Este domingo seria o quinto dia consecutivo em que Portugal estaria acima dos 2 mil novos casos de infeção pelo novo coronavírus, mas os dados mais recentes, relativos a sábado, mostram uma ligeira quebra: o boletim diário da DGS aponta para um aumento de mais 1.856 novos casos nas últimas 24 horas, com Portugal a aproximar-se a passos largos da barreira dos 100 mil casos de Covid-19 desde o início do surto — ao dia de hoje, já estiveram infetados no país precisamente 99.911 pessoas.
Mas a análise da semana que termina este domingo é tudo menos otimista. É que foi esta a semana em que se registou o maior aumento de sempre dos novos casos de infeção, de longe. Entre segunda-feira e este domingo houve mais 13.247 novos casos de infeção em Portugal, um salto de gigante face aos números da semana passada, em que o aumento tinha sido de mais 7.513 casos, e na semana anterior de mais 5.547.
Em abril, por exemplo, que era até aqui considerado o pico da pandemia, o máximo que se tinha registado tinha sido um aumento de 5.316 casos na primeira semana (que terminaria dia 5). E de lá para cá os aumentos tinham vindo a ser mais controlados, até dispararem no início de outubro.
O mesmo acontece com o número de casos ativos, que resultam da diferença entre os recuperados e os óbitos face ao total de casos de infeção: nunca como agora este aumento tinha sido tão significativo.
Desde início de maio que não morria tanta gente com Covid-19
Quanto aos óbitos, o boletim diário da DGS deste domingo dá conta de mais 19 mortes, todas registadas em pessoas com mais de 60 anos (oito pessoas com mais de 80 anos, 6 pessoas entre 70 e 79 anos, e cinco pessoas entre 60 e 69 anos), numa tendência crescente que se tem verificado ao longo de toda a semana.
A verdade é que, segundo contas feitas pelo Observador, esta foi também a semana com mais mortes desde o início de maio — na semana que terminou a 3 de maio tinham morrido 140 pessoas, e esta semana morreram 101 pessoas em Portugal.
Ainda assim, a taxa de letalidade verificada em Portugal (relação entre o número de mortes e o número de casos) é atualmente a mais baixa desde 31 de março. Na altura, a taxa de letalidade global era de 2,15% e agora Portugal apresenta uma taxa de letalidade global de 2,18%. De registar ainda que esta semana se registou a maior descida de sempre deste indicador: taxa de letalidade desceu 0,22% numa só semana. Isto significa, em linhas gerais, que o número de novos casos de Covid-19 está a disparar mas não é acompanhado por um disparar do número de mortes, em proporção. Ou seja, significa que há mais gente saudável a testar positivo, que tem depois desfechos mais favoráveis da doença.
Daí que o número de recuperados também esteja a disparar. Esta foi, na verdade, a segunda semana com mais recuperados desde o início da pandemia, só superada pela semana de 18 a 24 de maio, altura em que foi feito um acerto na contabilização e o número disparou. Esta semana houve mais 5.813 recuperados, enquanto naquela semana de maio tinha havido um total de 12.913.
Internamentos preocupam (e camas ocupadas em cuidados intensivos também)
Este domingo, o número de doentes internados nas enfermarias dos hospitais voltou a disparar, com mais 72 camas ocupadas — desde 16 de abril que não se via um aumento tão grande num só dia. Nessa altura, a 16 de abril, o aumento tinha sido de 102 doentes num só dia, o que fez disparar a taxa de ocupação hospitalar, que atingiu o seu pico: 1.302 camas ocupadas. O número de ocupação ainda não é tão grande ao dia de hoje — estão 1.086 camas ocupadas — mas para lá caminha.
É que, se fizermos uma comparação semanal, esta foi a semana com mais internamentos (o aumento foi de 243 doentes) desde a fatídica primeira semana de abril (em que o aumento tinha sido de 598 camas ocupadas), e foi a terceira semana de sempre com maior aumento de doentes internados, já que a última semana de março também tinha sido uma semana onde esse indicador disparou.
O mesmo para o número de doentes internados em cuidados intensivos (UCI), e considerados em estado grave. Desde a primeira semana de abril que não havia um aumento tão grande da ocupação de camas nas UCI: este domingo houve mais sete internamentos em cuidados intensivos, elevando para 31 os doentes que precisaram de receber tratamento intensivo nos hospitais portugueses. Na primeira semana de abril, o aumento tinha sido de 129 doentes numa só semana, e na anterior, a última de março, já tinham sido internados em cuidados intensivos 97 doentes.
Mais: há muito que os casos considerados suspeitos, que estão em vigilância, não disparavam tanto numa semana como dispararam nesta. Só na semana de 16 a 22 de março é que este aumento tinha sido maior.
Novos casos disparam na região Norte do país
À exceção do Algarve e dos Açores, todas as regiões do país bateram esta semana recordes de novos casos registados. Mas foi no Norte que esse aumento mais se notou. Este domingo, por exemplo, foi no Norte que se concentrou o maior número de novos casos: com 1.168 casos de um total de 1.856 registados hoje, ou seja, com 63% dos novos casos do dia.
Lisboa e Vale do Tejo vem a seguir, mas desta vez com uma fatia bem mais reduzida. Do total de novos casos registados nas últimas 24 horas, apenas 385 foram na região da Grande Lisboa. O que corresponde a 20,7% dos novos casos registados este sábado (e divulgados este domingo).
A comparação semanal dá conta dessa mesma tendência. A região Norte quase duplicou os números que tinha registado na semana passada (e que já eram os máximos de sempre): esta semana houve mais 7.104 novos casos de Covid-19 no Norte, quase o dobro dos 3.761 que tinha registado na semana passada. Feitas as contas, já testaram positivo um total de 39.449 pessoas no Norte do país, cada vez mais perto do total de 47.412 pessoas que testaram positivo na região de Lisboa e Vale do Tejo desde o início do surto.
Se esta semana o Norte teve mais cerca de 7 mil novos casos, Lisboa teve mais cerca de 4.200 novos casos, o que evidencia uma certa inversão da tendência. A transmissão do vírus parece estar agora mais incisiva no Norte do país do que na região de LVT, onde se concentrava sobretudo nas últimas semanas.