João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, afirma que, com uma média de quatro mil casos de Covid-19 por dia, dentro de dez a doze dias, os cuidados intensivos vão ficar sobrelotados. “Com quatro mil casos de Covid-19 por dia, e sabendo que cerca de 2,5% precisam da medicina intensiva, vamos ter 100 doentes críticos. Em 10 a 12 dias teremos mil doentes e os cuidados intensivos entrarão em colapso”, avisa, em declarações ao Expresso.

Portugal também vai ficar sem camas para “os outros doentes críticos”, isto se “não houver um achatamento da curva”. João Gouveia garante que, mantendo a restante atividade hospitalar, “só aguentamos cerca de 500 doentes Covid críticos ao mesmo tempo”, tendo em conta as atuais 900 camas de unidades de cuidados intensivos existentes. Nesta sexta-feira, estão 340 doentes Covid críticos internados. 

“Com todos os serviços a funcionar, a situação só é governável para os cuidados intensivos com cerca de duas mil infeções ao dia”, defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. E estes números estão bem longe dos que Portugal tem registado nos últimos dias. Esta sexta-feira, o Ministério da Saúde deu conta de mais 5.550 casos de Covid-19, mais 63 doentes hospitalizados, dos quais 20 em cuidados intensivos.

João Araújo Correia, ouvido pelo Expresso, considera que “é impossível manter a atividade programada”. “É preciso largar totalmente os restantes cuidados — mantendo apenas o indispensável“. Ao mesmo tempo, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna diz que é preciso “chamar mais médicos para a Covid-19, além dos internistas, intensivistas e infecciologistas.” E é a favor da utilização dos hospitais privados. “Já devia ter sido criada uma alternativa junto dos privados”.

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A contribuir para o aumento número de internamentos e de doentes em cuidados intensivos, está a idade dos pacientes, que dificulta ainda mais a gestão hospitalar: “Os doentes são mais jovens e quando estão internados ficam mais tempo, porque são menos os que morrem.“, aponta João Araújo Correia.

O Governo permitiu a suspensão da atividade assistencial não urgente durante o mês de novembro nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, se o plano de contingência do respetivo hospital assim o previr, segundo um despacho do Ministério da Saúde divulgado na passada quarta-feira.

Governo autoriza hospitais a suspenderem atividade não urgente no SNS durante o mês de novembro

Além disso, Marta Temido defendeu na passada quinta-feira que a ausência dos privados nos cuidados da Covid-19 acontece por razões “infraestruturais” e por motivos de “dificuldade e de incerteza”, rejeitando qualquer “prurido ideológico”.

Marta Temido aponta falta de resposta à doença nos setores privado e social