Nove meses depois de ter sido eleito, Francisco Rodrigues dos Santos está cada vez mais em rutura com a bancada centrista, mas não pára de ganhar fora nas estruturas do partido. Ao mesmo tempo que a relação com os deputados e o líder parlamentar Telmo Correia azedou, o CDS está cada vez mais ao gosto do líder. Na última quinta-feira, Francisco Rodrigues do Santos reforçou a maioria de conselheiros que tem no Conselho Nacional — o órgão máximo entre congressos — com a lista que apoiou a ganhar de forma clara no Porto: 12 conselheiros contra apenas 3 da lista apoiada pelo grupo mais afeto aos críticos. O líder centrista tem aliás vindo a conquistar distritais nos últimos dois meses e tem ainda controlo sobre cerca de 70 novas estruturas concelhias que entretanto foram reativadas.
Relativamente às estruturas distritais, no mês de setembro as listas afetas a Francisco Rodrigues dos Santos ganharam em Coimbra, Porto e Aveiro. No caso de Coimbra, as eleições foram disputadas, mas em Aveiro o candidato que se esperava que aparecesse do lado dos críticos (Pedro Magalhães, próximo de João Almeida) acabou por não ir a votos e assim só avançou o candidato afeto a Rodrigues dos Santos. O facto de ter conquistado a distrital do círculo do antigo adversário foi, para os apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos, uma vitória “simbólica” e “sinal” de que “tem o controlo do partido, ao contrário do que dizem os críticos nos jornais”.
Já em Santarém, que teve eleições já em outubro, também só se apresentou uma lista afeta a Francisco Rodrigues dos Santos. Desde o congresso, o mesmo aconteceu nas distritais de Leiria, Vila Real e Portalegre. Em Setúbal a lista afeta ao líder também ganhou, mas as eleições foram logo a seguir ao Congresso e muito disputadas. No entanto, nesta distrital a força de Rodrigues dos Santos voltou a ser testada na última semana com a eleição da lista para o Conselho Nacional, mas o presidente centrista conseguiu eleger uma maioria de mandatos daquele distrito.
Francisco Rodrigues dos Santos já tinha uma maioria no Conselho Nacional através das inerências e dos conselheiros eleitos em congresso, mas de dois em dois anos os conselheiros eleitos pelas distritais são renovados e alguns já vinham de antes do congresso — o que significa que havia vários críticos da atual liderança. Mas até aí Francisco Rodrigues dos Santos está agora a ganhar espaço.
Paralelamente, nesta estratégia de controlo das estruturas, Francisco Rodrigues dos Santos, segundo garante ao Observador fonte da direção do partido, já reativou 70 concelhias que não estavam a funcionar quando chegou à liderança do partido. Também essas estruturas estão agora do lado do líder.
Isto não significa, no entanto, que o atual presidente do CDS não tenha anti-corpos noutras estruturas, incluindo distritais. Exemplos disso são Lisboa, liderada por João Gonçalves Pereira, ou Viseu, que era liderada por Francisco Mendes da Silva, crítico do líder que bateu com a porta há menos de duas semanas, alegando que deixou de ter “condições objetivas para continuar a exercer o cargo”. Ao mesmo tempo Francisco Rodrigues dos Santos registou que “o CDS-PP vive um momento extremamente difícil.”
Há ainda uma guerra que deixou de ser fria e se tornou nas últimas semanas assumida e declarada entre o presidente do CDS e o seu grupo parlamentar. Em meados de setembro, Francisco Rodrigues dos Santos criticou o facto de António Costa ter apoiado Luís Filipe Vieira, mas acabaria por mandar também o seu líder parlamentar Telmo Correia fora em conjunto com a água do banho. O líder do CDS criticou publicamente o apoio do primeiro-ministro ou de “qualquer outro político” à recandidatura do presidente do Benfica, defendendo que é um assunto relacionado “com a vida de todos” e que não deve ser normalizado.
Ora, o “qualquer outro” era a carapuça dirigida a Telmo Correia, que não baixou o tom, sugerindo que, se pudesse, até ripostava com estrondo. O líder parlamentar disse mesmo que “não obstante” o facto de ter “muito a dizer sobre este assunto”, ia optar por não o fazer para “não prejudicar a imagem pública” do CDS. A relação com o grupo parlamentar é conflituosa.