O assassino do professor francês que mostrou caricaturas de Maomé numa aula divulgou uma mensagem de áudio nas redes sociais em que dizia ter vingado o profeta, após publicar uma fotografia da sua vítima, avança esta quarta-feira a AFP.
Citando fonte próxima do processo, a agência de notícias francesa escreve que Abdullakh Anzorov, um refugiado checheno nascido em Moscovo, diz, num russo hesitante, que “vingou o profeta”, criticando o professor francês de história e geografia por ter mostrado Maomé “de forma insultuosa”.
Na mensagem publicada nas redes sociais, o agressor está sem fôlego, mas faz várias menções a passagens do Alcorão.
Irmãos, orem para que Alá me aceite como um mártir”, afirma, de acordo com uma tradução da AFP.
Esta mensagem foi acompanhada por dois tweets divulgados por Abdoullakh Anzorov, de 18 anos, no qual admitiu ter matado o professor do colégio Bois d’Aulne, em Conflans-Saint- Honorine, a noroeste de Paris.
Pouco depois do assassínio, Abdoullakh Anzorov foi morto a tiro pela polícia, a 200 metros do corpo da sua vítima.
Esta quarta-feira, sete pessoas foram presentes ao tribunal de instrução de Paris por ligações ao ato terrorista, entre as quais dois estudantes, de 14 e 15 anos, que indicaram ao agressor quem era o professor em troca de dinheiro, disse o procurador-geral para o combate ao terrorismo, Jean-François Ricard, numa declaração à imprensa.
A divisão antiterrorista da procuradoria-geral de França defendeu em tribunal a existência de uma relação “direta” entre as críticas nas redes sociais enviadas pelo pai de uma das alunas e o assassínio do professor.
A identificação da vítima, Samuel Paty, de 47 anos, “só foi possível devido à intervenção dos alunos, dois dos quais menores”, disse Ricard, que especificou que o agressor ofereceu entre 300 e 350 euros em troca da informação.
No grupo das sete pessoas presentes em tribunal conta-se também Brahim C., o pai da aluna que apelou a uma mobilização contra o professor nas redes sociais, após duas aulas sobre liberdade de expressão, em 5 e 6 de outubro, numa escola a cerca de 20 quilómetros de Paris.
Os investigadores antiterrorismo, que procuram eventuais cúmplices, estão a analisar as mensagens trocadas, através da aplicação WhatsApp, entre o pai da aluna e o assassino do professor.
O radical islâmico Abdelhakim Sefrioui, que acompanhou o pai da aluna na mobilização contra o professor, também esteve presente no tribunal.
As outras três pessoas que se apresentaram esta quarta-feira perante o juiz de instrução são três amigos do agressor que se entregaram à polícia na sexta-feira, dia em que Abdullakh Anzorov decapitou o professor Samuel Paty.
Entretanto, uma homenagem ao professor vai decorrer no pátio da universidade parisiense Sorbonne, com a presença do Presidente francês, Emmanuel Mácron, a partir das 17:30 TMG (18:30 em Lisboa). O professor vai ser distinguido com a legião de honra a título póstumo e o filho, de cinco anos, será declarado “aluno da nação”, uma distinção atribuída aos filhos de pais mortos numa guerra ou num atentado.
Na sequência do homicídio, as autoridades francesas prometeram “uma guerra contra os inimigos da República” e, na terça-feira à noite, Macron garantiu a intensificação de ações contra o islamismo radical.
A França recorda ainda os ataques terroristas de janeiro de 2015 contra o jornal satírico Charlie Hebdo, por esta publicação ter divulgado caricaturas do profeta Maomé.
Em finais do mês passado, um homem com uma faca atacou funcionários de uma agência de notícia que trabalhavam no edifício onde se situava a antiga sede do Charlie Hebdo, em Paris, tendo provocado vários feridos graves.
O autor do ataque, um cidadão paquistanês, foi detido minutos depois e confessou o crime.