A aceleração da pandemia em vários países europeus está a fazer a recuperação económica registada nos meses de verão “perder força mais rapidamente do que o previsto”. Este é o cenário descrito por Christine Lagarde, presidente do BCE, que indicou esta quinta-feira que irá haver uma “recalibração” das ferramentas de política monetária, ou seja, provavelmente haverá um reforço das medidas de estímulo monetário. Mas essa recalibração apenas deverá chegar em dezembro, diz a presidente do BCE, pedindo rapidez na entrega dos fundos europeus.

As declarações foram proferidas na habitual conferência de imprensa da presidente do Banco Central Europeu (BCE), organismo que esta quinta-feira manteve a política monetária inalterada mas, como se esperava, manteve a porta aberta para o lançamento de novos estímulos na próxima reunião periódica, em dezembro. Será nessa altura que o staff do BCE terá um novo conjunto de previsões económicas atualizadas, o que permitirá ao BCE tomar uma decisão mais fundamentada.

Lagarde não excluiu, porém, que possa haver reuniões de emergência, remotamente, entre os membros do Conselho do BCE. “Estamos prontos para isso, se for necessário”, indicou a presidente do BCE. Recorde-se que o programa de intervenção pandémica (PEPP) não foi lançado numa reunião periódica mas, sim, na noite de 18 de março, sem aviso prévio.

No comunicado lido por Christine Lagarde, a presidente do BCE indicou que vão continuar as compras de dívida pública ao abrigo do programa excecional de intervenção contra a crise pandémica – e essas compras vão ser “flexíveis” no que diz respeito à repartição “entre países” cuja dívida pública o BCE vai comprar nos mercados, o que é uma indicação clara do BCE de que o banco central vai contrariar eventuais movimentos de pressão sobre a dívida de países vistos como mais economicamente vulneráveis. Em reação a estes comentários, a taxa de juro a 10 anos de Portugal tocou os 0,111%, o nível mais reduzido desde o verão de 2019.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Bolsas derrapam. Investidores voltam a virar-se para o BCE à espera de mais estímulos

O BCE fará a sua parte para suportar as condições económicas, garante Christine Lagarde, mas sublinha-se que é “crítico” que os fundos europeus do NextGenerationEU cheguem “sem atrasos” às economias. Isto porque, diz Lagarde, “os riscos económicos pendem claramente, claramente, para o lado negativo”.

“O que vimos nos últimos seis meses é uma espécie de esforço dual entre política fiscal e monetária, que se reforçam um ao outro”, afirmou a presidente do BCE. “Claramente isso teve um impacto muito grande e contribuiu para mudar o sentimento que a maioria das pessoas que têm em relação à Europa. Mas o que importa agora é implementação, a execução e assegurar que os valores chegam realmente ao destino, porque isso vai ter um impacto na economia real”, acrescentou.