A Bugatti comprometeu-se, junto dos potenciais clientes, a produzir 500 unidades do Chiron, que transacciona a 2,5 milhões de euros a unidade, antes de impostos. Mas se esta actividade é lucrativa, apesar da imensa tecnologia que o fabricante francês incorpora no motor (um 8.0 com 16 cilindros e quatro turbocompressores), no sistema de transmissão integral e em todo o chassi, além do requinte a bordo, é nas edições especiais que parece residir a maior fatia do lucro, do Centodieci ao La Voiture Noire, passando pelo Divo, só para mencionar os mais recentes, cujos preços chegam a atingir 11 milhões de euros.
Sucede que a Bugatti tem um novo brinquedo para vender a um grupo muito restrito de clientes, aqueles que querem um carro de competição baseado no Chiron, mas sem concessões ao luxo ou ao conforto, projectado para ser extremamente veloz em pista. E com uma denominação a condizer, que os portugueses entendem na perfeição: Bolide (pronunciar à francesa, como se o “o” tivesse um acento circunflexo).
“Pegámos num Chiron e decidimos produzir um veículo mais aerodinâmico e mais baixo, o que conseguimos colocando o condutor numa posição mais deitada”, explica o director de design da Bugatti, Achim Anscheidt. Tudo o que é supérfluo desapareceu, sendo evidentes as entradas e saídas de ar para alimentar o motor e refrigerar os diferentes componentes, mas sempre com o objectivo de colar o veículo ao solo, para maximizar a eficiência na travagem e a velocidade de passagem em curva. Abundam os “X” na traseira, no tejadilho e até nos faróis, a assinatura do Bolide.
O motor continua a ser o bloco com 16 cilindros distribuídos em W, com oito litros de cilindrada que, soprado por quatro turbocompressores, consegue extrair 1600 cv se queimar gasolina convencional com 95 octanas. Mas o Bólide não foi concebido para ir à bomba, pelo que é alimentado com gasolina de competição, com 110 octanas, o que lhe permite um mapeamento mais agressivo e fazer disparar a potência para 1850 cv.
Enquanto a potência do motor era elevada, outros técnicos da equipa de Stefan Ellrott, o responsável máximo da Bugati Engineering, dedicavam-se a submeter o modelo a uma dieta extrema. O objectivo era baixar dos 2070 kg do Chiron, o que inclui 75 kg para o condutor, além do óleo e líquido refrigerante, para apenas 1240 kg.
Este corte de aproximadamente 740 kg foi conseguido à custa do requinte a bordo, incluindo os sistemas electrónicos que tanto agradam aos clientes que utilizam o Chiron na via pública, do sistema de navegação ao sofisticado ar condicionado, passando pelos sumptuosos revestimentos nos painéis de porta, tablier, tejadilho e até os tapetes. Os escapes passaram a ser mais simples, pois a necessidade de abafar o roncar do W16 desapareceu, mas são as peças em carbono e outras impressas em titânio em 3D que fizeram o milagre de assegurar que o Bolide tem uma relação peso/potência de 0,67 kg/cv. Curiosamente, a mesma que anuncia em binário/cv, pois também aqui o rácio fica em 0,67 Nm/cv.
É esta potência incrível, associada ao peso de um VW Polo, que faz do Bolide uma máquina capaz de ir de 0-100 km/h em apenas 2,17 segundos; para depois deixar os 200 km/h para trás ao fim de 4,36 segundos; os 300 km/h em 7,37; os 400 km/h em 12,08 e os 500 km/h em somente 20,16 segundos. De recordar que o Chiron, com 1500 cv, necessita de 32 segundos para ir de 0-400 km/h, valor a que o bólide retira uma fatia de quase 20 segundos. E se incluirmos a capacidade de travagem, o Chiron normal vai de 0 a 400 km/h, para depois travar de novo para 0 km/h, em 42 segundos, o que o Bolide cumpre em escassos 24,64 segundos. Mesmo nos 0-500-0 km/h, o Bolide não carece de mais que 33,62 segundos.
Montando pneus slicks de competição, com o splitter frontal (lábio inferior) regulável, bem como a asa traseira, o extractor na retaguarda com três níveis e umas bolhas insufláveis sobre a tomada de ar no tejadilho, para aumentar a velocidade do ar, gerando um efeito similar às bolas de golfe, o Bolide promete surpreender pela eficácia em pista.
Segundo Andy Wallace, ex-vencedor em Le Mans e piloto de testes da Bugatti, o novo modelo deverá conseguir descrever uma volta a Nürburgring nuns espectaculares 5.23,1, e percorrer uma volta no circuito que acolhe as 24 Horas de Le Mans em 3.07,1, batendo em 7 segundos o melhor tempo já conseguido na pista de La Sarthe. O preço do Bolide? Fica para mais tarde.