid’. O que acontece é que isso não é distribuído de forma igual por todo o território continental, e há pressões momentâneas maiores em certas áreas”, explanou.