Depois de terem sido constituídos arguidos na semana passada, os generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino” decidiram entregar  ao Estado angolano uma série de empresas e edifícios no valor de mais de mil milhões de dólares, ou seja 850 milhões de euros, segundo os cálculos de fonte ligada ao governo angolano. No entanto, isso não interrompe o curso do “processo-crime” em que são visados, esclareceu a Procuradoria Geral da República de Angola em comunicado de imprensa.

Os dois homens fortes de José Eduardo dos Santos foram ouvidos durante mais de sete horas esta terça e quarta-feiras pela PGR — em liberdade, já que a imunidade de que gozam livrou-os da prisão preventiva — , no processo em que respondem por alegadamente terem beneficiado dos negócios entre o Estado angolano e o conglomerado empresarial China International Fund (CIF), através do Gabinete de Reconstrução Nacional. É mais uma investigação aberta no âmbito do plano de combate à corrupção, a grande bandeira da governação de João Lourenço.

Enquanto “Dino”, o antigo chefe da Casa de Segurança do ex-Presidente da República angolano e consultor para as comunicações do ministro de Estado, é suspeito da prática do crime de falsificação e burla, “Kopelipa”, o antigo chefe da Casa Militar e ministro de Estado, está a ser ouvido devido a fortes indícios do crime de corrupção e de branqueamento de capitais.

Generais “Dino” e “Kopelipa” foram constituídos arguidos no âmbito do processo CIF

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Segundo a nota da PGR, como representantes da CIF e  da Cochan, S.A., os dois passaram para o Serviço Nacional de Recuperação de Ativos património que foi constituído “com fundos públicos“.  Do conjunto que transitou “de forma definitiva para a esfera do Estado” constam as fábricas de cimento (CIF Cement), de cerveja (CIF Lowenda Cervejas) de montagem de carros (CIF SGS Automóveis) e a CIF Logística. Mas também a emblemática e maior rede de supermercados de Angola, a Kero, que era detida por “Kopelipa”, “Dino” e o ex-vice-presidente Manuel Vicente (que também é um dos principais acionistas da CIF).

Combate à corrupção: a bandeira de João Lourenço que se tornou numa espada de dois gumes

“Dino” entregou também a “totalidade das ações que detinham na empresa BIOCOM, empreendimento agroindustrial de produção e transformação da cana de açúcar (que foi criado com uma garantia soberana de 170 milhões de euros, de que a Sonangol possui 20% e a Odebrecht 40%) e “Kopelipa” a maior gráfica do país, a Damer Gráficas – Sociedade Industrial de Artes Gráficas. Estes dois poderosos do regime de José Eduardo dos Santos já tinham entregado o grupo Media Nova e Kopelipa a barragem das Mabubas.

PGR de Angola oficializa entrega dos media dos homens fortes de José Eduardo dos Santos

A acrescer a tudo isto, os dois generais transferiram a “titularidade para a a esfera patrimonial do Estado dos bens apreendidos em fevereiro: a centralidade  [nome dado em Angola a bairros de prédios] Vida Pacífica com 24 edifícios, três creches, dois clubes náuticos e quatro estaleiros”. A mesma sorte tiveram 271 edifícios e 837 vivendas “em diferentes níveis de construção” da centralidade do Kilamba KK5800 e as duas torres CIF Luanda One (onde funciona o ministério da Economia) e CIF Luanda Two.