Uma temporada que começou mais tarde, que vai terminar mais ou menos na altura normal e que vai ter os jogos e as competições que teria se tivesse começado na data original. Uma temporada em constante overbooking, entre provas internas, internacionais e os compromissos das seleções. Uma temporada sem tempo para respirar, com jogos ao fim de semana, a meio da semana e frequentemente de três em três dias. E Fernando Santos é sempre o primeiro a recordar que os jogadores de futebol não podem — nem são — simplesmente jogadores de futebol.

“Vivemos em pandemia, os calendários estão apertados e ninguém tem culpa, mas há uma questão importante. Além do estado físico, os jogadores não têm tempo para estar com as famílias, que é importante, isso, pensar um bocado fora da caixa. Desde que estou aqui sempre dei a oportunidade aos meus jogadores de terem algum momento de lazer, para desanuviarem a cabeça, para estarem frescos, para me poderem ouvir porque eu às vezes sou um chato. E de repente nem eu posso fazer isso porque estamos aqui em bolha. Eles têm essa dificuldade e isso exige-lhes uma disponibilidade mental muito grande”, explicou o selecionador nacional, que em seguida reconheceu que seria “preferível” descansar esta semana, até ao jogo de sábado com França e ao de terça com a Croácia, do que ter um particular esta quarta-feira à noite.

Ficha de jogo

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Portugal-Andorra, 7-0

Jogo particular

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Alain Bieri (Suíça)

Portugal: Anthony Lopes, Nélson Semedo, Rúben Semedo, Domingos Duarte, Mário Rui, João Moutinho (Danilo, 74′), Renato Sanches (William, 63′), Sérgio Oliveira (Bernardo Silva, 45′), Trincão (Diogo Jota, 74′), Paulinho (João Félix, 63′), Pedro Neto (Cristiano Ronaldo, 45′)

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, Rui Silva, Rúben Dias, José Fonte, João Cancelo, Bruno Fernandes

Treinador: Fernando Santos

Andorra: Gomes, Jordi Rubio, Emili García, Rebés (Alavedra (59′), Adri Rodrigues, Marc Garcia (Moi San Nicolás, 45′), Pujol (Moreno, 80′), Marcio Vieira (Aláez, 59′), Kiki Martínez (Clemente, 69′), Cervós (Álex Martínez, 69′), Aaron Sánchez

Suplentes não utilizados: Silverio, Luigi San Nicolás, Blanco, Bernat, Cucu

Treinador: Koldo Álvarez

Golos: Pedro Neto (8′), Paulinho (29′ e 61′), Renato Sanches (56′), Emili García (ag, 76′), Cristiano Ronaldo (85′), João Félix (88′)

Ação disciplinar: nada a registar

“Em termos físicos penso que é um jogo que não traz benefícios, penso que seria preferível descansar e aproveitar a quarta-feira para recuperar. Mas temos de procurar nestas circunstâncias encontrar algum benefício. Que será entrosar os jogadores que não têm estado na Seleção, ver como eles estão em campo. A gestão que se fará passará por utilizar os jogadores e retirá-los do campo em determinada fase do jogo, para não cansar”, acrescentou Fernando Santos, realçando depois que este encontro com Andorra é obrigatório, tendo em conta as regulamentações da UEFA, porque outras seleções têm nesta altura três partidas seguidas a contar, entre playoff de acesso ao Euro 2020 e Liga das Nações.

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Assim, Portugal recebia esta quarta-feira, no Estádio da Luz, uma seleção que só venceu seis vezes em toda a história — três, se reduzirmos a contagem a jogos oficiais — e que nunca esteve numa fase final de uma grande competição. Na antecâmara de duas jornadas decisivas na fase de grupos da Liga das Nações, contra França e Croácia, Fernando Santos não surpreendeu e colocou em campo um onze alternativo, com muitas alterações e sem os nomes que são naturalmente titulares na Seleção. Pedro Neto, Paulinho e Domingos Duarte estavam no onze e realizavam a primeira internacionalização, com Trincão a juntar-se aos primeiros dois na frente de ataque. No meio-campo, junto ao experiente João Moutinho, estavam Renato Sanches e Sérgio Oliveira, enquanto que Mário Rui e Nélson Semedo eram os laterais. Anthony Lopes aparecia na baliza e Rúben Semedo era o outro central.

