Várias mesquitas em França prestaram esta sexta-feira homenagem ao professor Samuel Paty, assassinado há uma semana nos arredores de Paris por um extremista islâmico, cumprindo minutos de silêncio e proferindo palavras a favor da paz e da coexistência.
Samuel Paty, professor de 47 anos que lecionava as disciplinas de História e de Geografia em Conflans-Sainte-Honorine na região parisiense, foi decapitado na passada sexta-feira por Abdullakh Anzorov, refugiado de origem russa chechena de 18 anos, por ter mostrado caricaturas do profeta Maomé no início de outubro em duas aulas sobre a liberdade de expressão.
Abdullakh Anzorov, que seria abatido pela polícia no dia do ataque, reivindicou a sua ação numa mensagem áudio em russo, onde diz ter “vingado o profeta” Maomé, acusando o professor de o ter “mostrado de forma insultuosa”.
“Podemos discordar das caricaturas, mas nunca com violência, nunca com ódio; respeito pelos outros e pela vida humana”, disse o imã Hassen Chalghoumi, presidente da confederação francesa de imãs, em declarações aos jornalistas junto da mesquita de Drancy, onde foi observado um minuto de silêncio em memória de Samuel Paty.
Hassen Chalghoumi, um dos rostos mais conhecidos e também mais polémicos do islamismo moderado em França, que já foi ameaçado de morte por membros da ala fundamentalista, estava acompanhado por representantes da autarquia de Drancy, cidade localizada nos arredores de Paris.
Várias centenas de pessoas estiveram na mesquita de Drancy para as orações de sexta-feira, o dia principal da religião muçulmana. A grande afluência deveu-se em parte por causa do encerramento da mesquita de Pantin, a pouco mais de um quilómetro de distância.
As autoridades determinaram o encerramento da mesquita de Pantin depois da partilha nas redes sociais de um vídeo relacionado com o pai da aluna de Conflans-Sainte-Honorine que iniciou uma campanha contra o professor Samuel Paty.
“Venho a esta mesquita todas as sextas-feiras. Hoje, na oração, falaram do respeito pela sociedade, do laicismo, da coexistência. Vivo em França há 50 anos e nunca estive numa mesquita onde me disseram o que tinha de fazer. Rezamos e sentimo-nos mais próximos uns dos outros”, explicou Abderraman Habri, um muçulmano de origem argelina, em declarações citadas pela agência espanhola EFE.
A Grande Mesquita de Paris também prestou homenagem a Samuel Paty, com o imã a frisar, durante a oração de sexta-feira, que ninguém pode “tirar a vida que Deus tornou sagrada”.
“Não vamos fazer discursos inúteis. Agora temos de agir, e isso é uma responsabilidade dos muçulmanos e dos não muçulmanos”, defendeu Larbi Khaled, o imã da mesquita da capital francesa, em declarações à estação local BFM TV.
Em outras cidades francesas também foram ouvidas palavras de outros responsáveis religiosos a favor da liberdade de expressão, como foi o caso do imã da mesquita de Hérouville-Saint-Clair, Said Khalmi, que se referiu à questão como “um ponto fundamental dos valores de França”.
Durante a primeira semana de investigação deste caso, sete pessoas foram acusadas, seis das quais por “cumplicidade em assassínio terrorista”, incluindo dois adolescentes que terão indicado a identidade do professor ao agressor em troca de cerca de 300 euros.