“Senti muito claramente que era preciso haver um abanão na sociedade.” Foi assim, com uma sensação e o objetivo de “enviar um sinal claro” aos portugueses para a necessidade de “alterar comportamentos”, que António Costa justificou as novas medidas de restrição anunciadas esta quarta-feira, no âmbito do combate à pandemia e do estado de calamidade novamente declarado.
Em entrevista ao jornal Público, que deixou para sexta-feira a publicação na íntegra da conversa, o primeiro-ministro voltou a recusar a ideia de um novo confinamento e a bater na tecla do “comportamento individual”, tal como já tinha feito na conferência de imprensa desta quarta-feira após a reunião do Conselho de Ministros — e muitas outras vezes antes disso.
Ainda assim, não foi taxativo, deixando no ar que, se as medidas de restrição não forem cumpridas e cada um não fizer a sua parte para por travão na pandemia, o Governo poderá sempre recorrer a ações mais drásticas: “Se posso jurar a pés juntos que não serão dados passos dramáticos? Não posso. É uma questão de bom senso. Mas temos de o evitar”.
Garantiu ainda Costa, não foi o novo recorde de infeções batido esta quarta-feira (2.072 em 24 horas) mas o aumento progressivo que tem sido registado desde agosto o que levou à tomada de novas medidas e o regresso ao estado de calamidade. “O tempo foi passando, as pessoas foram ficando saturadas, foram-se habituando ao risco ou desvalorizando o risco porque a faixa etária [dos contágios] foi mudando”, justificou.
Depois, o primeiro-ministro elogiou o Serviço Nacional de Saúde que, considera, “está mais bem preparado para lidar com a doença”, e revelou que, tal como aconteceu no Porto, no São João, também já em Lisboa “estão a ser acionadas extensões de campanha”. “O Hospital das Forças Armadas já foi reativado e está a ser preparado outro hospital de campanha, em frente ao Santa Maria, na Cidade Universitária”, exemplificou. “Temos capacidade de resposta. Os hospitais funcionam em rede, é possível gerir fluxos em função das necessidades variáveis de um hospital para outro.”