A primeira parte acabou por confirmar a dinâmica esperada: Portugal com a bola, a controlar por completo as ocorrências, e Andorra fechada no próprio meio-campo e num bloco muito coeso. Rúben Semedo e Domingos Duarte apareciam na metade adversária do relvado, os dois laterais estavam totalmente projetados para o ataque e tanto Renato Sanches como Sérgio Oliveira estavam poucos passos atrás dos avançados, com Moutinho a ser o médio que ficava mais atrás a acautelar transições rápidas. O primeiro golo português apareceu ainda antes de estarem concluídos os dez minutos iniciais: Nélson Semedo cruzou a partir da direita, Paulinho desviou ao segundo poste, Sérgio Oliveira tinha tudo para marcar mas ofereceu o lance a Pedro Neto, que rematou forte, abriu o marcador e estreou-se a fazer golo no dia da primeira internacionalização. Desde 1986, há 34 anos, que um jogador não demorava tão pouco a marcar o primeiro golo pela Seleção (na altura foi Coelho, que fez golo aos quatro minutos da estreia).

Desbloqueado o resultado, a lógica manteve-se. Andorra estava totalmente encerrada nos últimos 30 metros do relvado e deixava pouco espaço para Portugal imprimir a velocidade que o caracteriza. Assim, restava à Seleção ter paciência, trocar a bola de um lado para o outro e apostar nos passes verticais e a romper assim que encontrava um centímetro para explorar. Os movimentos de rutura apareciam principalmente do lado direito, onde Nélson Semedo estava particularmente inspirado e ou aparecia na grande área depois de combinar ou soltava cruzamentos para junto da baliza adversária. Foi assim, através desta segunda opção, que apareceu o segundo golo: cruzamento do lateral do Wolverhampton, rasteiro, e Paulinho apareceu ao primeiro poste a antecipar-se aos centrais e a desviar para aumentar a vantagem (29′). Depois de Pedro Neto, também o avançado do Sp. Braga marcava logo no dia da primeira internacionalização — tornando este o primeiro jogo da Seleção desde 1949 em que dois estreantes fizeram um golo.

Até ao intervalo, tanto Renato Sanches (31′) como Mário Rui (34′) ficaram perto de fazer o terceiro golo mas ambos atiraram por cima. Andorra sentiu o segundo golo e deixou de conseguir impor tantas restrições ofensivas à Seleção, que passou o último quarto de hora a asfixiar por completo o adversário. Nesta altura, adivinhava-se uma segunda parte sem enorme história, já que o resultado parecia estar algo decidido.

No início da segunda parte, Fernando Santos lançou a artilharia pesada e colocou Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva em campo. A história, como era expectável, prosseguiu: Portugal com quase toda a posse de bola, totalmente instalado no meio-campo adversário; Andorra a recuar cada vez mais, sem capacidade para sair a jogar e a aproveitar todos os momentos mortos e parados para desperdiçar tempo — e até recuperar algum fôlego.

O terceiro golo da Seleção demorou pouco mais de dez minutos a aparecer. Trincão recuperou uma bola no corredor esquerdo, solicitou Cristiano Ronaldo à entrada da grande área e o capitão soltou um passe em andamento para a zona central. Renato Sanches foi o primeiro a aparecer e rematou rasteiro para aumentar a vantagem (56′), sendo que Bernardo Silva aparecia logo a seguir em boa posição para também finalizar. O golo do médio do Lille abriu um período de maior intensidade e controlo da equipa de Fernando Santos, com Paulinho a bisar logo depois: cruzamento de Mário Rui na esquerda e o avançado do Sp. Braga, novamente a antecipar-se aos centrais, cabeceou para bisar no dia de estreia (61′). Paulinho, aos 28 anos, tornou-se assim o primeiro jogador a marcar dois golos na primeira internacionalização desde 2011, altura em que Rúben Micael fez o mesmo contra a Finlândia.

Fernando Santos reagiu ao avolumar dos números com outras duas duplas substituições, lançando João Félix, William Carvalho, Diogo Jota e Danilo. Cristiano Ronaldo sofreu duas grandes penalidades que não foram assinaladas, com o capitão português a reagir com sorrisos irónicos, e o quinto golo da Seleção acabou por aparecer por intermédio de um autogolo. Bernardo entrou na grande área com a bola controlada, vindo da direita, e procurou oferecer a Ronaldo — García apareceu primeiro e desviou para a própria baliza (76′).

Até ao fim, Cristiano Ronaldo também marcou, com um cabeceamento ao segundo poste depois de mais um grande cruzamento de Mário Rui (85′), e acabou por conseguir o golo que procurou incessantemente desde que entrou em campo. O jogador chegou aos 102 golos pela Seleção Nacional, aproximando-se um pouco mais dos recordistas 109 do iraniano Ali Daei, e João Félix ainda foi a tempo de fechar as contas (88′). Portugal goleou Andorra na Luz, como era de esperar, e a principal história que fica para contar é a de dois dos estreantes: Pedro Neto e Paulinho, que ficaram com uma recordação para lembrar quando forem avós.